Entre A Lei e O Amor

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|| André Oliveira ||

📍Rio de Janeiro, Salão de Reuniões da Facção, Sábado, 21:30.

Eu já vi muita coisa nessa vida, pra minha idade, até mais do que eu deveria, agora, uma mulher que coloca 30 homens embaixo do salto, sem sair da sua postura, é a primeira vez.

A Gabriela literalmente sambou na cara de quem tava duvidando da presença dela aqui, mas eu entendo, fica complicado ser a única nesse meio machista, ela teve que aprender desde cedo a se defender com as armas que tinha.

O jeito que ela fala, a convicção, a confiança, tudo faz com que ela faça eles se sentirem inferiores. Agora eu entendi todo o respeito que ela recebe por onde passa.

Já estávamos há 30 minutos nessa sala, Trovão deixou o assunto da bope pro final, tava resolvendo o financeiro e a parte burocrática primeiro.

A contabilidade de todos já tinham sido revisadas, a situação dos territórios também, o lucro da maioria crescendo cada vez mais. Só progresso pros nossos.

Gabriela tá já tem uns 10 minutos digitando sem parar no celular, enquanto isso eu, cabelinho e MB só observamos o Trovão puto porque o Lopes tá com as papeladas incompletas.

Respiro fundo enquanto bebo meu energético, e escuto o Trovão mandar o velho voltar pro lugar dele.

Trovão olha pra Gabriela, que assente com a cabeça e levanta, abre seu notebook ali na mesa, chamando atenção de todos, ela abre uma foto, e eu reconheço esse filho da puta de longe.

Freitas, foi meu melhor amigo toda a adolescência, até o pai levar ele embora, entrou na academia de polícia e virou outra pessoa, já tentou me matar 2 vezes, abandonou a mãe, e pelo que escutei estuprou umas 3 mulheres que não tiveram como comprovar pela importância dele na polícia.

— Doutora: Delegado Anthony Castro de Freitas, 30 anos, solteiro, filho do Juiz Freitas, atua na Polícia Militar do Rio há 6 anos e atualmente assumiu as investigações sobre o Comando Vermelho - ela diz calma enquanto observa todos os homens nessa sala terem a mesma reação.

Trancar o maxilar, respirar fundo e cerrar os punhos.

— Doutora: desde 2020 ele vem investigando sobre vocês, tem um X9 aqui dentro da facção, pessoas da confiança dele em cada um dos morros, e também um hacker que tem informações até sobre a hora que vocês transam - ela diz calma fechando o notebook e bebendo um gole do copo dela - eu não consigo entender como porra vocês são bandidos, na moral, esse cara já poderia ter derrubado a facção há 1 ano, o que me deixou curiosa o suficiente pra procurar o porque isso ainda não aconteceu - pela primeira vez na noite ela olha diretamente pra mim e encara meus olhos - me conta Coringa, porque o Freitas ainda não nos derrubou.

Filha da puta, jogou a bomba no meu colo, todos os olhos viraram para mim, respirei fundo apagando a ponta do meu baseado e me levanto da cadeira passando a mão no cabelo frustrado.

— André: porque esse pau no cu quer me derrubar primeiro doutora, ele fez uma promessa da última vez que nois se trombou, ia tirar tudo que eu tenho pra depois me matar - suspiro e percebo que vou ter que falar mais que isso - não tenho muita explicação pra dar sobre isso não porra, nois era pique irmão na adolescência, confiava naquele verme de olho fechado mermo, mas dai o pai dele brotou, levou ele lá do jacarezinho e ele se transformou nesse pau no cu que é hoje - ela assente como quem já sabia de tudo que eu contei.

— Víbora: calma aí doutora, tu falou esse proceder certo mermo? Tem 2 anos que esse pau no cu vigia nois? - falou pela primeira vez com a voz tensa e ela confirmou - porra menor, como nois não notou?