"Vamos, me mate lentamente com o seu amor, e eu tentarei ser o suficiente para você."
- Homicide Love
Capítulo 1
Algo que aprendi desde cedo é que lembranças moldam a nossa vida. Nossas memórias são o que realmente nos tornam quem somos. Pequenos acontecimentos que parecem não ter importância naquele segundo exato, mas que te mantém em uma direção totalmente diferente no futuro.
Havia uma lembrança muito forte em mim, é a primeira que eu tenho, como se ali eu descobrisse que era um ser humano. Eu tinha quatro anos, meus irmãos brincavam do lado de fora da minha casa e eu tinha meus cabelos sendo penteados por Greta, minha babá principal. Da janela do meu quarto, eu conseguia ver todo o bosque e gramado particular que tínhamos atrás da mansão. É a li que começa a minha memória, como se ali começasse a minha vida. Eu lembro de me virar para Greta - uma mulher negra, com seus trinta e poucos anos, com o cabelo crespo preso em um coque bastante alto, e fala engraçada - e perguntar:
_ Quando terminarmos de me aprontar, posso ir lá brincar com eles?
Greta arregalou os olhos, parando de pentear meus cabelos e balançou a cabeça com fervor em negação.
_ Claro que não, princesinha. Meninas não brincam com meninos. Ainda mais aquele tipo de brincadeira.
Eu suspirei, voltando a olhar pela janela, chateada com a resposta que tive.
Meninas não brincavam com meninos. Mas meninos brincavam o dia todo - resmunguei em pensamento.
Mas o que mais eu aprendi naquele dia foi: eu nunca terminava de me arrumar. Sempre havia algo mais a se fazer em mim, a se aprontar, a ser ensinado.
Dali em diante eu lembro de tudo da minha vida. Minha mãe achava engraçado, já meu pai dizia que era um talento.
Memória fotográfica era como ele chamava.
Mas apesar de tudo eu ainda era muito confusa, ainda entendia porque não podia brincar com meus irmãos, não entendia porque não podia entrar no escritório de papai e também porque minha mãe com tanto afinco me ensinava sobre história.
E então eu tinha mais uma lembrança. No começo dos meus nove anos, aquilo foi o que moldou minha vida por um tempo, eu acho que poderia ser o que moldaria meu futuro inteiro se não fossem acontecimentos seguintes.
Aos nove anos eu fui iniciada a minha vida - segundo o que meu pai chamou aquela conversa que tivemos na noite do meu novo aniversário. Eu fui ensinada que minha família era um pouco diferente da dos demais. Nós éramos uma máfia. Vivíamos sobre regras diferente do resto do mundo. Mandávamos e desmandávamos, armas e facas eram a nossa forma de comando sobre as outras pessoas.
Éramos isolados do resto da sociedade porque ninguém podia saber que estávamos ali. Tínhamos inimigos em toda parte.
Meu pai era o chefe da Casone, a nossa família, que era ligada a várias outras famílias que faziam parte da mesma facçao.
Eu me lembro de me sentir importante, e não com medo ou algo assim. No fundo eu sempre gostei de tudo aquilo, de fazer parte de algo grande, de ter regras absurdas apenas baseadas em lealdade, mas total livre arbítrio para soluções.
Eu finalmente entendi que meu pai era um homem ocupado, ele ajudava a controlar um mundo inteiro. Meus irmãos não estavam brincando do lado de fora, eles estavam treinando, um dia seriam chefes de algo. Mesmo tão novos já eram parte importante de nossa família.
E eu, bem cedo também, me tornei importante.
Foi um dia antes do meu décimo aniversário, papai me levou para o escritório onde as conversas sérias eram realizadas. Eu me sentei no sofá do canto enquanto papai se servia de wisky do pequeno bar. Ele deu um longo gole antes de começar, como se estivesse se preparando para uma luta, tentando controlar os nervos.
_ Estamos numa berlinda - foi como ele iniciou tudo.
Primeiro falou sobre como uma máfia rival estava tentando tomar seu territorio, assim como a Casa Nostra - a atual máfia mais poderosa - havia se tornado internacional em nosso país agora, outro máfia estava tendo também. Papai estava em menor número após ataques e invasões sem aviso prévio.
Eu tinha nove anos - quase literalmente dez - mas entendia o sentido claro da conversa: papai precisava de ajuda, e de alguma forma eu poderia ajudá-lo.
_ Você irá se casar com o filho mais velho de Carrick Traveland-Grey.
Eu podia ser uma criança, não entender muito do mundo e de política, mas até mesmo eu sentia o arrepio em cada centímetro de meu corpo ao ouvir aquele nome.
O líder da Casa Nostra. Quem comandava as famílias - eram a máfia de cada estado que fazia parte da Casa Nostra na Itália. Carrick e seus três filhos homens eram o marco da década.
Atualmente a mais poderosa de todas, com quase cinco mil membros e mais de centenas de famílias, a Casa Nostra atingindo a América agora. Tentando conquistar território. Eram notícia em todo o mundo e o centro das reuniões em forma de festa.
Eles eram poderosos, mas acima de tudo, perigosos.
Quem conseguia fazer parte, estava feito, porem, eles nunca deixavam ninguém entrar de verdade. Sem contar nas regras e leis completamente absolutas, onde não havia distinção entre criança, mulher ou homem. Todos pagavam na mesma moeda.
_ Não sou muito pequena, papai? - questionou, tentando controlar o nervosismo e o lábio inferior tremendo.
Meu coração batia como um helicóptero.
Papai caminhou até mim, deixando o copo vazio sobre a mesa enquanto andava.
_ Não irá se casar agora, querida - falou enquanto se ajoelhava a minha frente, pegando uma de minhas mãos. - O noivado será apenas para expor o acordo para o mundo, apenas se casará com a maioridade, foi uma exigência minha e até mesmo do filho de Carrick.
Balancei a cabeça concordando.
Era um sacrifício dali alguns anos, mas eu sabia que não importava o tempo que passasse, jamais recusaria ajudar sua família.
Um acordo havia sido feito com outra máfia então, num juramento selado elas se juntariam se formando apenas uma.
_ Eles chegarão essa noite. Amanhã, em sua festa de aniversário, será selado - meu pai explicou, pegando minha outra mão e juntando as suas. - O que é com sangue selado, somente com a morte pode ser quebrado.
Era um juramento antigo que aprendi antes mesmo de saber ler. Um acordo selado entre as máfias jamais era quebrado, a não ser se alguma das partes principais morresse. Nosso sangue era algo mais que importante em todo aquele meio, tudo era sobre ele.
_ Vou honrar nossa família, papai, eu prometo - respondi. - Vou fazer tudo certo.
Meu pai sorriu apesar dos olhos parecendo tristes, se inclinando para me dar um beijo na testa.
_ Você sempre será a minha garotinha, não importa o que aconteça.
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50 Tons de uma Máfia
FanfictionUm acordo une Ana e Christian em matrimônio, mas o mundo deles vai muito além de um casamento arranjado.