Akemi deu um longo e relutante suspiro antes de abrir caminho até o quintal, sendo seguida pelo garoto com o moicano azul. Eles saíram pela porta da cozinha, indo direto para o quintal dos fundos, onde ficava a piscina da casa. Akemi parou, erguendo a cabeça pra o céu, como se a lua fosse lhe dar o direcionamento certo para aquela conversa. Algo quente tocou sua mão, a puxando levemente para trás.
Falcão queria que sua amiga o olhasse, que tivesse uma conversa de verdade com ela, como nos velhos tempos. Mas Akemi não tinha certeza se conseguia fazer isso sem iniciar uma briga com o garoto, e isso lhe causou um grande aperto no peito, muito parecido com o que sentiu após a briga com Ren. Não podia negar que desde que chegou em Los Angeles, Eli Moskowitz, ou Falcão, se tornara uma das pessoas mais importantes da sua vida.
Quando estavam juntos, Akemi se lembrava da infância com seu irmão, que tinha uma personalidade quieta como a do antigo Eli. Era bom estar com o garoto. As tardes estudando química, as conversas durante as aulas e as discussões com Demetri durante o intervalo, onde o "pequeno" Eli fazia questão de estar ao seu lado, para que o outro garoto ficasse verdadeiramente irritado. O tempo onde o Cobra Kai não era um problema, e quando o Falcão não tratava as pessoas como um completo babaca.
A evolução dele, na visão de Akemi, foi realmente incrível no início. O encontrar nos lugares e não o ver tampar sua cicatriz, orgulhoso e confiante. Nunca ficara tão feliz pelo garoto como quando o encontrou pela primeira vez, após sua mudança radical. O problema é que o Falcão não tinha mais nada a ver com o Eli, a não ser pela cicatriz. Eram duas pessoas completamente diferentes e Akemi ainda estava aprendendo a lidar com a mais nova versão do melhor amigo. Ela só não esperava que o Falcão seguiria a mesma ideologia de garoto briguento que o Kyler, o que incomodava tanto no seu antigo eu, que ele tinha medo de ir no shopping e acabar esbarrando com o seu maior inimigo no caminho.
Akemi gostava do Falcão, mas ela odiava o jeito que ele tratava as pessoas. Mesmo se o perdoasse, não mudaria muita coisa. Falcão continuaria sendo Falcão, sem compaixão, como seu sensei lhe ensinara.
- Pode olhar pra mim?
Ele pediu, a voz em um tom calmo, mas parecida com um sussurro. Akemi encarou a Lua por mais alguns segundos, quase implorando por sua ajuda. Depois, virou-se para o antigo amigo. Seu rosto estava sério, iluminado pela luz da varanda atrás deles. Hoje, a cicatriz acima do seu lábio parecia estar um pouco mais avermelhada, mas Akemi imaginou que fosse o efeito da luz. Os olhos de Falcão estavam fixos nos dela, demonstrando uma mistura de sentimentos que Akemi não conseguiu identificar. Ali, naquele segundo perfeito, ela acreditou que fosse o Eli, não o Falcão.
- Quero que volte a falar comigo. - ele deu um passo a frente, se aproximando mais dela. Tirou o celular do bolso, desbloqueando e mostrando a tela de uma conversa com mensagens não respondidas. - Faz quase um mês, Kemi.
Kemi... o apelido do seu grupo de amigos para ela. Os únicos que a chamavam assim. Miguel, Eli e Demetri. Fazia algum tempo que ela não ouvia Falcão a chamar assim. Na verdade, a última vez em que conversaram de verdade, sem discussões ou intrigas, foi na festa que Aisha fez no píer.
- Por quanto tempo vai me ignorar? Eu não fiz nada pra você estar brava comigo. Eu entendo você estar ignorando o Miguel por causa do soco, mas eu? Eu não fiz nada.
Akemi riu, balançando a cabeça negativamente e desviando o olhar para a cozinha. Pela janela, dava para ver Robby, que tinha o olhar fixo nos dois e um rosto incrívelmente sério. Ele parecia estar julgando Falcão mentalmente.
- Não fez nada? Não seja egocêntrico, Falcão.
- Não gosto de quando me chama assim.
- O que? Pelo seu novo nome? - ela ergueu as sobrancelhas. - Logo agora que aceitei que você não é mais o Eli?
A expressão no rosto do garoto mudou. Ele estava mesmo triste ao ouvir aquilo.
- Não sou?
- É claro que não. - ela sussurrou, a voz quase inaudível, imundada em tristeza. Ela não queria acreditar no que acabara de dizer.
- Ainda sou seu melhor amigo, Akemi! Não pode continuar me ignorando por nada. O que é isso? Um voto de silêncio pelo que eu fiz com seu amiguinho no torneio? Ele pediu por aquilo! Você deveria estar do meu lado.
- Ele pediu? - ela repetiu, desacreditada. - Está me dizendo que o Robby pediu pra você acabar com o ombro dele!? Você por acaso escuta as coisas que diz?
- Então é por causa dele? Está me ignorando por causa daquele idiota?
- É, Falcão! É exatamente por causa disso! Com certeza não é porquê virou um grande babaca!
Ele deu um passo para trás, franzindo as sobrancelhas.
- Eu não sou um babaca. Sei que ele é seu amigo, mas o Miguel também é. E aquele cara estava dando em cima da namorada dele, que agora, é a ex. Em vez de ficar o defendendo, deveria estar consolando Miguel.
- Consolar o Miguel? Por que ele achou que o Robby estava dando em cima da Sam? Você por acaso se esqueceu que eu levei um soco por causa dessa idiotice?
- Não teria acontecido se o Robby não tivesse levado a Sam na festa. Tudo estaria muito diferente agora. Você não estaria brigando comigo e defendendo aquele cara.
Akemi suspirou, cansada daquela conversa.
- Eu pedi pro Robby buscar a Sam porquê ela não atendia o telefone e o Miguel estava preocupado. Eu chamei o Robby para a festa, porquê queria que você e os outros conhecessem o garoto que eu gostava. - Falcão ergueu as sobrancelhas, surpreso. - Robby e eu estamos namorando.
Ele abaixou a cabeça. Os punhos se fecharam e a expressão se tornou séria, por mais que Akemi não conseguisse vê-la por completo. Segundos depois, quebrando o silencio, Falcão sussurrou:
- Desculpe por não ter sido um bom amigo. - ele voltou a olha-la. - Não escolhi virar o Falcão só pra ser radical ou atrair garotas. Queria saber lutar pra poder te proteger, como você me protegia do Kyler. Não acho que posso me dar bem com seu namorado, mas quero voltar a me dar bem com você. Você é o motivo disso tudo, Kemi.
Ele fez uma pausa, esperando pela resposta da garota. Akemi não sabia o que dizer. Ele mordeu os lábios, ansioso.
- Não acredito que vou dizer isso, mas... Por favor, volte a me chamar de Eli.
Akemi não conseguiu conter a risada. Os dentes brancos surgiram em sua boca, deixando espaço para as covinhas nas laterais das bochechas. Falcão revirou os olhos, segurando o sorriso que aos poucos crescia em seu rosto.
- Vou pensar no seu caso, Eli.
- Só não abusa, ta legal? E não conte pro Demetri.
Ela assentiu, risonha. Falcão a abraçou, os braços envolvendo o seu pescoço e a puxando para perto. Surpresa, Akemi aceitou, mas não conseguiu fazer muito mais do que tocar suas mãos no peito do garoto, já que estava presa de baixo dos seus braços. Ele se afastou, o sorriso meigo e engraçado de sempre no rosto.
- O Cobra Kai vai à praia amanhã. O que acha de ir com a gente? Pode ser a chance pra voltar a falar com o Miguel.
- Não vai dar. Eu vou precisar limpar a piscina amanhã.
- Você mente mal.
- Bom, então não preciso mentir. Eu não quero ir à praia.
- Por causa do Cobra Kai?
- Não. Na verdade, eu não me importo nem um pouco com eles.
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Sol & Lua - Cobra Kai - Livro 1
Novela JuvenilUma mudança repentina de país fez com que Akemi tivesse que se adaptar a um novo local. Vizinha dos LaRusso, sendo considerada membro da família por Daniel no mesmo instante em que ele recebeu a notícia de que a neta do seu antigo sensei estaria ind...