Just Breathe

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Nicole parecia não acreditar no que  estava acontecendo. Numa tarde chuvosa, no meio da Gale Library, o professor Christian Taylor estava sentado à sua frente, declamando poemas de e.  e.  cummings. Até  poderia  imaginar  que  aquilo  era  um  sonho,  não  fosse  pelo  frenesi  que sentia toda vez que seus olhos se encontravam. Nunca uma pessoa tinha lhe causado tamanho descontrole   físico   e   emocional.   Por   vezes,   sequer   conseguia   ouvi-lo.   Ficava   perdida, admirando aquele homem de testa larga, nariz comprido e afilado, queixo proeminente e rosto milimetricamente  liso.  E  sempre  que baixava um pouco  o  olhar,  sentia  que  era  fuzilada por Christian, num misto de medo e desejo. Por sorte estavam sozinhos, pois qualquer um que ali entrasse sentiria o império dos feromônios. 

   —  Você  gosta  de  cummings?  —  Christian  surpreendeu  Nicole  com  a  pergunta,  fechou  o livro e dirigiu-se até ela. 

   — O quê? — questionou-o, ainda perdida em seus desejos mais íntimos. 

   — Eu perguntei se você gosta de cummings. 

   — Gosto muito! "Chamar a si todo o céu com um sorriso"... — disse Nicky, citando o verso lido havia pouco e sentindo que todo o céu estava diante dela, vendo Christian com o sorriso aberto, em majestática beleza. 

   — Que bom que você gosta. Qual é o seu nome? 

   —  Nicole.  Nicole  Thompson.  Mas  pode  me  chamar  de  Nicky.  É  assim  que  todos  me chamam. 

   —  O.k., Nicky. Meu nome  é  Christian... —  ele não  conseguiu  concluir,  interrompido pela jovem. 

   — Taylor. Eu sei. Fiquei sabendo que você irá ministrar palestras de História na Wachusett. 

   — Vejo que você está bem informada... 

   —  Eu  sempre  procuro  saber  mais  sobre  aquilo  que  me  interessa  —  afirmou  Nicole, resoluta. 

   — O que eu devo entender por isso? 

   — O que achar melhor. 

   — Se eu lhe dissesse o que realmente é o melhor, acredito que ficaria decepcionada. 

   — E por que eu ficaria decepcionada? — perguntou Nicky, que já não tirava mais os olhos de Christian. 

   —  Porque,  na  maioria  das  vezes,  o  que  é  conveniente  não  reflete  aquilo  que  realmente estamos sentindo. — Christian se acomodou na cadeira, levou a mão ao queixo e assumiu um ar  professoral.  —  É  a  lei  da  vida  em  sociedade...  antes  uma  mentira  conveniente  que  uma inconveniente sinceridade. 

— Então seja inconveniente, professor Taylor. 

   — Por favor, não me chame assim... — ele sorriu, levemente ruborizado. Odiava quando o chamavam dessa forma. Sentia-se mais velho. — Me chame apenas de Christian. 

   —  Tudo  bem,  Christian.  Seja  inconveniente...  —  Nicole  parecia  provocar-lhe  com  ardis semânticos da melhor qualidade. 

   — O.k.! É você quem está pedindo... — Christian não fugia às boas provocações. — Seria uma inconveniência perguntar a uma jovem aluna a sua idade? 

   — Em primeiro lugar, Christian, devo dizer que aqui, assim como você não é o professor Taylor,  eu também não  sou uma  aluna. — Nicky passou  a mão pelos  cabelos  loiros,  finos  e lisos,  deixando  revelar  sua  delicada  orelha,  adornada  por  um  filete  de  pequenas  pedras brilhosas.  —  Em  segundo  lugar,  seria  uma  inconveniência  não  fazer  tal  questionamento, já que, com meus dezessete anos, provavelmente eu tenho idade para ser sua filha. 

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