36 Ethan

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Faz algum tempo desde que eu e a Bia voltamos da casa dos pais dela, e graças a Deus sem nenhum buraco de bala no meu corpo, nos últimos dias da viagem o pai dela pareceu bem mais tranquilo, não que ele estivesse morrendo de amores por mim, pra ser sincero tenho quase certeza que ele ainda sente vontade de me dar alguns tiros, a mãe dela por outro lado continuou sendo supersimpática comigo. Escuto meu celular tocar e vejo quem é. Falando em mãe.

- Oi mãe – Digo.

- Depois de tanto tempo sem me ligar é só isso que tem pra me dizer? "Oi mãe", é isso que dá, a gente carrega a criança nove meses na barriga para no final sermos abandonadas - Eu rio.

- Mãe para de drama, eu só fiquei duas semanas sem te ligar -

- E você ainda acha pouco? Você é meu único filho, eu sinto sua falta -

- Também sinto a sua, mas já estava na hora de morar sozinho, eu já tinha conversado com você sobre isso -

- Ainda não me acostumei com o fato de você não morar mais aqui, claro que tem lá suas vantagens como não ter mais que lavar suas cuecas -

- Mãe, qual é? -

- Só estou sendo sincera - Ela diz rindo, minha mãe é mesmo uma figura – Agora me explique, por que foi que você abandonou sua mãe? -

- Eu já disse que não te abandonei, eu viajei com minha namorada para poder conhecer os pais dela -

- Sendo assim eu te desculpo, mas se ficar de novo tanto tempo sem me ligar vou até aí só pra puxar sua orelha -

- Ok, entendi, não precisa se preocupar -

- É bom mesmo - Faz uma pausa - Nem acredito que meu filho finalmente tomou juízo, mal posso esperar para conhecer a moça que conseguiu fazer essa proeza -

- Acho que você vai gostar dela - Sorrio e faço uma pausa – E como está o pai? –

- Ele está bem, tem trabalhado um bocado, e agora que você não está mais aqui eu fico sozinha rodando pelos cantos dessa casa vazia - minha mãe ama fazer um drama acho que já deu pra perceber isso. Meu pai é advogado assim como meu tio, eles se conheceram no primeiro ano da faculdade e viraram amigos, ele já foi até convidado pra trabalhar aqui, tanto por meu tio como por outras empresas, mas ele sempre negou, fala que não se vê morando em outro lugar além do Texas e que já tem uma vida toda construída lá, além disso, ele diz que gosta de ajudar em pequenos casos como autônomo, acho que sempre gostou dessa profissão, ele foi um dos motivos para eu escolher estudar direito. Ele conheceu minha mãe quando foi fazer um trabalho junto com tio Victor na casa dos meus avôs, nesse dia ela estava cochilando no sofá da sala, quando meu pai chegou acabou não a vendo e se sentando em cima dela, ela acordou assustada e começou a estapeá-lo, então ele pediu milhões de desculpas, mas minha mãe do jeito que é começou a brigar, segundo ele foi esse jeito arisco dela que o encantou, pelo que ela conta no início quando começaram a conversar ela vivia dando um gelo nele por achá-lo muito metido, mas meu pai não desistiu, começou a inventar desculpas para aparecer cada vez mais na casa dela, aos poucos ele foi conseguindo conquistá-la, meu tio até deu uma ajudinha, depois de algum tempo ele a pediu em namoro, e minha mãe sendo como é disse que não, mas ele não se deixou levar, teve que fazer o pedido umas dez vezes e cada uma de uma forma diferente até minha mãe finalmente dizer que sim, ela diz que queria fazer ele sofrer um pouquinho e ver até onde iria pra conseguir ficar com ela, também queria saber se ele queria mesmo ter algo sério ou se ia aceitar a negativa, mas meu pai sempre foi muito determinado com tudo o que queria, acho que puxei isso dele, depois disso eles namoraram durante alguns anos até que minha mãe fez o pedido, ela descobriu que meu pai tinha comprado a aliança, mas ela disse que queria fazer algo diferente e que esse negócio de só o homem poder fazer o pedido já estava ultrapassado, mas ao contrário da minha mãe, meu pai aceitou na mesma hora, eles sempre riem muito quando contam essa história, desde então eles tem sido muito felizes.

- Não pode ser tão ruim assim – Digo.

- Mas é, eu não tenho nada pra fazer aqui. Sinto falta de quando você era criança, pelo menos naquela época eu tinha que ficar correndo atrás de você que vivia se machucando e quebrando as coisas dentro de casa no meio das suas brincadeiras, você era muito atentado é um milagre divino você ainda estar inteiro -

- Também não é pra tanto -

- Não? Se lembra quando resolveu brincar de bola dentro de casa, apesar de eu ter dito um milhão de vezes pra não fazer isso? Você acabou quebrando um vaso de flores, e se não bastasse isso tentou esconder os cacos e acabou cortando sua mão, e claro não vamos esquecer de quando você saiu para tentar andar de skate e voltou com a perna quebrada - Tudo bem ela tem um ponto, admito que eu aprontava um pouco quando era pequeno, continuo conversando com minha mãe durante um tempo, depois de nos despedirmos desligo o telefone.

Na semana passada eu fui à casa da Bia para passar o final de semana com ela como já é de costume pra nós desde que começamos a namorar, estávamos assistindo televisão quando do nada ela correu para o banheiro e começou a vomitar me deixando um pouco preocupado, não foi a primeira vez que ela sentiu esse mal-estar, ultimamente tem acontecido com muita frequência, ela insiste em dizer que tudo não passa de uma intoxicação alimentar, mas, mesmo assim, a fiz me prometer que iria ao médico para se certificar. Hoje é sábado, estou esperando por alguma mensagem ou ligação da Bia dizendo para nos encontrarmos, mas por alguma razão até agora não tive nem notícias dela, então decido ligar para sua casa, o telefone toca diversas vezes, mas ninguém atende estranho ela não me disse que sairia, onde será que ela está? Resolvo ligar para o celular dela.

Por vocêOnde histórias criam vida. Descubra agora