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DÉCIMO PRIMEIRO DIA NO CÉU

Viva baby viva

Agora que o dia acabou

Eu tenho essa sensação nova

Nos momentos perfeitos

Impossíveis de recusar

(New Sensation, INXS)

Foi numa manhã , quando acordei mais cedo que o habitual e olhei pela janela da cozinha

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Foi numa manhã , quando acordei mais cedo que o habitual e olhei pela janela da cozinha. Mesmo cedo, o sol já brilhava no céu queimando cada espaço de concreto da rua Paraíso. Os pássaros cantavam mais alto, o cheiro de peixe das docas se intensificava e os mosquitos irritantes cortavam o ar diante dos meus olhos. Foi aí que eu soube que era verão, mesmo sem me dar conta de que dia de junho estávamos.

O tempo passa rápido demais. Sempre passou. Cada novo segundo deixa para trás uma versão antiga e menos madura de nós, preparando-nos para os segundos que virão em seguida. E é aterrorizante se dar conta de que muitos deles já passaram enquanto sua vida permanece estagnada no lugar. Mesmo com todas as mudanças, ainda me sentia o mesmo. Aquele verão marcaria o início do meu último ano de adolescência e, apesar disso, não me sentia pronto para ser adulto.

Quando o verão chegou, completou-se um mês que minha vida saiu dos eixos e, de maneira inesperada, se encaixou em um novo trilho. No entanto, me fez perceber como que perdi tempo tentando ser quem não era e jamais seria. Imaginar como minha vida teria se seguido se eu tivesse tomado esse caminho antes é uma armadilha fatal. Minha imaginação me prende e me carrega no meio de um mar de possibilidades, sem boia alguma para me salvar do afogamento.

Por isso, me cabe apenas admirar o passado da mesma forma que se admira um filme na tela do cinema. Ele está lá para ser lembrado e para ensinar. Se não puder tirar lição alguma, não valeu a pena. Se não puder errar para entender como fazer o certo, não valeu a pena.

O passado tem cheiro de páginas mofadas dos livros da biblioteca. Eu sempre evitei os livros, então acho que esse tipo de coisa se conecta. Mas eu aprendi a respeitá-los com o passar do tempo. É isso o que importa.

O verão não é uma estação de recomeços e restaurações, como o inverno ou outono. Porém, sem sombra de dúvidas, foi uma estação de mudanças para todos nós.

Quando as férias começaram, Jongin e Kyungsoo mal trocavam uma palavra um com o outro, mesmo estando com o grupo. É claro que ninguém percebia. Joy era barulhenta o bastante para nos distrair, Sehun ainda tinha toda sua aura magnética que atraía como imã, Baekhyun e eu implicávamos o suficiente para que pudessem agir como se tudo estivesse normal.

Eu lembrava da conversa esquisita entre eles. Só não sabia bem como associar as coisas, ainda.

Levamos a televisão do quarto de Jongin para o clube e passamos tardes inteiras assistindo filmes alugados. Curtindo a vida adoidado, De volta para o futuro, Star Wars, Gatinhas e Gatões, Halloween... cada um escolhia seu gênero e levávamos um para cada, juntando nossas últimas moedas sobrando para pagar os aluguéis. O cara da locadora confiava na gente o bastante para permitir que pagássemos depois em algumas vezes, mas arranjamos uma briga quando deixamos de devolver um dos filmes. O clube dos cinco. Dava para entender, se pensar bem. Não conseguíamos desgrudar dele.

Crônicas de um lugar distante do paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora