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PRIMEIRO DIA NO FIM DO MUNDO

Onde vivia um caipira chamado Johnny B. Goode

Que nunca havia aprendido a ler ou escrever muito bem

Mas conseguia tocar violão como se tocasse uma campainha

(Johnny B. Goode, Chuck Berry)

Eu sempre vi a vida como uma consequência

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Eu sempre vi a vida como uma consequência. Um conjunto de atos que geram outros, que nos forçam a tomar decisões e torna tudo mais difícil. A vida, no geral, é bem difícil.

No momento em que nossos olhos cruzaram, eu percebi que a vida era um tornado. Você nunca conseguirá prever o que vem em seguida, independente do que aconteceu antes.

Na vida, também há o caos. O bater de asas de uma borboleta, o gatilho inicial. Ele é insignificante no seu início e não se pode adivinhar como vai se desenvolver até a catástrofe. Mas é o significado mais justo e correto para o que é viver. Viver começa como uma pequena borboleta e termina no tornado. Viver pode parecer insignificante, mas é uma tempestade.

Essa é a história de como eu me tornei a catástrofe e causei, desde o voo da borboleta até o tornado. É a história de um lugar chamado Paraíso; de um garoto com um sonho e uma família formada por acaso.

Uma manhã em casa era como acordar em um zoológico — ou um prostíbulo. A gritaria de minhas irmãs mais velhas começava cedo. Taeyeon, Hyoyeon e Yoona eram selvagens quando queriam. Mas, felizmente, eu consegui me acostumar depois de dezoito anos dividindo o mesmo teto.

Era o final da primavera, mas já estava quente o bastante para me acordar. A primeira coisa que passou pela minha cabeça quando eu abri os olhos, foi que eu não precisava mais ir para o colégio, então tanto faz a hora que iria me levantar. Em seguida, a ficha caiu. Eu deixei a escola. A decisão tão abrupta e inconsequente pesou em meus ombros. De repente, me senti enjoado.

Unnie, você está aí há horas! — Taeyeon reclamava, batendo sem parar na porta do banheiro. — Vai acabar com toda a água quente.

As batidas contra a porta de madeira eram tão fortes que faziam as paredes tremerem. Morávamos em um porão, embaixo de outra família, os Do, e as farpas de madeira das vigas que sustentavam o teto caíram em meus olhos. Era o sinal de que eu não podia congelar no lugar por muito mais tempo, ainda que a minha vontade fosse a de choramingar pelo resto do dia. Era a hora de levantar e encarar o que quer que viesse em seguida.

Meu quarto era um cubículo com espaço para dormir, um armário pequeno e só. Era uma pequena sobra do corredor, mas era o suficiente. Não tinha janelas, então assim que o deixei, a claridade do dia, vinda de uma veneziana rente ao teto, fez meus olhos arderem. No corredor estreito, Tae e Hyo reclamavam pela demora de Yoona no banheiro.

Crônicas de um lugar distante do paraísoOnde histórias criam vida. Descubra agora