Nada do que seguiu fez sentido a Sophia.
Demorou para que os professores conseguissem retirar todos do estádio e mandá-los para suas Casas. Alunos gritavam, meninas choravam, e muitos se encontravam apenas em choque. Sophia não conseguia apagar aquela imagem amedrontadora de sua cabeça; o corpo de Cedrico pálido, imóvel, seus pais agarrados e histéricos...
Ninguém parecia conseguir formar alguma frase completa. De volta à Sala Comunal da Corvinal, o grupo de amigos se sentou em um canto afastado. Sophia e Georgie soluçavam, desamparadas, e os meninos as abraçavam, sem saber o que dizer. Não faz sentido, Sophia repetia. Algumas horas antes, havia visto Cedrico no Salão, animado, rindo com seus amigos... E agora... Ela não conseguia nem completar o pensamento.
O resto da noite foi um borrão. Sophia não demorou muito para subir ao dormitório, tomar uma bela dose de Poção do Sono e cair no sono encantado livre de sonhos. Lembrava que muitos continuaram na Sala Comunal por um bom tempo após ela subir, e também viu Cho Chang de relance na entrada do dormitório das meninas - não tinha nem palavras para explicar o estado em que a garota se encontrava.
No dia seguinte, ainda parecia que estava em um transe. Nem mesmo se preocupou em tentar manter uma rotina normal: ficou no dormitório o dia inteiro, comendo uns doces da Dedosdemel para não ter que descer para as refeições. Passou o dia encarando o teto, abraçando os amigos e tentando processar o que havia acontecido.
Ela vira o cadáver de Cedrico. Mas não muito antes, vira Cedrico perfeitamente são e saudável. Era o mesmo Cedrico que atendia as aulas do sexto ano, o mesmo Cedrico que participava dos jogos e discutia quadribol com os amigos, o mesmo Cedrico que ela encontrava de vez em quando acompanhando Cho até a Torre da Corvinal. Como era possível que, em apenas um instante, tudo aquilo se perdera?
Ela queria ficar brava, devia estar furiosa com a escola, com o Ministério, com os professores por permitirem que isso acontecesse. Qual o nível de incompetência dos organizadores que não conseguiam produzir um evento seguro para que jovens bruxos pudessem competir sem correr o risco de vida? Como eles puderam ressuscitar um campeonato que havia sido extinguido justamente por promover muitas casualidades sem tomar as devidas precauções?
Mas Sophia não sentia dor. No caso, não sentia nada. Parecia que havia um vazio em seu peito, um buraco que ela não tinha como preencher.
Os amigos até a chamaram para descer com eles para o almoço, mas ela preferiu ficar trancafiada na Torre. A verdade é que não queria ir até o Salão e contemplar a mesa da Lufa-Lufa na qual Cedrico nunca mais iria sentar. Não queria passear pelos corredores por quais o garoto nunca mais iria caminhar. Não queria voltar à normalidade, pois Cedrico nunca poderia.
Já era o final da tarde quando Elena surgiu na porta do dormitório que compartilhavam.
"Sophia?" a garota chamou timidamente.
Sophia emitiu um som indefinido como resposta.
"Hã, Viktor Krum está chamando por você. Ele está ali na entrada."
Sophia se levantou lentamente, agradeceu Elena pelo aviso e desceu. Ela sabia que devia se sentir culpada, egoísta por se importar com seu romance adolescente, mas tudo que ela mais queria naquele momento era o conforto que Viktor a proporcionava. E, quando saiu da Sala da Corvinal e o viu, não conseguiu fazer nada além de se jogar nos braços dele.
Viktor a segurou firmemente. Ela não saberia dizer por quanto tempo ficaram abraçados, mas parecia que todo o tempo no mundo não seria o suficiente. Era como se o abraço contivesse tudo que haviam sentido nas últimas semanas: a angústia, a saudade, o carinho e a dor. E, enquanto ele a envolvia, tudo ficava um pouco melhor.
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Sophia
FanficSophia não esperava ter um ano tranquilo em Hogwarts - afinal, nem mesmo se atreveria a dizer que tal coisa existia. Ela não imaginava, no entanto, que dragões, sereias, cavalos alados, um professor louco e um certo estrangeiro enigmático incorporar...