𝐌𝐨𝐦𝐞𝐧𝐭𝐨𝐬 𝐝𝐞𝐩𝐨𝐢𝐬 𝐝𝐨 "𝐒𝐢𝐦"

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Constantine

Sentado aqui, neste salão barulhento, só estou em posição de ficar amaldiçoando meu pai infernal por ter me obrigado a casar, pensando mais de mil formas de torturá-lo na minha cabeça. Com a minha taça de champanhe como fiel companheira, fico a observar minha noiva - agora esposa - e perceber o quanto detesto estar aqui neste momento. Confesso que whisky seria melhor para esse momento, bem mais dramático, bem mais forte, dezenas de vezes mais condizente. Preferia estar bêbado, caindo pelos cantos em um bar qualquer, com mulheres que mal conheço, de preferência na minha cama, eu consigo ter ótimas conversas estando bêbado, não lembro de metade das coisas que falo, contudo, sei que são ótimas conversas.
Meus amigos vieram, porém apenas para fazer uma visita - e inveja - eu poderia estar bebendo com eles ao invés de estar fazendo sala num salão de festas, felizmente eu sou ótimo ator. Todos eles acharam estranho um casamento repentino, mas nenhum contestou, por que diriam algo? Eu sempre fui um pouco excêntrico, casar do nada é algo que eu com certeza faria. E fiz, na visão deles.
 Minha nova esposa, Morgan Stanley, sinceramente é linda, mas me detesta e tem um humor digno de uma megera, eu a detesto também, ela me mataria, eu a mataria, nosso casamento começou tão bem quanto deveria. Nunca havíamos nos visto antes de hoje, eu apenas sabia que casaria com uma garota da minha idade e da mesma escola, seu nome, aparência e todo o resto eu soube descrito num papel.
A festa começou a pouco tempo, os músicos tocam as clássicas de casamento enquanto os convidados nos cumprimentam, graças a minha mãe, tenho um carisma invejável, vantajoso para meu pai, Caleb, que me usa de gigolô para seus negócios e armações, minha cara é bem mais bonita que a dele, bem mais digna de ser fotografada, filmada, registrada, não ligo nenhum pouco por ser gigolô, posso beber se fingir sorrir. 
A noite será longa e pretendo ficar bêbado até esquecer meu nome, sou acostumado a acordar com pessoas ao meu lado na cama, é um divertimento e passatempo conhecer pessoas das mais diversas formas, mas a muito tempo não tenho alguém que tenha espaço para ficar mais de uma noite sequer, é triste por mais que não pareça. 
Caleb cumprimenta seus falsos amigos alegre, felicidade essa que é falsa e comprada com a minha infelicidade e de muitos outros. Minha mãe está ao seu lado, impecavelmente bonita e elegante como sempre, eu nunca vou entender como uma mulher tão polida, com classe e elegância se casou com alguém como ele, o contraste não bate, Celeste sequer parece ter dois filhos.
Voltando para dentro da minha mente pensei em como não pretendo pedir divórcio, não agora, até porque não terei o direito de pedir a separação, seria burocrático, chato e com muito falatório perto dos meus ouvidos sensíveis, então, me acostumar com a Morgan será o meu castigo pelos próximos meses ou até, anos.
Como chefe da máfia, sei bem o meu lugar na minha família, precisava me casar para ganhar confiança dos meus subordinados, um homem casado, fiel a esposa, sempre será fiel aos seus companheiros, essa é a regra básica no mundo em que vivo. O que não impede Caleb de tentar me desbancar para recuperar um lugar que um dia foi seu, mas nunca exerceu a função com tanta maestria quanto eu, seu filho mais novo e desprezado. Assumi o posto assim que alcancei a idade, também é uma regra, sou rodeado delas. Não é minha culpa ser um gênio, eu tentei ao máximo passar despercebido, tentei ser a vergonha da minha família, porém, foi impossível, me sinto mal por isso. Não nasci para ser um fracassado por mais que tenha tentado muito. 
Observo Morgan sentada em uma mesa longe da minha, está olhando as pessoas, parece não entender para que tanta extravagância - ou só não sabe as tradições de um casamento -, acredito que assim como eu está sendo obrigada a isso, não sei o que está pensando, mas se for para julgar pela sua expressão, diria que está odiando tanto quanto eu esse lugar e a situação em que nos encontramos agora. O vestido de noiva deve ter sido exageradamente caro já que custeamos todos os gastos, imagino muito ela comprando o mais caro só para saber que os números desceram da minha conta, não conta da família, a minha pessoal. Gosto de festas, mas não as desse tipo, essas me chateiam, me deixam entediado, prefiro aquelas com música alta, drogas, e pessoas animadas.
O que minha jovem esposa está pensando? O quanto será que me odeia agora? O quanto será divertido descobrir tudo o que ela pensa… É divertido pensar que vou poder descobrir tudo isso e muito mais. 
No momento em que me pego distraído, ela se levanta e começa a caminhar na minha direção, fico pensando o que ela irá fazer. Olhei para seus olhos, tentando descobrir o que ia acontecer...Isso me trará uma bela diversão por enquanto, não me esquecerei de agradecer a ela por isso, é claro. Encarei os olhos claros sem nenhuma vergonha, fiz questão de transparecer o meu desgosto. De certa forma, nós dois somos os anfitriões nessa festa, então temos que trazer a diversão. Peguei outra taça quando a minha secou, esperei a noiva se aproximar a passos lentos, ela parece ter dificuldade com o salto. Suspirei e cruzei as pernas ficando mais relaxado, olhei os lustres caros no teto do salão e imaginei um deles caindo e espatifando cristais por toda parte, seria um ótimo granfinale.

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