O pesadelo vem à realidade

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Kai balançava a perna por baixo da mesa em nervosismo. A sala era perfeitamente organizada, a decoração era em tons claros, o cheiro doce de incenso vindo de algum lugar lhe deixava enjoado, e saber que encararia um estranho sozinho naquela sala lhe deixava inseguro.

Se ao menos seu pai pudesse ficar consigo, não estaria pensando em fugir.

A porta foi aberta e Kai deu um pequeno pulo na cadeira pelo susto. O homem vestido com uma calça jeans azul, camisa social rosa claro e um jaleco branco passou por si e sentou na cadeira do outro lado da mesa lhe mostrando um sorriso.

— Bom dia Kai, quanto tempo! — cumprimentou e o garoto forçou um sorriso. — Como você está? — perguntou apoiando os braços na mesa e se inclinando um pouco na direção dele.

— Bem. — disse monossílabo.

— Hum... — ele sorriu como se compreendesse. — Com sono? — perguntou quando lhe viu prendendo um bocejo.

— Não gosto de levantar cedo. — disse e ele desviou os olhos de sua ficha médica.

— Agora são nove da manhã. — disse como se fosse um aviso de que não estava tão cedo. — Você não estuda pela manhã? — perguntou e Kai suspirou já cansado daquela conversa que mais parecia um interrogatório.

— Sim. — deu de ombros.

— Pode me falar um pouco sobre sua vida escolar? — pediu o encarando como se estivesse interessado.

— Normal. — respondeu suspirando impaciente.

— E como é esse normal pra você? — quis saber.

— Sem nada de especial. — disse.

O homem — esse que nem sabia o nome, mas estava destinado agora a ser seu psicólogo — assentiu e olhou por alguns segundos para sua ficha, marcando alguns pontos que deixou Kai incomodado.

— Olha Kai, eu não estou aqui apenas para fazer meu trabalho, não que estou querendo dizer que não gosto do meu trabalho, pelo contrário eu amo. Mas não quero apenas parecer um estranho pra você. Quero que me veja como um amigo que pode te compreender como ninguém, alguém que você possa confiar que pode te ajudar.

Kai desviou os olhos sentindo-se até mais tranquilo, porém, não queria contar sua vida para ninguém. Seu pai era um exagerado, ele estava bem, não precisava daquilo. Estar ali, sentado de frente para aquele homem, o incomodava de uma forma que o fazia se torcer na cadeira.

Estar se consultando com um psicólogo o deixava mal, o fazia pensar que estava doente mentalmente, que poderia ficar louco. Era isso que passaria em sua mente toda semana sempre que precisasse se sentar de frente a ele.

— Quer me dizer o que está pensando agora? — sugeriu e Kai o encarou.

— Eu não estou doente. — disse cruzando os braços. — Eu não preciso da sua ajuda.

— Eu sei que não está doente Kai, ninguém está dizendo isso. — disse ele e Kai bateu as mãos na mesa a sua frente enquanto se levantava.

— Mas é isso que está parecendo! — exclamou. — Quer saber, eu vou embora!

Se levantou nervoso e ignorou o psicólogo que se levantou também o chamando. O garoto abriu a porta da sala e fechou com força, passando apressado por seu pai que estava sentado no banco do corredor e arregalou os olhos quando o viu passar.

— Kai! — se levantou desajeitado, seguindo o garoto. — Oh filho, espera!

Nabil tentava acompanhar seu filho, mas Kai não queria saber de outra coisa a não ser sair o mais rápido dali e se refugiar em seu quarto.

Summer Vacation - SookaiOnde histórias criam vida. Descubra agora