CAPÍTULO 3 - Descobertas

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Acordei em um susto. Meu coração palpitava e meus ossos doíam, e eu estava morrendo de sede. Olhei o relógio, eram duas e meia da manhã. Eu tive um pesadelo daqueles quando estava em meu pico de ansiedade.

Andei em passos silenciosos para a sala, onde tia Claudia escondia as bebidas alcoólicas dela. Abri o armário e peguei o whisky, onde enchi um copo, sentei no sofá, apaguei as luzes e bebi o whisky em um gole. Puta merda, que negócio forte. Tomei uns três copos.

Eu precisava relaxar. Os remédios, apesar de fazerem efeito e reduzirem os pesadelos, não faziam milagres. As crises vinham querendo ou não.

O estopim disso foi meu pai. Ele havia terminado a última quimioterapia a uns dois meses para tratar o câncer colorretal. Dizia que estava bem e que Deus sabia muito bem o que estava fazendo, e que eu não precisava me preocupar.

Meu sonho, pior, pesadelo, dizia o contrário. O vi numa cama de hospital, pálido, magro e muito fraco naquela maca, e eu não podia me aproximar, parecia presa entre correntes nas pernas e nos braços. Minha mãe chorava em descontrole.

Eu precisava desabafar sobre isso com alguém que me entendia de fato.

Joshua.

Ele deve estar jogando vídeo game agora.

Rapidamente coloquei um casaquinho e peguei a minha bolsa, onde andei a pé até o centro da cidade. Chegando lá, avistei uma cabine telefônica, onde entrei e coloquei a moeda, em seguida discando o número de telefone.

Ele chamava e em menos de alguns segundos, atendeu.

- Alô?

Obrigada, Deus.

- Josh? É a Ann.

- Ann, meu deus, quanto tempo!? - Espantou-se o rapaz. - Eu achei que você havia esquecido de mim.

- Faz uns meses que a gente não se vê, né. Você que deve ter esquecido de mim.

Escutei Josh rindo no outro lado.

- Mais fácil você esquecer de mim, não é como eu, que a cada lugar que olho me lembra nossos momentos. Está em Hawkins em uma nova jornada. Mas me diga, teve mais uma crise, não é?

- Sim. Eu sonhei com o meu pai. - Respirei fundo. - Não vou entrar em detalhes porque não tô no clima, mas sim, foi péssimo.

- Bebeu pra relaxar ou respirou fundo como eu recomendei?

Pensei por um tempo.

- Sabe, Josh, se tem uma pessoa que é péssima em beber, essa pessoa sou eu. E prometi de dedinho com você que eu não ia beber mais...

- Acho bom. Demorou meses pra você largar da bebida, não ia colocar fora.

Claro. Eu não ia colocar fora.

- Ann... - Joshua continuou.- Seu pai está bem, eu o vi sair de casa hoje, parecia forte e animado como sempre. Deveria não ficar pensando no Luther o tempo todo, ele mesmo deixou que fosse pra Hawkins. Senão, volte pra cá e fique com eles. E comigo.

- Eu...eu não posso, Joshua. Minha vida é aqui agora. Mas morro de saudade de nós dançando Fletwood Mac juntos em seu quarto, enquanto sua mãe resmungava se perguntando onde estava o xale de linho dela... Eu me achava a próxima Stevie Nicks!

Essa lembrança nos fez rir juntos. Nisso, o mesmo falou:

- Se lembra quando fomos no Grande South Lake e ficamos brincando na areia quando tínhamos 15 anos? Fomos ali que tivemos... Bom...

Um vermelhão se formou em meu rosto e meu corpo estremeceu. Não sei se era da bebida ou porque fiquei envergonhada. Foi com meu melhor amigo que tive meu primeiro beijo. Um momento fofo de dois adolescentes na flor da pele, a curiosidade matou o gato e deixamos a coisa rolar.

𝟏𝟗𝟖𝟔 𝐁𝐚𝐛𝐢𝐞𝐬! - 𝐄𝐝𝐝𝐢𝐞 𝐌𝐮𝐧𝐬𝐨𝐧Onde histórias criam vida. Descubra agora