Prólogo

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6 anos atrás ...

Eu corria desesperadamente pelo extenso jardim sem me importar com o quanto aquilo era inapropriado para uma princesa. Eu estava decidida e nada iria me impedir.

Finalmente, depois do que pareceu uma eternidade, adentrei o bosque que se encontrava aos arredores do castelo e tinha sido desde muito tempo o nosso lugar secreto. Lá estava ele, esperando por mim, meu coração acelerou como sempre fazia quando o via.

Me aproximei rapidamente e só parei quando estava em sua frente, seus olhos estavam fixos em mim, aqueles olhos verdes que eu tanto admirava, mas seu semblante estava sério.

É mentira, não é? Por favor, diga que é mentira! — pronunciei sem aguentar mais aquela dúvida me corroendo.

Ele apenas balançou a cabeça negando e aquilo foi como se uma adaga tivesse perfurado meu coração. Desviei meus olhos para o chão, não queria que ele visse como eu estava prestes a cair no choro.

Não se preocupe comigo, Lena. É meu dever como soldado proteger o reino. — Thomas se aproximou e colocou uma mão em meu ombro me fazendo levantar a cabeça. — Proteger você...

Mas você é muito novo para ir para a guerra! Só tem 17 anos. — tentei argumentar.

Por favor, entenda. Fui escolhido por que me destaquei entre muitos soldados que tem muito mais experiência do que eu, mas não fui obrigado a fazer isso, essa foi uma escolha minha. Eu não quero ficar em segurança quando sei que posso ajudar de alguma forma, quero lutar pelo meu povo. — explicou determinado e eu já sabia que seria difícil tirar aquela ideia da sua cabeça, mas eu não ia desistir tão facilmente.

Por favor, Thom, eu não posso suportar nem a ideia de perder meu melhor amigo! Então, se você tem alguma consideração por mim, não vá para esta guerra! — supliquei sentindo as primeiras lágrimas molharem meu rosto.

Lena... — Ele se aproximou e segurou meu rosto com as duas mãos usando seus polegares para enxugar delicadamente minhas bochechas, nunca tínhamos estado tão fisicamente próximos, nossas interações nunca passavam de apertos de mão e brincadeiras com toques rápidos. — Não chore, por favor, você sabe que detesto ver mulheres chorando.

Tenho medo de que você nunca mais volte... — ignorei o frio na barriga e a vermelhidão que tomavam conta de mim naquele momento. — Como pode fazer isso comigo?

Também estou fazendo isso por nós dois, quero ser considerado digno se quiser ter alguma chance de desposá-la futuramente. — Seus olhos se prenderam aos meus e demorou alguns instantes para que eu processasse suas palavras.

O quê? O que quer dizer com isso? — perguntei pensando se tinha imaginado tudo aquilo.

Deixe-me ser claro o bastante, o que quero dizer, é que amo você. — Suas mãos ainda permaneciam em meu rosto, mas desta vez ele o acariciava. — Eu amo você, Helena, como nunca amei ninguém e tenho certeza que nunca mais amarei, e quero me casar com você um dia.

Thomas... — Sei que deveria dizer que eu também o amava, mas alguma coisa em mim me dizia para esperar um pouco mais.

Não precisa dizer nada agora, quero ouvir sua resposta quando eu voltar. Ele então encostou sua testa na minha ao ponto de eu poder ouvir sua respiração e fechou os olhos, fiquei paralisada sem saber o que fazer e só percebi que estava segurando o ar quando ele se afastou de mim. Meu coração estava acelerado e as borboletas em meu estômago estavam alvoroçadas em meu interior. — Peço apenas que prometa esperar por mim.

Não respondi logo, estava sentindo o prazer da felicidade por ser correspondida por aquele que amava desde a infância, era uma sensação imensamente boa. Em um gesto ousado e inesperado até para mim mesma, envolvi meus braços nele deitando minha cabeça em seu peito e o abracei apertado, depois da surpresa ele também me abraçou e um sorriso brotou em meu rosto com aquela nova experiência.

Eu prometo esperar por você, Thomas, então... volte para mim. — supliquei em um sussurro alto apenas para que ele escutasse.

Pode deixar... — respondeu no mesmo tom de voz, então ele depositou um leve beijo em minha testa e tal gesto me reconfortou grandemente.

Quando nos afastamos, senti a falta de seus braços me aquecendo e a timidez voltando com força total.

Já ia me esquecendo, quero que fique com isso. — Thomas retirou algo de seu bolso e o estendeu em minha direção. — Sei que não é nada muito bonito comparado aos que você possui, mas é muito valioso para mim, pertenceu à minha mãe.

Peguei o pequeno objeto em minhas mãos e vi que se tratava de um colar de ouro com uma pedra preciosa em seu pingente.

É lindo! Mas não posso aceitar, sua mãe o deixou para você. — estendi de volta, mas ele balançou a cabeça.

Na verdade, meu pai o fez para minha mãe usar em seu casamento, e minha mãe me fez prometer que o daria a mulher com quem eu me casaria. Então, por favor, aceite como uma recordação para se lembrar de mim.

Tudo bem, vou cuidar muito bem dele. — coloquei rapidamente o colar em meu pescoço e o pressionei em meu peito. — Obrigada.

Ficamos em silêncio apenas nos encarando por alguns minutos, até o som dos soldados se reunindo chegar até nós.

Eu tenho que ir. — Ele suspirou e passou a mão em seus cabelos escuros, uma mania sua que eu conhecia muito bem. — Não esqueça da sua promessa.

Eu sempre cumpro minhas promessas.

Sorrimos um para o outro.

Então, até logo! — Thomas deu alguns passos para trás se distanciando, mas sem tirar seus olhos dos meus.

Até breve.

Mas o que nenhum de nós não contávamos, era que nada sairia como planejamos. A guerra estava já em seu ápice com diversas perdas para os dois lados, até que meu pai, o rei Gustav, propôs ao rei de Donsfik que fizessem um tratado de paz e aliança entre os dois reinos.

Assim sendo, a guerra foi parada e os guerreiros sobreviventes foram trazidos para seus reinos, mas quando procurei por Thomas, descobri que ele não voltara e o exército o tomou como morto. Aqueles foram dias de grande sofrimento para mim, meu coração estava em pedaços e em meu desespero e solidão, prometi a mim mesma nunca mais me apaixonar por ninguém.

Só não sabia eu que o Senhor tinha outros planos para mim e que uma grande reviravolta me esperava anos mais tarde.

O Amor PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora