Capítulo 26

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Enquanto a noite caía como um manto sobre nós, armamos nossas tendas e preparamos o jantar para o grande grupo que éramos. Não vi Vicent depois que chegamos ali e também não tive coragem de procurá-lo.

A verdade era que eu tinha medo de que ele não quisesse mais me ver depois de tudo o que estávamos passando. Ele estava isolado e só podia imaginar os pensamentos que deviam passar em sua mente naquele momento. Vicent teve que lutar contra seus companheiros, foi chamado de traidor e provavelmente não poderia mais voltar para sua terra depois que tudo isso acabasse.

Tudo isso por minha causa... Não, ele me disse uma vez no castelo que estava fazendo isso porque não concordava com os planos do rei. Mas uma parte de mim, uma parte mais emocional, insistia que ele também fazia isso por se importar comigo.

Como era de costume, nos reunimos em volta da fogueira para jantarmos juntos, mas não o vi em lugar nenhum. Quando terminei minha refeição, me levantei e segui as outras mulheres para ajudar a lavar a louça, mas Astrid se aproximou de mim.

— Podemos conversar um minuto? — ela perguntou com certa cautela e eu concordei.

— Pode falar — minha voz saiu um pouco rouca, não tinho falado muito desde a última vez que a vi e tinho andado mais distraída do que o normal.

Ela me olhou com uma expressão preocupada, mas não disse nada a respeito. Melhor assim.

— Eu levei um pouco de sopa para Vicent, mas ele se recusa a comer dizendo estar sem fome — só agora observei a tigela cheia que ela segurava — Então, eu pensei que como vocês são próximos, você poderia... convencê-lo a comer um pouco. Afinal, ele precisa se alimentar bem se quiser ter uma recuperação rápida.

Ela me encarou esperando uma resposta e eu hesitei por alguns segundos. Meu orgulho me dizia para ignorá-lo assim como ele fez comigo, mas minha preocupação por ele falou mais alto e peguei a tigela em minhas mãos.

— Eu... vou tentar.

Astrid sorriu para mim e apertou meu ombro como se estivesse me encorajando. Caminhei lentamente até a tenda dele e paralisei quando estava apenas alguns passos de distância, senti meu coração acelerar com o nervosismo que me tomava. Mas respirei fundo e tomei coragem para entrar no espaço onde ele se encontrava.

— Com licença... — meus olhos imediatamente se encontraram com os seus, ele estava deitado sobre alguns mantos e um cobertor mais grosso servia de travesseiro, ao seu lado uma lamparina acesa iluminava o lugar.

— Fique à vontade — ele se sentou com um pouco de dificuldade e se aconchegou em uma posição que o deixava mais confortável.

Observei discretamente o ambiente em que me encontrava, o espaço era pequeno, mas era organizado e limpo. Com exceção das cobertas que serviam como uma cama, o único móvel que tinha por aqui era uma pequena mesa com vários papéis espalhados por ela, entre eles, um mapa que imaginei ser das áreas que separavam os dois grandes reinos.

— Trouxe um pouco de sopa pra você. — disse mostrando a tigela em minhas mãos e me agachei perto dele.

— Eu agradeço, mas não estou com fome.

— Mas você precisa se alimentar. Como vai ter uma boa recuperação se não estiver cuidando da sua saúde? — retruquei determinada a fazê-lo mudar de ideia — Se não vai fazer isso por si mesmo, então... faça por mim.

Ele não disse nada e só me encarou por alguns segundos, permaneci firme sem desviar meu olhar do seu. Queria que entendesse que não iria desistir facilmente.

— Tudo bem. — ele suspirou se dando por vencido e eu tive que reprimir um sorriso de vitória.

Entreguei a sopa para ele, que se esforçou para conseguir equilibrar a colher com a mão esquerda, mas ele acabou se atrapalhando ainda mais.

O Amor PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora