Capítulo 18

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— Phillip? — o encarei sem esconder minha surpresa.

— Me sinto honrado por lembrar tão bem de mim. — disse com um sorriso provocador — Quer dizer que andou pensando em mim?

— Vai sonhando. — ele riu da minha resposta, mas minha cabeça estava cheia de dúvidas para prestar atenção em suas brincadeirinhas.— Pode me explicar o que significa tudo isso?

— Venha comigo e entenderá tudo. — ele deu alguns passos, mas eu o olhava com desconfiança, quando percebeu que eu não me movia do lugar, ele parou e me encarou com impaciência. — Vamos, já disse que ninguém fará mal a você aqui.

— E quer que eu acredite no homem que me sequestrou? — ironizei sem desviar os olhos.

— Só vou levá-la em um lugar onde possa se sentar e descansar. — as pessoas à minha volta continuavam a olhar para mim e o cansaço se entendia por meu corpo, e foi só por esses desconfortos que eu o segui sem dizer mais nada.

Passamos por algumas tendas e paramos em um lugar limpo com troncos de madeira espalhados pelo lugar, provavelmente usados como assentos.

— Por favor, sente-se. — obedeci sentindo certo alívio e ele sentou de frente para mim.

— Pode me explicar agora? — fui direta.

— Claro que sim, mas antes... — ele segurou meus braços e com uma rapidez espantosa, cortou as cordas que envolviam meus pulsos. Mas ao invés de soltar-me, ele segurou minhas mãos e acariciou o lugar onde há pouco as cordas estavam, fiquei confusa com tal gesto e ele me olhou nos olhos. — Quero pedir desculpas pela forma que a trouxemos aqui, deve entender que foi a melhor forma que achamos sem grandes problemas.

— E a noite do baile? — questionei me afastando dele, a verdade era que eu não podia confiar nele tão fácil assim, minhas experiências no castelo me ensinaram isso. — Os bilhetes deixados no meu quarto e o fato de você ter ido no meu quarto à noite?

— O baile foi nossa primeira tentativa de trazê-la, mas foi um fracasso total e os bilhetes eram para deixá-la alertada sobre o golpe do rei.

— Eu já sei o que ele planeja. — interrompi e ele pareceu surpreso. — Basicamente, quer dominar meu reino usando o casamento para isso.

— Você realmente é muito esperta. — sorriu satisfeito. — Como descobriu isso?

— Isso não importa. — cruzei meus braços e olhei em seu rosto. — O que você tem a ver com isso? Qual o seu propósito?

— Certo, você já ficou no escuro por tempo o suficiente... — seu rosto ganhou uma expressão séria e sombria. — Talvez você já tenha ouvido falar dos ataques de rebeldes...

— Sim, eu ouvi. — de repente tudo pareceu se esclarecer.  — Vocês foram responsáveis por isso?

— Bem, sim, eu sou o líder desses rebeldes e essas pessoas que estão aqui comigo são apenas uma pequena porção dos homens que me seguem. — fiquei surpresa, mas deixei que ele terminasse sua explicação. — A verdade é que esse rei que nos governa é um homem tirano e cruel que só pensa em si mesmo, ele cobra altos tributos do povo e toma as terras de quem não consegue pagar a taxa. — sua voz estava carregada de ódio e desprezo, uma versão que eu ainda não conhecia dele. — Revoltados e insatisfeitos com a situação em que nos encontrávamos, eu e alguns amigos formamos um grupo que logo ganhou vários novos membros. Nós roubamos dos nobres e damos aos pobres e quando algum soldado é encontrado sozinho, nós lhe damos uma lição para que entendam o que é ser humilhado.

Ele riu sem humor, mas a determinação e a ferocidade em seu olhar me fez estremecer.

— Então, você apareceu... — seus olhos intensos se fixaram em mim e em um movimento rápido ele se agachou e pairou na minha frente a alguns centímetros do meu rosto. — Como uma nova esperança para nós e todos aqueles que sofrem sobre o governo de Otávio II!

— O que quer dizer? O que eu poderia fazer para ajudar vocês? — sussurrei sem entender meu papel naquilo tudo.

— Ora, veja bem, se a levarmos para Aravilly, você poderá contar ao seu pai sobre o plano do rei e então ele vai poder agir e atacá-lo enquanto ainda se prepara.

— Você... você está falando de uma nova guerra? — só de pensar nessa possibilidade estremeci. — Deve haver outra forma de resolver isso.

— Não seja ingênua, princesa — ele revirou os olhos — Quando Otávio perceber que seus planos foram descobertos o que acha que ele vai fazer? Ele vai atacar com tudo o que tiver e não poupará esforços para isso, a melhor chance que temos é se o rei de Aravilly atacar primeiro.

— Mas o que vocês ganham com isso? — perguntei ainda desconfiada. — Por que fazer isso para ajudar outro reino?

— Nós sabemos das boas condições em que vivem o povo do seu reino, como eles adoram o rei e são prósperos. Se o seu pai for o nosso rei, talvez tenhamos uma vida mais digna, pelo menos, é nisso que acreditamos.

Ele finalmente se afastou e inquieta demais para continuar sentada, me levantei e comecei a andar de um lado para o outro refletindo em suas palavras.

— Se tudo acontecer como está dizendo, quem governará este reino? — parei olhando em sua direção.

— Você, é claro — ele deve ter visto a surpresa em meu rosto, porque passou a explicar seu ponto de vista — Seu irmão é o herdeiro de Aravilly, portanto não poderá governar os dois, você deverá ser no mínimo a representante dele aqui.

— M-mas eu não posso fazer isso, eu seria uma péssima rainha! — voltei a caminhar de um lado para o outro.

— Se me lembro bem, se ninguém interferisse, em alguns meses você se tornaria a rainha desse reino de qualquer maneira.

— É diferente! — falei como se fosse óbvio — Eu seria a rainha é claro, mas quem teria todas as responsabilidades de governar seria o Edward... Falando nisso, o que acontecerá com a família real de Donsfik?

— Serão executados. — deu de ombros como se isso não fosse nada demais.

— Como pode dizer uma coisa dessas? — olhei para ele com os olhos semicerrados indignada.

— O quê? Acha que eles fariam diferente conosco? Esqueceu que eles planejavam usar você para conseguir o que querem? Você não deveria se importar com isso, a menos que... — seus olhos se arregalaram levemente como se percebesse algo — A menos que você tenha sentimentos pelo príncipe?

— O-o quê? — senti minhas bochechas ficando vermelhas. — Ele é um homem gentil, mas eu nem o conheço direito e... e... Isso não é da sua conta!

— De qualquer forma, você terá que se casar com um homem que ajude com as questões do reino. Alguém que conheça bem o reino e seja um bom líder... — ele se levantou e me deu um sorriso insinuativo — Por exemplo... eu.

— Você? Tá brincando, não é? — arqueei a sobrancelha com os braços cruzados decidida a não cair em seus joguinhos, já estava acostumada com sua mania de me provocar.

— Talvez sim, talvez não... — continuou com seu sorriso de canto — Sabe, muitas mulheres brigariam com unhas e dentes pela chance de me ter como marido.

— Bem, eu não sou uma dessas. — respondi secamente.

— Ai! Você é tão cruel! — ele segurou o peito como se estivesse ferido. — Está partindo meu coração...

Revirei os olhos, mas não consegui segurar o riso, por mais que nossa situação não fosse das melhores, ele não era um cara ruim.

— Phil! — uma mulher com cabelo ruivo apareceu correndo, ela olhou entre nós dois brevemente com uma expressão de desgosto que só eu percebi.

— O que foi, Astrid? — Phillip perguntou agora sério.

— Um intruso entrou no acampamento... e está com um dos nossos como refém.

O Amor PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora