Capítulo 19

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Apesar dos passos largos e rápidos de Phillip, eu consegui acompanhá-lo e logo nos deparamos com os membros do grupo unidos em um semicírculo em frente ao provável intruso, todos armados com espadas ou punhais.

Phillip passou entre eles e eu o segui de perto, só então consegui ver de quem se tratava.

— Vicent... — sussurrei para mim mesma e automaticamente seus olhos se encontraram com os meus, percebi um misto de alívio e preocupação passar em sua expressão séria.

Ele estava na entrada do acampamento segurando um homem, que eu reconheci ser um dos que estavam com Phillip ao me sequestrar. Com uma mão ele segurava o braço do homem nas costas e com a outra mão pressionava sua espada muito próxima ao pescoço dele.

— Princesa, você está machucada? — perguntou ainda olhando para mim.

— N-não, eu estou bem. — respondi dando um passo em sua direção, mas Phillip segurou meu braço.

— Quem é você e como nos encontrou? — O líder estava com a cara fechada e falava lentamente.

— Isso não importa. Devolvam a princesa ou ele morre. — seu tom era de ameaça, e apesar de estar em uma óbvia desvantagem não parecia nem um pouco intimidado.

— Bem, temo que não possamos fazer isso, nós estávamos tendo uma conversa bem agradável, sabe? — disse colocando seu braço em meus ombros, pensei em avisar que o soldado à nossa frente era uma péssima opção para se provocar. — Ah, eu lembro de você do baile, é um dos soldados de Donsfik. Isso significa que outros soldados se juntarão a nós?

Ele falava de forma indiferente, mas eu senti a apreensão em sua voz.

— Não, eu vim sozinho. Só quero levar a princesa de volta para o castelo e garanto que não virei atrás de vocês. —  era uma proposta, mas eu já não sabia se queria voltar.

— Nos dê um bom motivo para não te matarmos agora, soldadinho. — Phillip desafiou e isso me deixou assustada o suficiente para intervir.

— Não faça nada com ele, Phillip. — esbravejei me afastando dele. —Ele está do nosso lado, e desde que cheguei neste reino tem me ajudado e me mantido em segurança.

— Abra os olhos, Helena! Ele é um deles!

— Não, não é! — o encarei com uma determinação que nem eu sabia que tinha. — Foi ele quem me contou sobre o golpe e eu confio nele!

Olhei na direção de Vicent e ele me encarava com uma emoção vívida. Ao ouvir minhas palavras, Phil se voltou para ele com um novo interesse.

— Por que você trairia o rei desta maneira? — perguntou desconfiado.

— Eu tenho meus motivos, mas não os revelarei a você. Apenas saiba que prezo pela segurança da princesa mais do que pela minha própria vida.

Minhas bochechas coraram e meu coração acelerou, senti o olhar de Phillip em mim, mas estava ocupada demais olhando para o homem à minha frente.

— Tanto faz... — ele parecia chateado — Nós não somos a ameaça aqui, queremos levar a princesa de volta para seu reino. — Vicent olhou para ele atento às suas palavras — Mas se quer provar que está realmente do nosso lado, solte meu companheiro e se renda.

Vicent não se moveu, parecia pensar no que fazer e percebendo que ele olhava para mim à procura de uma resposta, me aproximei alguns passos dele com os olhos de todos em mim.

— Vicent, eles estão falando a verdade, eu acredito neles e explicarei tudo a você. — olhei no fundo de seus olhos em uma súplica — Por favor, confie em mim...

Hesitante, ele soltou o homem que imediatamente correu para longe e jogou sua espada à frente, sem tirar seus olhos dos meus nem por um segundo. 

— Amarrem ele. — ordenou Phillip com um suspiro cansado e no mesmo instante corri ficando na frente de Vicent e encarando o líder do grupo.

— Tenho certeza que não precisa disso, já disse que confio nele.

Mas ele ignorou minhas palavras dispersando as pessoas ali presentes, enquanto dois homens se aproximavam de nós.

— Não se preocupe, Helena. — Vicent murmurou e eu olhei para ele por cima do ombro. — Estão sendo cautelosos e é o certo a se fazer.

— Mas...

Ele interrompeu minhas palavras colocando uma mão em meu ombro e me virando de frente para ele.

— Estou feliz de que esteja bem. — disse me dando um pequeno sorriso e eu desviei o olhar sentindo meu rosto queimar.

Os homens amarraram seus braços atrás das costas e o levaram para um canto enquanto eu os seguia de perto. Eles o colocaram sentado apoiado em uma árvore e um deles saiu, mas o outro permaneceu ali.

— Pode nos deixar sozinhos por um momento? — perguntei e ele balançou a cabeça.

— Tenho ordens do chefe para ficar de olho nesse aí. — disse apontando para Vicent.

— Então, pode pelo menos nos dar um pouco mais de espaço?

Dessa vez ele concordou e se afastou um pouco de nós, soltei um suspiro e me sentei de frente para Vicent. 

— Sinto muito por isso. — disse me referindo ao fato de ele estar preso por minha causa.

— Não sinta, a culpa não é sua. — suas palavras eram suaves.

— Como me encontrou? — perguntei com curiosidade.

— Amélia me perguntou sobre o seu paradeiro, pois não a encontrava em lugar algum do castelo. Então pensei que talvez você estivesse no bosque por parecer gostar de lá e fui procurar pela floresta até chegar no lago e encontrar um papel no chão. — Lembrei de ter levado o bilhete comigo, ele devia ter caído quando tentei fugir dos meus raptores. — A partir daí, não foi difícil seguir seus rastros e supor que se tratava de um sequestro.

— Você é realmente incrível. — comentei admirada com seu raciocínio rápido e destreza, suas bochechas ganharam um tom vermelho o que para mim era uma surpresa, já que ele nunca demonstrava suas emoções.

— Bom, qualquer soldado bem treinado saberia disso. — disse dispensando meu elogio, então seu rosto ficou sério novamente — Mas o que um bando de rebeldes deseja exatamente ao sequestrar você?

Da forma mais clara e resumida possível, contei sobre os planos de Phillip e sobre as razões por trás deles. Vicent me ouviu atentamente sem me interromper em nenhum momento, e quando terminei ele parecia ter algo em mente.

— Entendo. Se eles estiverem dizendo a verdade, talvez essa seja a nossa melhor chance de levá-la para Aravilly.

— Está dizendo que concorda com ele? — me surpreendi ao ouvir tais palavras saírem de sua boca, logo dele que sempre foi tão... certinho.

Estou dizendo que podemos aproveitar essa oportunidade para tirarmos você daqui. — ele me encarou determinado. — Vou me juntar a vocês e garantir a sua segurança.

— Mas e o seu emprego? — Estava feliz com seu apoio, mas não podia arriscar a vida do homem que me salvou tantas vezes. — Acho melhor voltar para o castelo e fingir que não sabe de nada, não quero que se prejudique por minha causa.

— Helena... — ele se inclinou para frente e aproximou seu rosto do meu, perto o suficiente para que conseguisse ver claramente seus olhos verdes — Será que ainda não percebeu que a única coisa que me importa agora é você?

Depois de tanto tempo, senti as borboletas em meu estômago despertarem novamente. A última vez que as sentira foi quando Thomas se confessou para mim, mas aqui estavam elas de volta.

Por quê? — indaguei em um fio de voz, desesperada por uma resposta.

— Porque eu sou... — Mas ele foi interrompido pela chegada de Phillip e lamentei internamente por isso.

— Espero não estar atrapalhando o casalsinho...

O Amor PerdidoOnde histórias criam vida. Descubra agora