Separados por uma foice e um martelo

XII - Romancista

N/A: oi, gente, tudo bom? Só passando para avisar que o capítulo de hoje está sendo narrado pelo Jun. Os outros continuarão sendo contados no ponto de vista do Minghao – como sempre. Este é a única exceção.

Depois do beijo (ao qual minha família fez questão de assistir), retornamos à mesa e tentamos desviar do assunto. Papai desaprovou nosso comportamento e mencionou que o ósculo no corredor dos banheiros facilmente se configuraria como atentado ao pudor, mas tia Lina nos defendeu e falou que jovens apresentam dificuldades na hora de conterem os desejos. Ahkum e Boseph concordaram, e os gêmeos Kuan e Kuanyi caçoaram de mim até o ponto alto do almoço se concretizar.

Kuanyi, peste como era, estava sonolenta e queria voltar logo para o quarto em que se hospedava com o pai e o irmão. Piaoqi recusou e voltou a flertar com minha mãe, o que desencadeou o seguinte evento: Kuanyi, na tentativa de chamar a atenção do progenitor, resolveu desligar os aparelhos de minha avó.

Jiangli, a mulher que deu a luz ao papai, beirava os oitenta anos e portava quadros graves de bronquite crônica e enfisema pulmonar devido ao tabagismo posto em prática durante a maior parcela de sua vida, além da exposição frequente a gases tóxicos. Em decorrência da saúde frágil, mal conseguia formular frases (pois uma dor agonizante automaticamente se registrava na região de seu sistema respiratório) e se via na necessidade de sempre estar equipada com um ventilador mecânico.

Quando Kuanyi desligou, ninguém percebeu, isso porque ainda restava carga na bateria reserva. Entretanto, assim que o mecanismo de ventilação parou de funcionar, o monitor emitiu um ruído agudo, e papai imediatamente compreendeu o significado do apito. Não demorou muito para que o cômodo se tornasse um caos: Boseph iniciou uma reanimação cardiorrespiratória à medida que executava manobras no tórax da senil, mamãe nervosamente telefonava para a ambulância, tia Lina gravava um vídeo para postar em seu vlog diário...

Deduzindo que a trajetória da ambulância até o hotel duraria minutos custosos, papai decidiu carregar a idosa nas costas rumo ao carro, a fim de levá-la ao hospital regional da cidade. Eu e Minghao resolvemos segui-lo e entramos na minha Lamborghini Huracán laranja.

— A sua família é maluca. — Minghao comentou ao tirar a peruca, mas nada respondi. Estava focado demais na estrada e preocupado com a estadia de minha avó.

Já no ambiente clínico, pedi que Minghao esperasse no automóvel e avistei papai assim que pus os pés no piso asfaltado do estacionamento externo. Ajudei-o a segurar Jiangli e percebi que mamãe, a qual também tinha vindo com ele, quase chorava devido ao nervosismo. Chegando à recepção do hospital, os enfermeiros nos acolheram e solicitaram um resumo da situação.

Eu e meus pais passamos quase uma hora na sala de espera, todos aguardando o pior. Quando o médico anunciou que vovó tinha sobrevivido, ninguém acreditou.

A cada dia, eu acreditava ainda mais na imortalidade daquela mulher.

Jiangli nunca temeu o ato de desafiar a morte: fumante desde a adolescência e em constante contato com gases tóxicos por ter nascido em uma família dona de um vasto complexo de fábricas, recebeu os diagnósticos de bronquite crônica e enfisema pulmonar aos trinta e nove anos. Apesar dos alertas dados pelos pneumologistas, continuou devorando quase um maço inteiro de cigarros diariamente e evitou acatar as outras orientações. Como esperado, ambas as doenças se agravaram, e lhe foi determinado um veredito: apenas cinco anos restantes de sobrevida. Resultado? Uma velha com sete décadas, prestes a completar oito.

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Cuspi os resquícios de creme dental na pia e, após bochechar doses de água, limpei a espuma restante nos lábios. Enxuguei a região anteriormente molhada para, em seguida, conferir a imagem refletida pelo espelho: a camiseta preta munida pela impressão digital do personagem Esqueleto, famoso no seriado animado He-Man, estabelecia uma combinação deveras interessante junto à calça moletom azul-marinho