XI - Piadista

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As filmagens para o drama estrelando Jun e Xiao chegaram à reta final, ou seja, a produção se encerraria em poucos dias. Nunca fui o maior fã do trabalho dos dois, mas estava ansioso para assistir aos episódios.

No terraço do prédio abandonado em que costumavam montar o set de gravações, debrucei-me sobre as grades e encarei o que se mantinha lá embaixo. Entrei em estado de alerta quando senti uma nova presença, porém, para minha sorte, era apenas Hansol ao meu lado.

- Quer um tempo sozinho? Posso voltar pra dentro caso ache melhor. - sugeriu, mas impedi que ele saísse quando lhe segurei o punho.

- Fica aqui comigo.

O sorrisinho discreto que irrompeu devagar nos lábios dele fora o suficiente para me fazer derreter e pensar sobre o quão lindo aquele cara conseguia ser. Percebendo que não parava de encará-lo como uma adolescente apaixonada, desviei a atenção a outro ponto e esperei que Hansol se acomodasse ali.

- Desculpa por faltar ao encontro.

- Você já pediu perdão milhares de vezes. - riu encostando a cabeça no meu ombro. - Sabe que não precisa. Imprevistos acontecem.

- Não vou parar de insistir tão cedo.

- Então... - pude assimilar o olhar do outro sobre mim. - Que tal me recompensar? Tá livre hoje à tarde?

Retribuí a olhadela tendo um sorriso involuntário crescendo na boca. Levei a mão às minhas madeixas e passei a brincar e enroscar os dedos entre os fios a fim de disfarçar a forma como ele me deixou tímido e sem graça.

- Sim, estou.

- Excelente. Prefere restaurante ou cinema?

- Ah, não gosto que gaste o seu dinheiro à toa. Por que não vamos passear em algum parque?

- Eu gosto de gastar meu dinheiro com você. Vou entender a resposta como um "prefiro cinema".

A risada mais fina possível escapou de minha garganta, a vermelhidão aos poucos se tornando homogênea às minhas bochechas. Marcamos de nos encontrar no cinema para assistir a uma comédia romântica qualquer e, em seguida, retornamos ao interior do prédio. Xiao remexia as mechas castanhas - à medida que o secador as esvoaçava - e conversava com a maquiadora e a figurinista, que apresentavam os próprios trabalhos e aguardavam a atriz selecionar o melhor, levando em consideração que as roupas de grifes renomadas e as makes caprichadíssimas tinham como destino final a personagem dela no drama. Assim que Xiao se viu desocupada, não tardei a puxá-la rumo ao primeiro cômodo discreto que encontrei.

Contei a ela tudo a respeito de meu pré-relacionamento com Hansol. Nós ainda não tínhamos trocado nem um beijo sequer, mas mostrávamos interesse um no outro e pretendíamos dar continuidade a, quem sabe, um namoro futuro. Anteriormente cheguei a rejeitar muitos homens que desejavam namorar comigo, os motivos se faziam múltiplos: insegurança, medo, falta de preparo... entretanto, naquele instante, eu sabia o que queria e não perderia a chance de possuir um lance sério com Hansol. Xiao obviamente desaprovou, pois ainda sustentava a narrativa irreal de que eu e Junhui nascemos como almas gêmeas, casaríamos e viveríamos lado a lado até os cem anos.

- Para onde vão? - sentada perante a penteadeira do camarim, questionou. - Precisa ser inesquecível.

- Cinema. - redargui com o entusiasmo estampado nas íris. - O Hansol e eu somos bastante minimalistas.

- Claro que você é minimalista, por isso transa no primeiro encontro.

Uma reação carrancuda imediatamente preencheu meu semblante, o que causou gargalhadas travessas na de sobrenome Cheng.

Separados por uma foice e um marteloOnde histórias criam vida. Descubra agora