IX - Manobrista

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- Ele ainda não ligou? Quem pede o número da pessoa e passa um século sem ligar? - Xiao indagou, levando um gole de vinho aos lábios. Estávamos em um restaurante italiano para o qual fui obrigado a ir.

- O meu carregador meio que queimou há uns três dias.

- O quê?! - a garota exclamou, puxando a atenção de quase todos os presentes no restaurante. - Por que você não comprou outro?

- Ah, eu não curto gastar dinheiro com coisa inútil.

- Inútil?! É só o conserto de um carregador, seu mão-de-vaca.

- Não sou mão-de-vaca, tá? Só sei gastar o meu dinheiro de forma decente.

- Minghao, você nem vai perceber.

- Quem disse? Diferente de você, eu sou pobre. Você pode gastar trilhões de wones e nem vai doer no seu bolso.

Eu e Xiao prosseguimos com a discussão, incomodando outros clientes ricos do restaurantes. O gerente, insatisfeito, pegou a gente pelo braço e nos jogou para fora, restringindo nossa entrada. Xiao nem ligou, até porque os caras haviam esquecido a cobrança da lagosta e do vinho comprados por ela. Meu carregador não estava mais funcionando e, para piorar, meu celular tinha descarregado. Eu realmente não queria comprar outro carregador, nem mandá-lo para o conserto, isso porque não sabia se queria mesmo conversar com Hansol.

No dia seguinte, fui para a agência com o carregador em mãos - trouxe a pedido de Xiao - e, como sempre, fui ao escritório de Junhui. Sungho dialogava com alguns empresários enquanto o Wen encontrava-se jogado em um dos sofás.

Sungho avisou ter de sair para marcar uma entrevista coletiva com Junhui. Dei de ombros e me sentei no sofá, brincando com o carregador - que estava bastante desgastado. Junhui mantinha-se alheio a tudo, parecia situar-se no próprio mundinho. Por um momento, passei tempo demais fitando ele, desviando somente quando o maior notara a intensidade de minha atenção sobre si. Eu realmente não sabia o que estava acontecendo comigo.

- Perdeu o cu na minha cara? - espera, esse argumento é meu!

- Ladrãozinho. - bufei, guiando a atenção a outro ponto. Junhui notou e pegou o carregador de mim, o que me fez voltar a encará-lo.

- O cabo tá todo quebrado.

- E você acha que eu não sei? A Xiao mandou eu trazer à agência, algo que não entendi muito, porque ela nem trabalha aqui.

- Ah, deve ser porque eu sempre conserto os carregadores dela. - deu de ombros. Arregalei os olhos.

- Espera, você sabe dar um jeito nessa coisa?

- Acho que consigo. - respondeu analisando os fios soltos do cabo.

Ele ergueu-se de pé e guiou os passos até a mesa onde costumeiramente ficava, puxando a cadeira giratória para sentar-se sobre o móvel. Assim, encaixou os dedos na maçaneta da gaveta e a deslocou, recolhendo alguns objetos de dentro do cubículo, como fita isolante, tubos de termorretração, isqueiro, alicate e tesoura. Não sabia por que ele mantinha tantas coisas do tipo na gaveta, mas tratei de observá-lo mesmo que a uma certa distância. Junhui acomodou o cabo entre os dedos e iniciou o uso das ferramentas verdadeiramente concentrado.

O pensamento surgiu repentinamente no meu cérebro, mas Junhui realmente se mostrava mais bonito que o normal quando concentrado. Seus olhos, verdadeiramente atrativos devido ao formato tinham as pupilas centradas somente num único ponto enquanto seus dedos mexiam-se em movimentos ágeis e precisos sem tremor algum. Vez ou outra o chinês mordia o canto do lábio ou o umedecia com o auxílio da língua para expressar o quão focado estava.

Separados por uma foice e um marteloOnde histórias criam vida. Descubra agora