VIII - Taxista

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Depois que Junhui ofecereu aquela quantia a mim, enviei o dinheiro aos meus pais, que ficaram gratos - embora minha mãe insistisse em dizer que não havia necessidade. Meu pai realizou a endoscopia e infelizmente foi diagnosticado com câncer, mas a doença se situava entre os primeiros estágios, então não era nada que não possuísse um tratamento adequado. Porém, como toda ação carrega suas devidas consequências, eu e Junhui entramos em completo clima de estranheza um para com o outro, o que até mesmo levantou suspeitas vindas de Sungho, pois ele sabia que eu e o chinês não aguentávamos um minuto sequer sem trocar xingamentos.

Decidi respeitar o espaço de Junhui. Eu realmente vacilei, então não fingiria a inexistência dos acontecimentos anteriores - mas também tinha medo de pedir perdão e sofrer graves humilhação. Mesmo que Junhui, em partes, fosse um filho da puta, minha pessoa errou, portanto era preciso reconhecer isso.

Estava na agência, mas não era no escritório de Junhui. Era dentro do espaço do refeitório. Encarava meu café, analisando o líquido escuro no interior do copo reutilizável. O levei aos lábios e bebi, embora nem gostasse do sabor, mas queria ingerir bastante cafeína para manter o cérebro em alerta. A faculdade acabava comigo, eu nem sabia mais o significado de dormir, e era necessário que eu perdesse mais algumas horinhas de sono caso quisesse ganhar notas eficientes.

- Que merda. - murmurei ainda a encarar a bebida. - Eu tô muito melancólico.

De fato, eu estava bastante para baixo. Mingyu até mesmo comentou a ausência de meu alto astral e das costumeiras piadinhas, mas elas não vinham, não apareciam. Eu realmente me sentia culpado, era como se algo dentro de mim morresse. Tudo o que eu desejava era engolir a dose exata de coragem para pedir desculpas ao Junhui e, assim, o sentimento de culpa iria embora fazendo com que eu voltasse ao normal... mas por que parecia tão difícil dizer um simples "sinto muito"?

- Oi. - Xiao sentou-se próxima a mim, sorridente. Retribuí o cumprimento com um leve repuxar de lábios. - Ai, o que foi?

- É que... eu realmente vacilei com alguém.

- Você parece ser um amor de pessoa. - deu de ombros, ajeitando as madeixas recentemente tingidas em castanho. - O que houve? O que fez?

Suspirei pensando se era o certo contar. Xiao era uma garota de ouro, então não havia porquê para esconder as coisas dela. Porém, mesmo assim, ainda estava inseguro, então resolvi ausentar a situação de nomes.

- Eu estava com problemas financeiros, portanto resolvi solicitar a ajuda de um... conhecido. Eu e esse conhecido nunca nos demos muito bem, mas, por ele ser rico, pedi dinheiro a ele, prometendo que devolveria depois. Fiquei bem surpreso quando o conhecido aceitou... porque ele é arrogante, preconceituoso e narcisista. Enfim, ele me deu o dinheiro, e a minha surpresa foi grande demais. Ele percebeu. O conhecido perguntou por qual motivo eu não parava de olhá-lo como se ele fosse arrancar o dinheiro de mim a qualquer momento, então eu respondi impulsivamente que ele só pensava em si mesmo, por mais que estivesse emprestando um valor alto a mim. Depois disso, o conhecido não olhou mais na minha cara. Tenho vergonha de pedir desculpas.

- É o Junhui, não é?

- Como você sabe? - entreguei arregalando os olhos.

- Não sabia. Só chutei.

Revirei os olhos, descrente comigo mesmo por ter cedido com tamanha facilidade. Voltei a beber o café, sentindo a mão de Xiao sobre a minha.

- Olha, Minghao, não pense que estou dizendo isto porque apoio ardentemente vocês dois, mas, se existe uma culpa aí dentro, tente eliminá-la. O Junhui é realmente um filho da puta preconceituoso, que, apesar de ter nascido nos anos noventa, tem um cérebro tão pequeno quanto um padre da Idade Média, mas sobretudo entenda que ele possui um bom coração, ele é capaz de se sacrificar por quem gosta. Sabe, às vezes eu penso que aquele caráter intolerante e mimado dele é fruto da criação oferecida por ambos os seus pais. É claro que isso pode soar como uma desculpa miserável, pois Junhui é um adulto capaz de formar as próprias opiniões, porém, no meu ponto de vista, ele ainda tem uma mentalidade de moleque porque os pais dele só o deixaram crescer fisicamente. Acho que algum dia... o Hui irá encontrar uma pessoa que o faça evoluir como ser humano.

Separados por uma foice e um marteloOnde histórias criam vida. Descubra agora