V - Feminista

230 32 35
                                    

Side To Side da Ariana Grande tocava em alto e bom som enquanto senhorita Cho, minha professora, pedalava na bicicleta ergométrica mexendo o quadril conforme o ritmo da música. Na esteira, eu disparava elogios à mulher, que parecia sentir-se empoderada com o levanto da autoestima acompanhado pela canção de letra saliente. Ri da mais velha, secando o suor que descia por minha testa.

— A música é maravilhosa, Hao, mas do que ela fala? — a professora perguntou envolvida com o rap da Nicki Minaj.

Vi-me estático com a pergunta, sem saber se abria a boca para ditar a verdade ou não. Peguei a garrafa d'água e digeri poucos goles, olhando para o lado ao responder:

— Perda de calorias... Não disse como.

Saí da esteira ao desligá-la e continuei a beber água sentando-me sobre um banco. Senhorita Cho sempre agiu como uma segunda mãe, cuidando de mim em todos os momentos necessários. Por mais que fosse professora, às vezes ela permitia que o lado pessoal falasse mais alto e fazia umas coisinhas por mim. O zelo poderia considerar-se sua característica mais evidente e promissora.

Ouvi o toque de meu celular, portanto andei até o aparelho e o peguei, levando ao ouvido para responder quem estivesse ao outro lado da linha.

— Minghao?

— Jieqiong? — retornei com outra pergunta. — Como conseguiu o meu número?

— Pedi àquele seu amigo de pernas enormes. — ela riu. — Então... foi boa a sua pun-

De imediato engasguei com a água, tossindo no intuito de não morrer por asfixia ou algo do tipo. Aos poucos, recompus a postura anterior, com o celular longe do rosto.

— Como? — ditei ao estar com o celular próximo do ouvido.

— Ontem, você me ignorou porque... queria bater pun-

— Eu entendi! — exclamei querendo que ela parasse de falar sobre tal assunto.

Não é como se eu visse a masturbação como um tabu, mas a ficha ainda não havia caído para mim. Eu e Jieqiong nem tínhamos tamanha intimidade, ela também não parecia curtir saber a respeito dos afazeres particulares dos outros, então por que eu disse a ela sobre isso?

— Eu sei que estava bêbado. — falou, fazendo-me suspirar. — Fique tranquilo.

— Me ligou apenas por causa dessa minha gafe? — brinquei.

— Bom, para falar a verdade, gostaria de saber se você aceita tomar um café comigo.

— É uma boa proposta, mas não costumo beber café. Não gosto muito, só o tomo quando a situação pede.

— Que tal um filme, então?

— Se é assim, aceito. Horário?

— Às seis. Fique bonito para mim. — pude escutar sons de beijinhos e ri da infantilidade fingida da garota.

— Ficarei. — despedi-me, encerrando a chamada. Encarei a tela do celular por alguns segundos, até ter ideia do que tinha acontecido.

Jieqiong tinha proposto um encontro?

Com os lábios entreabertos, pus o celular de volta no lugar e vi senhorita Cho, que me olhava com estranheza.

— As conversas dos jovens do século XXI são todas assim?

Mingyu possuía uma sobrancelha arqueada enquanto mantinha os olhos em mim, a mão direita na cintura e o pé batendo freneticamente contra o piso de madeira. Chacoalhei os ombros bebericando do copo com água.

Separados por uma foice e um marteloOnde histórias criam vida. Descubra agora