XIII - Clubista

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Não permanecemos no Tibete durante um final de semana inteiro, pois o CEO telefonou com o alerta de uma reunião urgente entre os managers da empresa. E, sinceramente, aquela foi a melhor coisa que me aconteceu na viagem, afinal de contas, não aguentaria conviver com a avó de Junhui por tantos dias.

Falando em Junhui, depois de ter pago meu jantar, ele começou a agir da forma mais estranha possível — como se estivesse tentando ignorar minha existência. Inicialmente cogitei se tratar de uma ideia inescrupulosa criada pela minha mente paranoica, no entanto, após ver o cantonês se recusar a se sentar ao meu lado no avião, abracei a certeza imediata de que havia um assunto inacabado entre a gente.

— Minghao? — Hansol estalou os dedos perante minha visão enquanto eu mantinha a atenção fixa na parede.

— Oi. — deixei de lado os pensamentos atordoantes e alarguei um sorriso nos lábios. — Nervoso?

— Muito. — respirou tão fundo que consegui observar o volume crescente na região de seu tórax. — Não sei o que vou fazer se seus amigos não gostarem de mim.

Foi impossível conter a gargalhada quando captei o desabafo solto pelo homem de fenótipo micisgenado. A formatura se aproximava cada vez mais, portanto provas e trabalhos passaram a se assomar na rotina dos estudantes matriculados no centro universitário. Chan decidiu elaborar uma pequena festa na residência de seus pais — que, por sinal, tinha proporções mastondônticas — para nos auxiliar a relaxar num período tão tenso como o das avaliações finais. Já que muitos de meus amigos e colegas compareceriam à farra, convidei Hansol com o intuito de apresentá-los uns aos outros.

Ele parecia nervoso, não parava de tiritar... e tinha selecionado o pior conjunto para a ocasião: um paletó justo e engomadinho. Apesar dos avisos que dispus sobre o fato de a festa ser apenas um evento casual, meu namorado se recusou a trocar de roupa e insistiu que gostaria de se mostrar o mais apresentável possível.

— Minghao! — Chan cumprimentou quando abriu a porta e se deparou conosco. — Entra! Pode ficar à vontade.

Encaixei meus dedos ao redor do punho de Hansol e o puxei rumo ao interior da casa, que possuía como decoração apenas um jogo de luz profissional, caixas de som e uma extensa quantidade de bebidas alcoólicas distribuída pelas mesas.

Haozinho! — escutei a voz de Mingyu em meio à música alta. — E você deve ser o Hansol!

— Aquele é o Mingyu. — elevei o timbre a fim de ser ouvido.

A pele bronzeada de Mingyu brilhava devido ao suor, suas madeixas escuras grudadas na testa. Interrompendo os passos a menos de um metro de nós, ele desferiu um tapa afetuoso contra o ombro de Hansol e ergueu a garrafa de cerveja em sua mão antes de anunciar aos quatro ventos:

— Galera, o Minghao trouxe o namoradinho!

Não demorou muito até um grupo de intrometidos se aglomerar em torno de mim e Hansol, não escondendo a curiosidade e chegando a disparar inquirições pouco discretas. Ele transpareceu o nervosismo anterior diante de tantas pessoas, mas logo se tranquilizou à medida que conversava e conhecia os integrantes daquele bando de tagarelas.

— Você é corajoso. — Minkyung, já meio bêbada, elogiou. — O Xu passou o pau na faculdade intei-

Não permiti que ela concluísse a frase, pois entrelacei o braço do Chwe ao meu e fugi do amontoado. Exausto, sentou-se no sofá situado rente à janela.

— Seus amigos são bem... — procurou o adjetivo correto enquanto afrouxava a gravata.

— Não são meus amigos. — corrigi e me acomodei ao seu lado. Levei os dedos ao colarinho da camisa social dele e os desci em direção aos botões para, no momento seguinte, abrir os quatro primeiros e deixar o peito alheio parcialmente exposto. — É que eu falo com todo mundo.

Separados por uma foice e um marteloOnde histórias criam vida. Descubra agora