VI - Eletricista

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Após o incidente do cinema, Junhui me levou para casa. Admito ter estranhado a ação caridosa, mas, como não nasci ontem, rapidamente me dei conta de que o chinês apenas ofereceu companhia porque desejava sanar sua curiosidade a respeito de meu encontro com Jieqiong. Nada novo sob a luz do Sol.

Cheguei ao trabalho em um horário tardio, visto que a aula havia alongado o prazo para a apresentação de uma palestra. De início não quis permanecer no auditório, entretanto, quando Mingyu disse que a presença na palestra seria somada aos pontos, colei a bunda na poltrona e fingi ser o cara mais interessado do mundo. Precisava de uma pontuação maior, infelizmente.

Assim que me adentrei na sala de Junhui, notei a ausência de Sungho. Deslizei o olhar a todos as cômodas presentes e, ainda assim, não vi sinal do homem, que aparentemente tinha saído e deixado mais espaço a Junhui, o qual estava sentado sobre o sofá e tirava selfies de si mesmo. Levantei uma das sobrancelhas e resolvi sentar-me próximo ao maior, largando a mochila pesada no chão polido. Ele interrompeu a atenção dada à câmera frontal do aparelho de última geração e me lançou uma carranca de poucos amigos.

- Cadê o-

- Hyung? Saiu porque o filho mais velho dele dirigiu bêbado e ultrapassou o limite de velocidade. Creio que, agora, ele esteja na delegacia. Adolescente é assim mesmo.

- O senhor Ji é casado? Eu não sabia.

- Ele não é. - respondeu guardando o celular no bolso. - O hyung é divorciado há mais de uma década, mas a ex-mulher dele levou a melhor, já que atualmente é casada com um velho milionário e portador de doença terminal. Enquanto ela se enche de roupas e perfumes caros, o Sungho chora e chora.

- Mas o salário dele é bom, não? A única parte ruim do emprego do Sungho é que ele precisa aturar você.

Junhui, que havia relaxado os traços e portado uma expressão serena, não demorou muito para encurtar a paciência novamente e unir as sobrancelhas ao franzir o cenho numa feição descontente. Percebi o que disse e, sonso, banquei o desentendido.

- Mas, enfim, já que o Sungho-ssi não está aqui, o que a gente vai fazer? Ficar olhando um para a cara do outro?

- Ele pediu para a gente ensaiar uns roteiros juntos. - direcionou o queixo à mesa com uma quantidade enorme de scripts. Arregalei os olhos.

- Acho melhor a gente começar logo, então.

- Eu não faço o que aquele velhote manda.

O olhei, indignado, sem acreditar que ele faria o papel do birrento justamente naquele momento.

- Ai! - reclamou quando joguei um dos roteiros contra seu rosto. - Quem você pensa que é?

- Se você não parar de frescura, eu quebro esse celular. Qual é o seu personagem?

Ele bufou e ergueu o roteiro das coxas no intuito de ler as letras encontradas na capa com uma maior nitidez. Escolhi o mais fino dentre todos, o qual parecia pertencer a um gênero de época.

- Sou o Dong Yul, um soldado perseguido por assassinar os outros do exército na tentativa de impedir um golpe de estado. Enquanto eu fujo, acabo encontrando a princesa de um reino e me apaixonando por ela.

- Que tipo de Uchiha Itachi é você?

- Quem é Uchiha Itachi?

- Não acredito que você nunca assistiu a Naruto.

- Nunca assisti nem tenho interesse.

- Nem o Clássico?

- Nem o Clássico.

Separados por uma foice e um marteloOnde histórias criam vida. Descubra agora