II - Esquerdista

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Senhor Ji andava de um lado para o outro, massageando as têmporas e pensando em como livrar Junhui da situação presente. O ator estava sentado sobre sofá encontrado no escritório, ainda mostrando a ousadia de bocejar a cada bronca, fazendo-me revirar os olhos por tamanha infantilidade. Sungho queria apenas ajudar, enquanto Junhui ignorava completamente! Ajeitei-me no estofado, escutando as palavras do manager, tentando manter uma distância considerável de Junhui. Por mais que ele fosse um pecado, a última coisa que queria era aturá-lo;  apenas conseguia pensar no meu sofrimento por precisar aguentá-lo diariamente. Pelo menos o salário seria bom.

— Nem culpo tanto o Minghao por ele ser apenas um estudante, mas você, Junhui... Você é uma estrela! A Coreia do Sul inteira o conhece! Como pôde fazer uma atrocidade daquelas? — brigava enquanto Jun metia o foda-se. — Está surdo?

— Não, estou apenas o ignorando.

Tive de olhar para Junhui ao ouvir sua resposta, encarei o maior com desprezo, indignado devido a seu posicionamento. Senhor Ji apenas suspirou, jogando-se em uma poltrona enquanto mexia no celular. Admito ter ficado indignado, afinal, como ele podia permitir que uma pessoa mais nova o tratasse de tal maneira? Talvez o homem já estivesse acostumado com a peça para a qual trabalhava.

Um clima tenso tomou conta do escritório; o silêncio era vasto, deixando-me incomodado. Para Sungho e Junhui, parecia confortável, e eu desejava profundamente sentir o mesmo, mas estava aflito com o que acontecia. Por conta da ansiedade, questionei:

— Senhor Ji, e agora? — indaguei, preocupado. — Sei que não sou uma celebridade, mas não gosto de me envolver em polêmicas. Odeio ser o centro das atenções.

— Por que se meteu aonde não foi chamado, então? — Junhui teve que cagar pela boca.

— Eu estou falando com o senhor Ji. — respondi à patada, encarando o manager. Se olhasse para o ator, acabaria socando ele.

— E eu posso responder.

— Fique tranquilo, garoto. — Sungho, finalmente, respondeu. — Resolveremos o quanto antes. Os dois sairão com a imagem limpa.

O manager levantou-se, saindo do escritório. Analisei o cenário, praguejando ao ver que me encontrava na presença de Jun, o qual mantinha o olhar em mim. Desconfortável, saí do sofá, sentando na mesa, ainda a sentir o olhar alheio a me devorar. Engoli em seco, fingindo checar as unhas, com medo de que um chute fosse desferido repentinamente contra meu belo rosto. Ergui a atenção, deparando-me com o outro chinês de pé, o que me proporcionou um susto, pois não o tinha visto sair do sofá. A passos lentos, andou na minha direção e, quando percebi, ele estava próximo demais, tendo os braços posicionados a cada lado de meu corpo, prensando-me ali enquanto se colocava entre minhas pernas.

— O que você tem com a Jieqiong?

— O que você tem com ela? — dei ênfase a uma das palavras, fitando o minimamente mais alto.

— Eu e ela namoramos desde o ano retrasado. Isso é o suficiente?

— Namoravam. — corrigi, sorrindo de canto. — Terminaram, lembra?

— Idiota. — cuspiu em meu rosto, e eu pude ver chamas dentro de suas íris. — O que tem com ela?

— Nada. — respondi, simplista, arrancando uma reação exagerada do ator. — Surpreso?

— Não brinque comigo! — cuspiu de novo ao se recompor. — Já a beijou?

— Cara, se for pra cuspir algo no meu rosto, que seja em outro contexto. — resolvi tirar uma com ele.

— Isso foi meio...

— Você está entre as minhas pernas, então nem vem bancar o hétero.

— Só estou tentando ser ameaçador.

Separados por uma foice e um marteloOnde histórias criam vida. Descubra agora