capítulo 21

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Se eu pudesse só falar com Dax e ter certeza de que ele estava bem, talvez minha cabeça parasse de pensar nele quando não devia. Além do mais, agora éramos amigos, e eu estava preocupada com ele. Queria que sentasse com a gente para almoçar, que andasse com meus amigos, que não ficasse sozinho. Eu não sabia se ele se daria bem com meus amigos, mas valia a pena tentar. Porém, não o encontrei em lugar nenhum do colégio. Era como se ele tivesse esse superpoder de desaparecer da face da Terra sempre que queria. Na hora do almoço, sentei com meus amigos e examinei a cantina. Não que já tivesse visto Dax por ali antes, mas não custava olhar. Ele era imprevisível. Dallin fazia uma lista de planejamento de festa. — Que outras comidas lembram os mortos-vivos? — ele perguntou. Lisa levantou um palito de cenoura. — Olha aqui. Podem ser dedos. — Estou falando de comida boa — Dallin respondeu. Avi pegou a cenoura da mão de Lisa e mordeu. — Ouvi uma garota da minha turma de inglês falando dessa festa. Quantas pessoas você convidou? — Quantas eu não convidei é uma pergunta melhor. A ideia de ficar cercada por estranhos, basicamente, com música alta e uma casa lotada me deixava tensa. — Dallin. Não quero uma festa.

— Bom, tudo bem, mas já passamos dessa fase. Agora preciso da sua opinião sobre a comida. — Quanto trabalho — Zach comentou. — Não podemos só levar qualquer coisa e pronto? Dallin apontou para ele. — Isso, gosto mais desse plano. Lisa revirou os olhos. — Seus pais concordaram com a festa? — Sim, falei para eles que era para comemorar a volta da Autumn, e eles concordaram. — Não me use como desculpa para fazer uma festa — falei. Ele riu. — Uso todas as desculpas possíveis. — Quando vai ser, afinal? — No sábado. É bom você ir ou os meus pais vão pensar que eu menti. — Ai! — Bati no braço dele. Avi deu risada. — Sinto isso dez vezes por dia em relação ao Dallin. O sinal tocou. Juntei os restos do meu almoço em um saquinho de papel e o joguei na lata de lixo. — Você morreu para mim — falei para ele. — Mas para mim você nunca morre, gata. Lisa correu para me alcançar e fomos juntas para a aula de história. — Ele já foi no hospital? — perguntei. — O Dallin? — É. — Acho que sim. — Está fingindo que não aconteceu nada ou é só muito otimismo? — Acho que é só o jeito dele de lidar com tudo isso. Passei por cima de uma bandeja que foi deixada no chão perto da saída.

— É, deve ser. — Mas e você? Tem algum motivo para não estar otimista com relação à recuperação de Jeff? A sra. Matson havia dito que ele estava em coma induzido. Isso significava que os médicos estavam preocupados, não? Mas que bem faria aos meus amigos saber disso? — Não. Ele vai ficar bem. Só não tenho vontade de fazer uma festa agora. — Temos que comemorar as pequenas coisas, certo? Sorri. — Meu retorno dos mortos agora é uma coisa pequena? Ela riu. — Muito pequena. Fala sério, você só ficou trancada na biblioteca. Sorri e bati o quadril no dela. Eu podia ser mais maleável e deixar meus amigos fazerem uma festa. Talvez fosse tudo de que precisavam. Um pouco de esperança.

As roupas lavadas estavam empilhadas em cima da mesa de centro quando cheguei do colégio. Peguei as duas pilhas que eram minhas e levei para o quarto para guardar. — Autumn — meu pai chamou do corredor, segurando outra cesta de roupas. — Ah, oi. Queria perguntar se posso ir ao hospital hoje de novo. — Não foi lá ontem? — Sim, mas... — Parei ao ver que ele segurava o moletom de Dax. Meu pai deve ter notado o olhar, porque perguntou: — Isto é seu? Mantive a mentira que já tinha contado a Lisa.

— Encontrei na seção de achados e perdidos da biblioteca. Estava frio lá. Peguei para me agasalhar. — Apanhei o moletom, mas meu pai não o soltou de imediato. — Devíamos devolver. — Eu cuido disso — falei, e finalmente tirei a blusa da mão dele. Pendurei o moletom no braço e continuei andando com as duas pilhas de roupas. — Pensei que podia ser daquele menino — ele falou. Parei de repente e virei depressa, e o moletom escorregou do meu braço e caiu no chão. — Que menino? — O que a médica disse que estava com você quando os paramédicos chegaram. Meu silêncio era atônito. — Talvez ele também tenha ouvido o alarme — meu pai sugeriu. — Conseguiu entrar na biblioteca para te ajudar. Não tenho todos os detalhes. Mas acho que a polícia tem os dados dele. — A polícia? Ele riu. — Você apagou de verdade, não é? — E passou a mão no meu rosto. — Fico feliz por estar bem agora. Queria agradecer ao garoto e saber mais detalhes. Talvez eu ligue para saber como. Talvez eu ligue para saber como. Dax podia me evitar no colégio, mas não conseguiria me evitar se eu aparecesse na porta da casa dele.

Tive que dar dois telefonemas, mas finalmente consegui convencer o policial a me passar o endereço que Dax havia lhe dado. Estava agora na varanda da casa limpando as mãos, que começavam a suar, na calça jeans.

A porta se abriu com um rangido, e uma mulher que não devia ter muito mais que trinta anos apareceu. Seu cabelo era colorido, e ela vestia jeans e camiseta larga. — Pois não? — Oi. O Dax está? — Ele aprontou alguma coisa? — Não, eu só queria falar com ele. Ela me olhou da cabeça aos pés. — Ele não mora mais aqui. Abri a boca e voltei a fechá-la. — Quê? Onde ele está morando? — Quem é você? Movi os pés e forcei um sorriso, embora não tivesse os melhores sentimentos por essa mulher. — Uma amiga. Estou com algumas coisas dele. Uma coisa, na verdade, o moletom, e essa era só uma desculpa para ver o Dax. — Que coisas? Devem ser minhas. Ele pegava muitas coisas minhas. — Não são suas. Tem o endereço dele? — Estava ficando cada vez mais irritada. — Não. Só sei que ele iria para um abrigo. Fechei os olhos e respirei fundo para me acalmar. Ele havia sido mandado para um abrigo por conta disso. Por ter me ajudado. — Acho que sabe onde fica esse abrigo, mas talvez eu deva ligar para as autoridades e contar sobre a fonte de renda extra que cultiva no seu porão. — Eu disse isso? — Está me ameaçando, garota? Senti um arrepio de medo subir pelas costas. Eu nunca tinha feito nada assim antes, e tinha certeza de que isso estava estampado no meu rosto, mas eu estava ficando desesperada. — Estou.

Ela resmungou alguma coisa e bateu a porta na minha cara. Soltei um gemido frustrado e chutei a porta. Só precisava sair dali e esquecer tudo isso. Dax tinha se metido nessa confusão por se desviar do plano. Ele ia ficar bem. Logo faria dezoito anos e então poderia se afastar de tudo, como sempre quis. Eu tinha que ir ao hospital. Era lá que meu pai me havia autorizado a ir. Era lá que eu deveria estar. Virei e desci dois degraus de cimento em direção ao meu carro, mas parei quando a porta rangeu. A mulher jogou um pedaço de papel amassado na minha direção e fechou a porta. Fechou e trancou. Olhei para o papel no chão da varanda, ao lado do capacho em forma de flor e de um regador verde caído. Peguei o papel, o alisei e sorri ao ver um endereço anotado nele. Não devia me sentir tão feliz por ter usado de chantagem para tirar informações de alguém, mas, considerando a vítima, não me sentia tão mal. Tinha encontrado Dax. Ele nem precisava saber como.

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