capítulo 26 e 27

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Depois de um tempo, consegui controlar as emoções. Estava voltando para a festa com as pernas ainda meio trêmulas, quando vi Dax no deque, olhando para o quintal. Teria que passar por ele para entrar na casa, por isso forcei meu melhor sorriso e disse: — Oi. Não sabia que você viria. — Nem eu. Olhei em volta, vi várias pessoas do colégio fingindo que não prestavam atenção em nós. Isso o incomodava, provavelmente, porque ele parecia não gostar de dar a impressão de que tinha amigos. Fiz um gesto convidando-o a me seguir, e ele aceitou o convite. Eu o levei por dois corredores e abri a segunda porta à direita. A lavanderia. Estava vazia, como eu esperava que estivesse. Era pequena, uma péssima opção para quando eu precisava de um espaço aberto, mas por enquanto funcionaria, porque eu só precisava de privacidade. Fechei a porta depois de entrarmos. — Seus amigos não sabem, não é? — ele perguntou. — Que você estava na biblioteca comigo? Não, eu não contei. — Eu sabia que ele esperava que eu contasse para a escola inteira, mas eu tinha guardado seu segredo. — Não. Sobre a sua ansiedade. Eles não sabem, não é? — Ah. — Olhei para a palma das minhas mãos. — Não. — Por que não? — Não quero que me tratem diferente.

— Por que não? Eu me apoiei na secadora. — Porque não quero. — Não? Seria mais fácil que aquilo. — Ele apontou para a porta, e eu soube que se referia à cena lá embaixo, quando foi quase impossível me controlar. — Não. Eu sei como lidar com isso. — Pelo menos eu sabia. Mas ultimamente não tinha tanta certeza. Ele também não parecia estar convencido, o que significava que eu precisava mudar de assunto. — Então... — Puxei a frente de sua camisa de flanela. — O que você está fazendo aqui? — Foi o único jeito de sair de casa hoje. A decepção apagou meu sorriso. — Entendi. Lá no abrigo tem muitas regras? — Um montão delas. Seria a realização dos seus sonhos. Regras coladas em todos os lugares. Sorri. — Tudo deve funcionar na mais perfeita ordem, então. Ele riu, depois olhou para a porta fechada atrás dele. — Ela vai ficar brava por ter ficado sozinha? — Quem? — Dax perguntou. — A garota que veio com você. — A Faye? Não. Mas logo vou ter que ir para lá. Tenho certeza que ela vai entregar um relatório hoje. — Como assim? A Faye faz relatórios? — Ela mora no abrigo. O sr. Peterson confia nela. Ela queria vir à festa e eu precisava sair um pouco. — Ah, entendi. — E você? Se estão fazendo uma festa, seu namorado deve ter melhorado.

Suspirei. — Não, ele não melhorou. E ele não é meu namorado. Acho que nunca vai ser. Talvez ele melhore e as coisas nunca voltem ao normal. Talvez ele perceba que nem gosta de mim. Que quer ir morar no Alasca ou virar artista de circo. Ou talvez ele queira ser livre. Como você. Dax não respondeu a nada do que eu disse, só assentiu, pensativo. Sua atitude relaxada diminuiu minha tensão. Acompanhei o ritmo de sua respiração até eu recuperar a lucidez. Meu celular vibrou no bolso e achei que fosse Lisa, me procurando. Peguei o telefone e li a mensagem. Era da mãe de Jeff.

O Jeff abriu os olhos.

Meu peito se encheu de alegria. — Que foi? — Dax perguntou. As pessoas começaram a gritar a notícia no corredor do outro lado da porta. Dallin também deve ter recebido a mensagem. — Jeff? — Dax perguntou. — É, ele abriu os olhos. — Isso é ótimo. Juntei as mãos e Dax viu a pulseira cor-de-rosa amarrada em meu pulso. Com aquela camisa de mangas compridas, eu não conseguia ver se ele também usava a pulseira. Baixei as mãos e disse: — Sim, é. Acho que vou ao hospital de novo esta semana. Vou ver se ele quer ser artista de circo ou... — Quase concluí a frase com "meu namorado", mas alguma coisa me impediu. Não consegui dizer as palavras com Dax me olhando daquele jeito. Ele assentiu. — Tenho que ir. — Dax — chamei quando o vi segurar a maçaneta. Ele olhou para trás.

Posso contar para os meus amigos que a gente se conhece? Que somos amigos? Está me mantendo em segredo por algum motivo? — Te vejo segunda. — Foram as últimas palavras que meu cérebro covarde produziu. Ele saiu, e eu me recostei novamente na secadora e gemi. A biblioteca tinha sido bem menos complicada. Endireitei o corpo, sacudi as mãos e abri a porta. Quase atropelei Dallin, que passava pelo corredor. — Oi — falei. Ele me olhou sério, e não consegui identificar se era porque tinha visto Dax sair dali segundos antes de mim, ou se estava só curioso pelo inusitado de eu sair justamente de sua lavanderia. De qualquer maneira, ele não fez nenhum comentário, só disse: — Estava te procurando. Pensei que tivesse ido embora. Lisa apareceu atrás dele. — Eu também. — Estou aqui. — Já soube do Jeff? — Dallin perguntou. — Sim. — Legal. Vamos ao hospital amanhã. — Todo mundo? — perguntei, girando o dedo no ar para mostrar a casa inteira. — Não, todo mundo não. Só nós. Os amigos mais próximos. Você, a Avi, a Morgan, o Zach, o Connor. — E eu — Lisa falou. — Ele saiu da UTI? — Se saiu, ninguém me avisou. — Ainda não. Mas vamos encher aquela sala de espera de energia positiva — Lisa explicou. — Você vai com a gente? — Dallin perguntou. — Sim, eu vou.

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