capítulo 29 e 30

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Cheguei ao colégio meio cedo no dia seguinte e fiquei esperando Dallin no estacionamento. Ele sempre parava o carro no mesmo lugar, na fileira do fundo, de frente para a saída. Vi quando ele estacionou na vaga. Ele pegou a mochila no banco do passageiro e saiu do carro. Eu saí do meu. Tinha que consertar as coisas com ele. Dallin era amigo de Jeff havia muito tempo, e nos últimos meses havia se tornado meu amigo também. E não me agradava saber que ele estava bravo comigo. — Oi — falei, levantando o punho para ele bater. Dallin olhou para minha mão fechada e não fez nada, e eu a baixei. Mas respondeu um "oi" enquanto continuava andando. Eu o acompanhei. — Dallin, eu não pedi para ver o Jeff. Desculpa. A mãe dele me disse que você era a primeira opção de visita, mas ela ficou com medo das suas brincadeiras. — Não tinha nada de errado em uma mentirinha inocente diante de sentimentos feridos, certo? — Legal — ele respondeu, mas não era essa a reação que eu esperava. — Está chateado porque não pôde ver o Jeff ou porque eu pude? — Os dois. — Por quê? — Porque não acho que você seja a garota certa para ele. O Jeff discorda, por isso pediu para eu tentar me aproximar de você. E eu tentei, estou tentando, estou me esforçando ainda mais desde que ele foi para o hospital, porque espero que ele possa sentir isso de algum jeito ou pelo

menos que o universo perceba. Mas ainda acho que você não é o melhor para ele. Está mexendo com a cabeça do cara há meses. — Mexendo com a cabeça dele? — É, você não se importa. Está sempre sumindo. Fugindo. Fazendo o Jeff correr atrás de você. Fiz uma festa para você e você sumiu. Parece que se acha boa demais para nós. Meu queixo caiu com o choque e não consegui pensar em nada para dizer de imediato. Era assim que meus amigos viam minha ansiedade? Acreditavam que eu me achava boa demais para eles? — Não é nada disso. Tenho algumas dificuldades, mas nunca achei isso. Nunca. Eu precisava engolir o orgulho e me explicar melhor, falar sobre o transtorno de ansiedade, mas ele continuava andando como se não quisesse me ouvir. — Ele está sempre te procurando, correndo atrás e fugindo com você. Como fez no dia da fogueira. — Eu nem estava na fogueira. Eu não fui. Vocês me deixaram na biblioteca. — Mas se você não tivesse esse hábito de sumir... — Ele ainda teria ido sem mim. Como vocês todos foram. — Mas depois que te encontraram na biblioteca e eu descobri que você nem tinha ido até a fogueira, percebi que ele estava correndo atrás de você. E, se não estivesse, não teria tanta pressa e teria sido mais cuidadoso. Tive a sensação de que meu coração estava parando de bater. — Acha que eu sou culpada por ele estar no hospital? — Só estou dizendo... Parei de andar. Meus olhos ardiam. Ele olhou para trás, deu de ombros e seguiu em frente. Fiquei ali no meio do estacionamento, vendo Dallin se afastar. Levei uns dois minutos para decidir se ficava na escola ou voltava para o carro, ia para a casa e me enfiava na cama. Em casa eu passaria o tempo

todo pensando nas palavras de Dallin. Elas ficariam rodando na minha cabeça. Eu precisava falar com Lisa, Avi e Morgan. Eu tinha que ter certeza de que Dallin era o único que pensava assim. Mas, enquanto isso não acontecia, eu precisava de uma distração. Alguém com quem não tivesse que falar sobre esse problema. Alguém que não pensasse essas coisas de mim.

Eu o encontrei perto dos ônibus dez minutos antes do início da primeira aula. — Dax — chamei. Ele acenou com a cabeça. — Oi, a gente pode conversar? Posso falar com você? — pedi, ofegante. — Ah... — Ele olhou para os alunos à nossa volta. Eu também olhei em volta, tentando encontrar um lugar mais discreto, se era disso que ele precisava. A estufa era o prédio mais próximo, raramente usado no inverno. Sem dizer mais nada, fui para lá e torci para ele me seguir. Também torci para a porta não estar trancada. Não estava, e ele me seguiu. Entrei. Lá era mais quente, o ar era úmido e tinha cheiro de terra. Fileiras de vasos com plantas amareladas cobriam as mesas. — Fala alguma coisa alegre — pedi e virei de frente para ele. — Está me confundindo com outra pessoa? A frase foi suficiente para me deixar mais leve. — Tive um começo de manhã horroroso. — Mas são só sete e meia. — Eu sei. Ele afastou um vaso e sentou na mesa. — O que aconteceu? — Coisas idiotas. Não quero falar sobre isso. Preciso esquecer.

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