capítulo 11

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Ou talvez ninguém notasse. Puxei a corda dezenas de vezes, depois desci e fiquei perto da porta principal, esperando alguém chegar. Uma hora mais tarde, não havia nenhuma multidão do lado de fora da biblioteca, muito menos bombeiros preparados para fazer um resgate. Não, lá fora só havia um monte de neve intocada. Eu poderia tocar o sino mil vezes e ninguém ouviria. Eu me afastei lentamente da porta da frente, me preparando para subir a escada de novo, quando tive uma ideia. Alarme de incêndio. Eu era uma idiota, mesmo. Estava em uma biblioteca pública. Havia um alarme muito melhor no prédio. Por que não pensei nisso antes?

Certamente deveria haver uma alavanca vermelha bem à vista na parede, pronta para ser acionada em caso de emergência. Mas estava escurecendo, o que complicava as coisas. Eu havia encontrado o compartimento de vidro com o extintor de incêndio. Aquele com a inscrição: "Em caso de incêndio, quebre o vidro". Deduzi que quebrar o vidro dispararia o alarme, mas me sentia mal por fazer isso quando não havia realmente um incêndio. Tinha que ter uma alavanca por aqui em algum lugar. Alguma coisa que não dependesse de quebrar um vidro. Talvez estivesse na sala principal.

Quando entrei, Dax estava novamente em seu lugar de costume, com o livro na mão, como se nem tivesse saído dali. Depois que dei uma volta na sala, ele perguntou: — O que está fazendo? — Tenho um plano. — Ele ia odiar, provavelmente, porque minha intenção era trazer as autoridades até nós, mas eu não ligava. Fui até o balcão da recepção e procurei um botão de emergência embaixo dela. Todos os prédios tinham esse equipamento ou só os bancos? — Não vai me contar? — Ah, agora quer conversar? Ele não respondeu, e eu estava cansada do seu joguinho grosseiro. Aquele em que ele fazia o menor esforço e esperava os maiores resultados. Eu também não precisava falar. Cozinha! Devia ter um alarme de incêndio na cozinha, sem dúvida. Era lá que havia a maior probabilidade de princípio de fogo em um lugar como aquele. Fui até lá. Ouvi os passos de Dax na escada atrás de mim. Tudo bem. Ele podia acompanhar meu plano em tempo real. Eu estava certa. Do lado de fora da cozinha, na parede, estava meu farol vermelho de esperança. Soltei um grito de alívio. Mas, quando me aproximei dele, fui bruscamente puxada para trás pelo quadril. — O que está fazendo? — ele perguntou. Virei para encará-lo. — Salvando a gente. Os bombeiros vão perceber que tem alguém aqui e vão salvar a gente. Ele se colocou entre mim e o botão de alarme. — Depois de quebrarem a porta a machadadas. Sem falar que o alarme deve estar ligado aos sprinklers. A sua família vai cobrir o prejuízo? Olhei para o teto. Sim, havia sprinklers. — Não consegue mesmo ficar mais dois dias aqui? É tão ruim assim? Pensei no ataque de pânico pelo qual eu tinha acabado de passar, em como meu coração parecia querer saltar do peito. Eu não queria passar por

outra crise dessa. — Sim. É. Quero ir para casa. Duvido que o alarme dispare os sprinklers. Normalmente, tem que ter fumaça para isso. Tem uma janela ao lado da porta da frente. Vou ficar lá e avisar os bombeiros que não tem fogo, só pessoas presas. Eles não vão quebrar nada. Vão pegar uma chave, alguma coisa assim. — Eu não sabia se isso era verdade. Talvez alguém tentasse entrar pelos fundos ou por alguma janela. Mas eu precisava realmente disso. — Sai. — Tenho que conseguir ir embora sem ser visto. Não faz isso. Por mim. — Acha que porque jogamos baralho agora somos amigos? Ele riu. — Eu sou um babaca. Nós dois sabemos disso, mas você não é. Não atraia os bombeiros para cá. — Por quê? Qual é o problema? O que está escondendo? — Não estou escondendo nada. Só não quero estar no radar deles. — Por que isso o poria no radar deles? — Um adolescente trancado por acidente em uma biblioteca com uma bolsa de roupa? — Você pode dizer que ia para a casa de um amigo depois de estudar. Eu também teria minha bolsa aqui, se não a tivesse deixado no carro do meu amigo. — Eu só tenho mais uma chance, sabia? — Quê? Como assim? — Não quero acabar em um abrigo. Se tiver mais um problema, é isso que vai acontecer. Eu não duraria um dia lá. Eles têm horários e regras. Eu preciso de liberdade. Cruzei os braços e bufei. — Por que está aqui? De verdade? Ele passou a mão no cabelo. — Isso importa?

— Sim. Pode ser a diferença entre apertar ou não o botão de alarme quando você estiver dormindo. — Está fazendo chantagem para me fazer falar? — Vamos dizer que isso é compartilhar entre amigos. Ele balançou a cabeça e um sorriso surgiu em seu rosto. Tinha alguma coisa muito boa em um sorriso que precisava ser conquistado. Mas ele desapareceu tão rápido quanto havia surgido. — Minhas coisas estavam na varanda. Eu ia para o cânion, quando começou a nevar. É isso. Vai desistir do alarme agora? — O quê? Como é que é? Os seus pais temporários puseram seu saco de dormir e sua bolsa na varanda? — Por isso ele não tinha um carregador para o celular? Por que não havia arrumado a própria bolsa? — Por que eles fizeram isso? — Não sei. Devem ter uma festa só para vendedores de Tupperware hoje à noite. Não costumo fazer perguntas. Não me interessa. — Pelo menos eles mandaram uma escova de dentes. — Eu tentava ver o lado positivo disso, quando era óbvio que não tinha nada de bom nessa história. — Eu sempre deixo a bolsa preparada, pronta para sair. Gosto de dormir no cânion de vez em quando. Lá é incrível. Mas não gosto de dormir na neve. — Por isso veio para cá. — Isso. Fim do mistério. Viu? Não é tão sórdido quanto devia estar imaginando. Não, era pior do que eu imaginava. Quem fazia isso? Quem punha um adolescente na rua sozinho para poder... o que eles estavam fazendo para não o querer por perto? — A escola inteira vai saber disso na terça-feira ou só os funcionários? — Não. É claro que não, não vou contar para ninguém. — Mas talvez eu devesse contar para alguém. Meus pais, sei lá. Ele não merecia viver desse jeito.

Meus pensamentos deviam estar escritos na testa, porque ele disse: — Autumn. Eu pareço alguém que não recebe cuidados? Eu o estudei da cabeça aos pés. Ele estava certo. Não parecia faminto. Era magro, mas forte. A pele era lisa, não havia olheiras, nada disso. O cabelo era grosso. Ele parecia muito bem, na verdade. Realmente bem. Senti o rosto quente e parei imediatamente de analisá-lo. — Não. Você parece... É só que... — Então vamos em frente. Estou bem. — Ele apontou para o alarme de incêndio. — Não toca nisso. Sua história e o fato de eu não saber se toda a biblioteca seria encharcada pelos sprinklers, caso eu apertasse o botão, decidiram por mim. Eu podia ficar aqui. Isso não era nenhum grande problema. Dax tinha muito mais a perder do que eu. Levantei as mãos. — Tudo bem. — Dois dias. Você aguenta dois dias. Tenho mais barras de proteína na bolsa. Pode ficar com elas. Eu não ia comer as barras sozinha. Isso me faria sentir muito mal. — Normalmente leva tão pouca comida quando vai acampar? — Normalmente não fico trancado dentro de um prédio. É sério, a biblioteca não estava nos meus planos. Decidi de última hora. Esfreguei os braços. — Esse prédio é realmente mais quente do que acampar na neve? Ele sorriu. — Podemos ao menos tentar ligar o aquecimento?

Estávamos lado a lado, na frente do termostato. Dax tinha usado a faca para destravar a porta. Agora ele apertava o botão de "ligar", mas a luz piscava e desligava de novo. — Talvez seja programado para durar um tempo — ele comentou.

— Deixa eu tentar. — Seu jeito de apertar o botão é diferente do meu? Eu o empurrei com um ombro. — Talvez. — Empurrei o botão para a posição de "ligar" várias vezes, torcendo para o aquecimento começar a funcionar, mas dessa vez a luz nem piscou. Abri o painel. Na parte de trás tinha instruções para programar o sistema, mas nem seguir os passos ao pé da letra resolveu o problema. — Pode usar esse moletom também, se quiser. — Ele puxou a frente da blusa que estava usando. — Não, tudo bem. Por enquanto estou bem. Só acho que vai esfriar mais. — Provavelmente está ligado, mas no mínimo. Eles não iam deixar os canos congelarem. Ele estava certo. Talvez esse fosse todo o frio que teríamos que enfrentar. — Odeio sentir frio. — Virei para ele. — Odeio especialmente orelhas frias. Sente. — Sentir suas orelhas? — É. — Por quê? Quando ficou evidente que ele não as tocaria espontaneamente, segurei seus pulsos e levei suas mãos às minhas orelhas. Agora estávamos frente a frente. Dax era trinta centímetros mais alto, e levantei a cabeça para olhar para ele. Suas mãos eram quentes, o que me fez ter certeza de que minhas orelhas deviam estar tão frias quanto eu sabia que estariam. — Viu? Frias. Ele não disse nada, só ficou olhando para mim. Eu me senti idiota e dei um passo para trás. — Meias. Talvez possa me emprestar um par de meias. — Para as orelhas?

Sorri. — Para os pés. Ele pigarreou e olhou para os meus pés, para as meias finas e curtas. — Sim. — Com um gesto surpreendente, ele puxou o capuz do moletom que eu usava sobre a cabeça e apertou o cordão, deixando só uma pequena abertura para eu poder enxergar. — Isso também deve ajudar. — Havia um brilho debochado em seus olhos, um brilho que eu nunca tinha visto antes. Dei risada e o empurrei, depois me libertei do capuz. Uma lâmpada no teto se acendeu. Eu não tinha percebido que estava escuro. Passamos o dia inteiro na biblioteca. Mais dois, e isso acabaria.

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