Emoções descontroladas

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Minhas pernas estavam bambas. Meu coração, já cansado de bater tão forte por tantas emoções, estava encurralado na única possibilidade de um ritmo lento e desesperado. A cena havia sido congelada em minha alma, em minha mente. E meus olhos ainda presos aos olhos do homem que eu amava, e que havia me traído. Os olhos estavam todos voltados para mim. Esperando alguma reação. Esperando o que seria normal vindo da minha parte: Rebelar-me. E eu fiz a única coisa que eu consegui fazer. Joguei meus joelhos ao chão. Abaixei a minha cabeça. E eu pude admitir, eu havia sido derrotada. Nem mesmo anos lidando com pessoas, tentando descobrir a real intenção de todas elas, nem mesmo criando a minha própria heroína, eu consegui fugir de ser traída. Eu não suspeitei de Javier. Não hesitei em confiar nele por nenhum segundo sequer. E de cabeça baixa, as lágrimas incoerentes caíam pelo meu rosto, molhando o chão.

-Parabéns. - Falei, em voz baixa.

-O que disse? - Ódio me incentivou.

-Parabéns. - Eu gritei. Meus olhos estavam vermelhos, assim como minha face, e eu sabia disso. Mas minha voz estava melhor do que nunca. - Parabéns por ser tão sujo. Passar anos tentando me derrotar, para no final, usar contra mim a minha própria arma. - Apoiei-me em um joelho e levantei-me, para olhá-lo nos olhos. Sorri de lado. Bati palmas. - Não consegue ser melhor do que isso, Ódio? - Ri com amargor. Minhas palavras eram expelidas como veneno, cuspidas com tudo aquilo que eu sentia. Girei o pulso e percebi que estava com os punhos cerrados. Olhei novamente em seus olhos. Um vislumbre de um tipo de sentimento surgiu neles. E eu sabia qual era. O Ódio estava sentindo medo. - Qual é o problema, Ódio? O gato comeu sua língua? - Passei a língua nos dentes, saboreando minhas palavras. Coloquei as mãos nos quadris.

-Não seja tão confiante, senhorita. Pelos meus cálculos, você tem pouco tempo de vida.

-Isso não chega a entrar no assunto. Estou viva. E posso te matar exatamente agora, se eu quiser. Agora, se essa porcaria da sua língua serve para alguma coisa, conte-me sobre seu plano.

-Nada demais. Javier se infiltraria, ganhando sua confiança. Daria-me detalhes sobre vocês. Falaria sobre todos os seus planos. Manteria-me informado sobre toda e qualquer atividade. E sim, todos os seus Cupidos restantes, os que ainda tinham contato com a coordenadora, não têm mais.

-O que você fez com eles? - Soltei meus dedos. Meus olhos arregalaram-se. Entrei em posição de mãe, de líder.

-Acha mesmo que eu contaria isto a você? Agora iremos embora. Sombras, venham comigo! Javier, venha comigo. Obrigado pelo seu maravilhoso trabalho. Recompensarei-o com tudo o que requisitou. E, Cupido - olhou para mim - foi um prazer revê-la.

-Não posso dizer o mesmo.

Coloquei meus olhos em Javier. Estava pálido, sem expressão. Frio, como o homem que ele realmente era. Olhei-o até que meus olhos pudessem dissecar sua alma. E, como qualquer ser humano, ele desviou seus olhos dos meus. E foi embora, desrespeitosamente.

Retornamos para o depósito em um silêncio mórbido, como se voltássemos de algum funeral. Despejei meu corpo em minha cama. Eu precisava de algum consolo, e estava me sentindo uma adolescente estúpida por isso. Meus olhos deslizaram até o smartphone em minha cômoda. Coloquei os fones em meu ouvido.

If you respect me (Se você me respeita)

Don't protect me (Não me proteja)

You can tell me, I can handle it (Você pode me dizer, eu posso lidar com isso)

Stop pretending, cause we're going down (Pare de fingir, porque estamos afundando)

If you let go, then just let go (Se você tem que ir, então apenas vá)

It's disrespectful how you've handled this (Desrespeitosamente, como você tem lidado com isso)

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