Amor.

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Ainda que eu falasse as línguas dos homens e dos anjos, e não tivesse amor, seria como o metal que soa ou como o címbalo que retine.

E ainda que tivesse o dom de profecia, e conhecesse todos os mistérios e toda a ciência, e ainda que tivesse toda fé, de maneira tal que transportasse os montes, e não tivesse amor, nada seria.

E ainda que distribuísse todos os meus bens para sustento dos pobres e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado,e não tivesse amor, nada disso me aproveitaria.

O amor é sofredor, é benigno; o amor não é invejoso; o amor não se vangloria, não se ensoberbece,

não se porta inconvenientemente, não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não suspeita mal;

não se regozija com a injustiça, mas se regozija com a verdade;

tudo sofre, tudo crê, tudo espera, tudo suporta.

O amor jamais acaba; mas havendo profecias, serão aniquiladas; havendo línguas, cessarão; havendo ciência, desaparecerá;

porque, em parte conhecemos, e em parte profetizamos;

mas, quando vier o que é perfeito, então o que é em parte será aniquilado.

Quando eu era menino, falava como menino, sentia como menino, discorria como menino, sentia como menino, mas, logo que cheguei a ser homem, acabei com as coisas de menino. 

Porque agora vemos como por espelho, em enigma, mas então veremos face a face; agora conheço em parte, mas então conhecerei plenamente, como também sou plenamente conhecido.

Agora, pois, permanecem a fé, a esperança, o amor, estes três; mas o maior destes é o amor.

1 Coríntios 13.

Procurar a definição de amor jamais foi fácil.

Viver anos e anos vendo o amor, criando o amor, falando sobre o amor. E eu nunca soube o que era o amor, não de verdade.

Eu nunca precisei amar porque eu não fazia noção do que era o amor. Como eu deveria amar? Como eu poderia amar? Eu achei que todas essas perguntas já tivessem sido respondidas. 

E há apenas uma coisa a ser falada:

Podemos viver anos buscando o sentido de algo, mas nunca iremos saber nada por inteiro.

Todas as coisas, pessoas e sentimentos possuem distinções e peculiaridades. Ninguém sente do mesmo jeito, ninguém age do mesmo jeito.

Então o que é o amor?

Não me peça a resposta.

Tentamos fazer as nossas meras definições, sem entender o amor por completo. Sem provar dele por completo. Não, não tente definir o amor. Nem a alegria, nem a tristeza. Não tente definir as coisas. Somos seres limitados e às vezes agimos como se tivéssemos todo o conhecimento do mundo. 

Só que...

Existem coisas associadas ao amor.

Com o amor vêm:

A alegria.

A esperança.

A vida. 

A saudade.

O carinho.

O cuidado.

O desejo.

A benignidade.

A solidariedade.

O sacrifício.

E esta é uma pequena e limitada lista, que não consegue definir o que é o amor. 

Para você, o que é o amor?

O amor faz parte do infinito.

(...)


Estas são as minhas últimas palavras.

Não há como ter um final bom ou um final ruim, apenas um final realista. E se você leu até o final, sabe que as coisas muito provavelmente não vão melhorar.

Eu me sacrifiquei por Javier. Eu fiquei com ele. Tive a certeza de que isso seria o princípio do caos no mundo, mas eu jamais poderia largá-lo. Minhas intenções foram pura e simplesmente egoístas, apenas visando o meu bem e o bem dele. 

A questão é: Eu amei de forma correta?

O certo seria sacrificar o meu relacionamento e trazer a tão sonhada "paz mundial": Eu tinha o poder disto em minhas mãos e o julguei ridículo. Minha opinião não muda.

Eu não precisava de paz mundial. Não precisava ver pessoas felizes e cheias de amor para que me sentisse satisfeita. Não precisava de ninguém me dizendo o quanto eu faria o meu trabalho perfeitamente bem, mesmo que todas essas opções fossem contemplativas.

-Eu escolho - Hesitei por um segundo - Javier.

-Você acha que esta é a melhor decisão a ser tomada, Íris? - Ela inclinou a cabeça para o lado direito, em uma breve sensação de pena.

-A melhor decisão nem sempre é a decisão certa, coordenadora. - Falei com frieza. - Continue fazendo o seu trabalho. E espero que o faça nada mais nem nada menos do que perfeitamente. Caso contrário, tomarei de você, não importa o quanto você tente mantê-lo. Entendido?

Ela não me respondeu. Meneou levemente a cabeça. Levantei-me sem despedida. Atravessei a porta, e tudo ficou escuro. 

(...)

-Bom dia, flor do dia. - Eu reconheceria aquela voz em qualquer lugar. - Este aqui é o meu apartamento. Gostou? - Ele parecia animado. Levantei-me. Eu lembrava dos últimos acontecimentos. 

-Por quanto tempo fiquei desacordada?

-Não muito. Umas doze horas. Foi o seu soninho de beleza durante a noite. - Ele riu. - O sono que você nunca teve.

-Minha cabeça dói. - Resmungo. 

-Vou fazer um café da manhã caprichado para você. 

Sorri. Levantei-me da cama, e percebi que Javier cuidadosamente comprou roupas novas para mim e as deixou do lado da cama. Fui ao banheiro. Quando olhei-me no espelho tive uma surpresa. A jovem do outro lado era eu. E ela não se parecia com quem achei que fosse.

Os cabelos na metade das costas estavam muito bem cortados, limpos, e tinham uma cor preta vibrante. A pele, meio parda e meio morena reluzia às lâmpadas artificiais. As sobrancelhas grossas davam um charme ao rosto oval. Olhos espertos e castanhos me encaravam. Minha boca se curvou perfeitamente. 

-Javier! - Gritei.

-Oi! - Veio, afobado. - Tudo bem? - Seus olhos encontraram os meus no espelho. Eu poderia ser bonita, mas ele superava qualquer tipo de beleza.

-Javier, sou eu. - Mal conseguia pronunciar as palavras. Suas feições se acalmaram.

-Sim, é você. E você é linda. - Colocou as mãos em minha cintura e me envolveu em um beijo. - Não me deixe, nunca mais.

Jamais me arrependerei da escolha que fiz. 

Sei que outras coisas podem acontecer.

Mas aqui, agora...

Meu lugar é com ele.


FIM.

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