Comunicação

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Fazia tempo que não cuidava de mim como realmente deveria. Lavei meus cabelos, coloquei a roupa mais bonita no armário e maquiei-me. Sorri com o resultado.

Parei frente à porta de Gabriel e hesitei pouco antes de entrar. Bati algumas vezes, e logo, seu sorriso encantador estava à minha frente.


-Ótima novidade. - Ele me puxou pelo braço, fazendo-me sentar na poltrona próxima a sua cama. O espaço tinha um toque de sua personalidade. Um azul-ciano infestava as paredes de seu quarto, trazendo uma tranquilidade contemplativa. Os objetos meticulosamente arrumados. Os livros organizados do maior para o menor, também levando em conta suas respectivas larguras. O cheiro de lavanda me permitia uma doce sensação de lar. - Eu sei aonde eles estão. - Então seus olhos repousam em mim. - Você está linda. Faz tempo que não usa um vestido, e nem maquiagem. Uau.


-Obrigada! - Sorri, aceitando o elogio. - Agora me diga, aonde eles estão?


-Querida Cupido. - Ele faz uma pausa dramática antes de continuar. - Iremos para Paris, na França! A cidade do amor. - Ele imita o sotaque de um francês, me fazendo sorrir. Como ficaria séria perto do meu anjo da guarda?


-É realmente irônico. Eles estão encarcerados na nossa cidade. Na cidade do amor.


-Inclusive, poderemos fazer alguma coisa divertida por lá, não acha? - Isso foi um pedido? Para um encontro? O que responder? Pense, Cupido, pense. Olhe nos olhos dele. O que será que ele quis dizer com isso?


-É claro. - Eu disse, por fim. Sério? Você realmente quer sentir alguma coisa por ele? Isso é perigoso, Cupido. Não confunda compaixão com amor.


-Temos que avisar aos outros. Pode fazer um pronunciamento?


-Obviamente. - Seus olhos procuraram o sentimento mais profundo da minha alma, e eu desviei meu olhar do dele, limpando uma poeira imaginária em meu vestido. - Vamos. - Levantei-me.


Andamos até o ponto mais alto do depósito para fazer o pronunciamento. Todos os Cupidos olhavam para mim, com expectativa.


-Cupidos! - Chamei a atenção de todos. - Nossos últimos meses foram terríveis. Ataques constantes dos Sombras. Mortes de alguns de nossos companheiros. Traições. - Quase engasguei ao pronunciar o último tópico. - Ódio. E hoje, somos pessoas diferentes. Somos guerreiros. Nossa sede de vingança é tão árdua quanto nossa luta por amor. Juntem-se a nós na procura pela coordenadora. Queremos respostas, e iremos atrás dos nossos companheiros presos pelo Ódio. Esperamos que todos estejam vivos e bem. E, adicionalmente, temos algo que irá impressionar a todos: Sabemos aonde eles estão. Companheiros, iremos para Paris! - Eles explodem em um brado de vitória. Eu amo o meu povo.


-Eles estão felizes. - Gabriel comentou, ao pé do meu ouvido. - Você é boa nessas coisas de discursos. Acho que não poderia haver melhor líder.


-Gabriel, Gabriel. - Suspirei. - Quem eu seria sem vocês?


-Uma vingativa amazona solitária. - Ele sorriu. E talvez eu acabasse sendo, se escolhesse ficar sozinha.


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