Viagens desagradáveis

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Eu acordei assustada, mesmo sabendo que era um sonho. Sua voz grave ainda estava presa aos meus ouvidos, ressonando na minha alma. Seus olhos ainda estavam gravados em minha mente, e ele repetia as mesmas palavras. "Eu te amo, Íris."


Em apenas quinze minutos chegaríamos ao nosso destino. Os olhos atentos de Gabriel rondavam o avião, em busca de um possível problema. Os músculos tensos e rígidos deixavam sua ansiedade à mostra. Coloquei uma mão em seu ombro e seu tronco relaxou na cadeira.


-Eu tive um sonho. - Falei.


-E como foi? Foi bom?


-Não exatamente. Javier estava nele. - Ele arqueou uma sobrancelha. - Pediu para que eu o encontrasse no Louvre, meio-dia, daqui a dois dias. Falou algo sobre meu cerne. Disse que eu tenho um nome.



-Qual nome? - Ele questionou.


-Íris. - A minha garganta coçou e eu precisei limpá-la. Ele entendeu que eu não gostaria de discutir sobre o assunto e calou-se. O avião pousou. Descemos e encarei meus companheiros de equipe. Entre eles estavam Gabriel, Jena, Nathalie, Gustave, Therese, Julian, Kirsten, Alex, Paul, Jarvis; e por fim, eu.


-Precisaremos alugar algum lugar aqui para nos instalarmos. Temos dinheiro suficiente para um hotel, não temos, Kirsten? - Ele perguntou. Kirsten cuida de nossas despesas desde o começo do depósito. Uma das primeiras a se juntar à nossa organização. O mais engraçado é que todos os cupidos receberam nomes depois de se juntar à organização, e apenas eu continuo sendo chamada de Cupido por todos eles.


-Correto. - Kirsten balança a cabeça afirmativamente. - Sei de um lugar a uns dois quilômetros daqui. Não é distante para irmos a pé, mesmo estando com malas.


-Pode ser. - Gabriel olhou para mim e eu assenti.


O ar francês era um tanto quanto doentio. Encobria meu coração, envolvia-o com uma capa negra de indiferença. E isso pouco importava. Enquanto eu parecia indiferente para as pessoas ao meu redor, as palavras de Javier ditas através do telefone verde ainda ecoavam em minha mente. Uma lágrima solitária escorreu pelo canto do meu rosto e eu limpei-a com as costas das mãos. Passo por passo, eu seguia, sem me importar com os olhares um tanto quanto xenofóbicos de alguns dos franceses ou de olhares curiosos para um grupo cheio de bagagens no meio da rua.


Cantarolei uma canção francesa sobre Napoleão até chegarmos ao nosso destino. Os grandes monumentos históricos não me foram muito contemplativos. Não desta vez. Eu preferia apenas sentar e fazer planos para acabar com a mulher que provavelmente poderia acabar com a minha vida. E logo, com a vida de Gabriel. E talvez... Também com a vida de Javier. Eu gostaria de protegê-lo.


-Só há quartos para casal, e um quarto triplo, o que cabe perfeitamente na nossa situação. - Kirsten avisou. - Podemos nos dividir, Cupido?


-Façam como quiserem.


Gabriel e eu ficamos no mesmo quarto, o que nos deu uma vantagem maior para conversarmos sobre o meu sonho com Javier.

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