" A primeira vez é sempre difícil "

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A dias o secretário observava Kana apenas pelo vidro da UTI, ainda vestido com o pijama de hospital, Mild se postava à frente da porta de pvc, com o pequeno visor de vidro. Desde que foi resgatado Gulf não falou uma palavra com ninguém, nem com ele, Apo, Baii ou se quer os médicos. Quem lhe tratava era uma médica, ainda sim com todas restrições de fala e toques, o garoto teve que ser instruído a fazer sua própria coleta de sangue. Se por sorte ou azar Mild não saberia dizer, mas Kanawut havia ficado cinco dias em coma, sendo assim a parte mais importante e crítica do tratamento havia sido feita com ele inconsciente.

Daqui a dois dias ele seria transferido para um quarto, Mild chorava silencioso no abraço de Park, o segurança solicitou demissão a Bright pra cuidar do amado, mas recebeu apenas umas férias prolongadas. Bright também havia sido impactado por tudo aquilo, o sumiço de Gulf não lhe deixou dormir, abdicando de sua carreira de modelo, ele não mediu esforços sejam físicos ou monetários pra ajudar a encontrar o amigo. Respirando fundo Mild se afasta seguindo para o quarto, mas não seria o seu, e sim o do próximo homem a ter sua atenção. Suppasit estava tranquilamente deitado sob a cama limpa e bem arrumada, os pequenos arranhões no rosto já estavam melhor, o ombro ferido também estava melhor, ainda sim Mild chorava fraco ao seu lado. No meio de toda aquela confusão ninguém teve tempo de perguntar ou avisar que Suppasit era alérgico a anestesia, durante a cirurgia o segurança teve um choque anafilático pegando os médicos de supressa já que tal reação era rara, a complicação durante o procedimento levou o segurança ao coma.

...

A luz do sol era forte e invadia a janela, mas Kanawut não se sentia aquecido, sua pele ainda parecia fria, os pensamentos desde que acordara eram torturante. Ele sabia que ninguém teve culpa do que lhe aconteceu, ele sabia e via que muitos sofreram sua falta, mas o sentimento de magoa não sumia de seu peito. Três meses... três dolorosos, angustiantes e traumáticos meses, ele passou lá, como puderam não lhe achar antes ? O que ocupou seus tempos que sua vida e segurança estavam em segundo lugar ?

O remorso por tais pensamentos era sufocante ao garoto, crises de pânico e ansiedade viam ganhando espaço em seu dia a dia, e agora a presença de tal se fazia ainda mais presente já que hoje ele teria a primeira conversa com o psicólogo, condições exigida pela médica pra que autorizasse sua subida para um quarto ao invés do leito de observação, o menor ainda precisava de acompanhamento, porém a ala de tratamento intensivo era movimentada e Gulf tinha crises de pânico a cada novo paciente que ali dava entrada. Todo um arranjo teve que ser feito, afinal Gulf Kanawut não era um anônimo, seu sumiço e resgate foi acompanhado em rede nacional. O médico de hoje é quem ditaria se ele tem condições de compartilhar um quarto ou que sa ficar sozinho. A sala onde fora instruído a esperar era clara e espaçosa, alguns brinquedos e uma pequena mesa ocupavam o espaço da sala. Mexendo em algumas pessas de lego que achara por ali, Kana se assusta quando alguém entra na sala. O homem era alto e bonito, o jaleco branco deixava claro quem ele era — Me desculpe, não quis lhe assustar. Sou Saint Suppapong, é um prazer lhe conhecer senhor Kanawut – o sorriso do homem era simpático, Gulf tentou retribuir mas suas feições não conseguiram ser disfarçadas — Tudo bem a primeira vez é sempre difícil, mas não se preocupe vamos apenas conversar, sem respostas certas ou erradas – Kana precisava admitir que o sorriso do homem era caloroso — Por favor sente-se – o médico lhe chama até uma cadeira a sua frente, Gulf ainda se sentia inquieto por estar sozinho com aquele homem — Então senhor Kanawut, tem algo que queira me dizer ou perguntar ? – o médico parecia jovem, calmo, e amigável, mas sua atenção voltada completamente pra si deixava Gulf agitado, e como bom médico que era Saint percebeu isso, rapidamente desviou os olhos em direção a prancheta e começou a rabiscar algo por ali, ao mesmo tempo que seu ato relaxou Gulf, também deixou o garoto curioso — O que você tanto escreve ? – ele não se contém em perguntar, e pra sua surpresa o médico lhe respondeu sem nenhum problema — Um desenho – por sorte ele informou o que estava fazendo, pois caso contrário Gulf não saberia como reagir quando a prancheta foi vira em sua direção. Alguns rabiscos estavam espalhados pelas folha, formas podiam ser vistas mas jamais seria identificadas, o médico deve ter percebido as sobrancelhas franzidas do garoto — Por isso entre pra medicina e não pras artes – a leve risada dada pelo médico ganhou um pequeno sorriso de Kana — E você senhor Kanawut, me conte um pouco sobre você...

Proteja-me Enquanto PuderOnde histórias criam vida. Descubra agora