"Gato ou cachorro?"

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8 horas antes

— Eii não me olha assim, papai estava com a agenda cheia, mas vim só pra almoçar com você – o garoto mal chegou em casa e já foi correndo até o pequeno ser enfezado e carente.O animalzinho parecia sempre descontente com a situação, ainda que não as tivesse era como se o pequeno gato estivesse com a sobrancelhas franzidas em descrença a desculpa dada pelo dono. Mas como sempre Kana se desmancha de amores pelo pequeno rabugento. E pensar que no começo essa relação não foi tão amorosa assim...


8 meses atrás

A janela do quarto deixava o sol entrar de forma ampla, mas o garoto sentado sobre a guarda da janela não se sentia aquecido e a batida da porta não alterou seu jeito perdido — Gulf, sou eu, posso entrar ? – a jovem garota pergunta à porta, como em todas as vezes que vem até ele, e como em todas elas, não recebe uma resposta. Gulf já não lhe culpava mais pelo que aconteceu com Mew, ele entendeu que ela apenas fez o que devia fazer, mas se ela não tivesse deixado o policial entrar tal Mew ainda estivesse... Não, nada seria diferente — Gulf você vai ? Hoje é dia de – o menor apenas balança a cabeça negando seu convite. O dia de visitação na cadeia era sempre informado ao mais novo, mas em nenhuma delas Kana compareceu — Tudo bem, sei que ele vai entender – a menor larga uma pequena bandeja com o café da manhã e logo volta a lhe deixar sozinho.

Kanawut ainda se lembra do dia do julgamento, por mais experiente que o advogado fosse, as provas gravadas não deram chance ao segurança, que assumindo sua culpa confessou o crime sendo sentenciado a um ano de prisão. Gulf viu o mais velho ser mais uma vez tirado de si, a dor daquela perda lhe colocou em estado catatonico por um mês, sendo inclusive internado em um retiro psiquiátrico, os pesadelos consumiam sua mente de forma assustadora. A ideia de que dinheiro compra qualidade é supervalorizada, por sorte, além de um médico, Gulf ganhou um amigo. Suppapong interviu por si lhe tirando daquele lugar onde sua vida teria sido consumida por negligência e descaso. Agora o menor se encontrava em um Centro de Tratamento Compartilhado, uma espécie de república psiquiátrica. O lugar era lindo e os profissionais muito atenciosos, inúmeras formas de terapia eram oferecidas ali, porém Kanawut não se adaptou a nenhuma. Seus dias eram passados todos no quarto, observando o enorme jardim apenas através da janela. As visitas eram permitidas, fazendo parte da terapia, mas Gulf recebia apenas a pequena enfermeira e o médico que lhe tratava, seu celular explodia todo dia em mensagens de Mild, Apo e Baii, mas o garoto não as respondia. Não se deixaria levar novamente, não permitiria perder mais nada, os dias passados naquele inferno ainda doíam em seu corpo a cada pesadelo que lhe invadia os sonhos, mas a maior deles era se imaginar novamente sozinho. Não se perde aquilo que nunca se teve, não é mesmo !? Se ele não se apegar a ninguém, não sentira nada quando essas saírem de sua vida.

Outra batida ecoa em sua porta, e mais uma vez Gulf não se dá ao trabalho de responder — Bom dia Gulf – a voz de Saint ecoa a suas costas, e isso era normal ao garoto, mas logo um ronronar veio junto com a voz do médico. A curiosidade ainda era algo presente em Kana, que sem perceber se virou em busca do som. No colo do médico uma pequena bola de pelos tigrados com pequenas orelhas em pé e os olhos azuis quase cinzas.O olhar meio apavorado do bichano, desencadeou uma expressão em Gulf que a meses Saint não presenciara, o garoto riu. Um suspiro de alívio veio do peito do médico, finalmente ele havia acertado. — Uma graça não !? Esse pequeno chegou aqui hoje, ele está meio assustado ainda, e como seu quarto é o único particular, pensei que poderia abriga-lo por alguns dias, até que achemos um lar definitivo – a grande mentira pareceu ser comprada pelo garoto.De todas as terapias, a com animais era a última esperança de Saint. Gulf havia se tornado alguém distante, que não confia e não se abre aos outros. Ter alguém que depende de si, poderia ser um passo importante para que o menor visse que mais pessoas precisavam dele. Mas começaria com calma — O que me diz Gulf, poderia abriga-lo por enquanto ? – o mais novo lhe olha por alguns segundos antes de desviar os olhos novamente — Humm – apenas o resmungo veio como resposta, mas pra Saint que lhe acompanhava aquilo já era um grande avanço.

O sol já havia dado lugar a uma enorme e brilhante lua no céu, saindo do banho Gulf encara a tela do celular, mensagens de " boa noite" dos três homens aparecem no visor, mas o menor apenas engole em seco e vira o aparelho com a tela pra baixo. Se acomodando em baixo das cobertas ele espera por mais uma noite de exaustão e pesadelos.O susto veio quando algo pula sobre suas pernas, o pequeno animal arranha a coberta e após algumas voltas se acomoda entre seus pés — Xo xo, passa bichano – Gulf tinha até esquecido do pequeno gato, que ao ser enxotado dali, apenas lhe ignora, se espreguiça e volta a ronronar todo dono de si. Kana o encarou perplexo com a ousadia, mas logo as lembranças se formam em sua cabeça, tomando toda sua atenção. A conversa trocada naquele dia no parque acontece como um flash back em sua memória

Gulf — Gato ou cachorro ?

Mew — Cachorro

Gulf — Sério !? Por que ?

Mew — Gatos são geniosos, é de sua natureza viver por si mesmos, vão e voltam quando querem. Cachorros vivem pros outros, se ama alguém se doam incondicionalmente aquela pessoa, se o sentimento for verdade e recíproco, terá sua lealdade pro resto da vida. Cachorros nunca abandonam aqueles a quem amam, me identifico com isso


O calor da mão de Mew pode ser sentida novamente na palma delicada de Kanawut, que agora sentia as lágrimas geladas rolarem pelo rosto — Supassit seu mentiroso...

Proteja-me Enquanto PuderOnde histórias criam vida. Descubra agora