Uma pequena folha

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2 horas antes

— Prin tem certeza ?? Sei lá, não ta muito, muito – Gulf perguntava incerto a mais nova — Não P' eu acho que tá perfeito, além do mais nos últimos tempos você passou tanto tempo pensando em cada detalhe que seria uma pecado mudar algo agora – a garota olhava encantada tudo que haviam acabado de arrumar. Kana agora também parava pra admirar os detalhes do plano que vinha bolando com muito cuidado, detalhes por detalhes, era estranho pensar que tudo havia mudado tão rápido, mas por mais que as vezes a ansiedade volta-se agora o medo não lhe acompanhava, Kana estava livre do maior pesadelo em sua vida ... ele mesmo


2 meses antes

O gato manhoso se espreguiçava não se importando com as unhas que atacavam o rosto de Gulf, como a bola de pelos veio parar em seu pescoço ele não fazia ideia, mas se queria lhe acordar, conseguiu. Se espreguiçando o garoto vê a tela do celular piscar e como todos os dias não era surpresa nenhuma que o remetente da mensagem fosse Mild, porém haviam diferenças agora... as mensagens eram respondidas pelo menor. Não fazia muito que Kana começou a retribui-las, seu processo de cura teve dois pontos muito distintos, o primeiro forá o conhecimento. Depois daquele dia no parque e muito pensar sobre tudo dito por aquelas pessoas, Gulf recebeu outro conselho, ou pelo menos era isso que ele sentia já que tudo aconteceu em um sonho...

O espaço era claro, algo como um lago parecia refletir no chão, a frente dele apenas um banco simples enfeitado por ramos verdes de um planta qualquer, movido como sempre pela curiosidade Gulf caminhou até lá, ao se sentar no banco sua surpresa lhe fez arregalar os olhos, o sorriso da mulher veio largo escondendo a pequena pinta no canto da boca — Olá Bii – a pequena senhorinha agora não vestia mais uma roupa de enfermagem, mas sim um lindo vestido flutuante de um tom claro de rosa que parecia brilhar tanto quando os olhos doces da pequena senhora — Você... eu.. eu morri ? – Kanawut não queria ser indelicado, mas ao reconhecer a pequena senhora, lembrou-se de toda história, a verdade era que a pequena mulher havia morrido a alguns anos, portanto se ele estava diante da mulher significava que... a risada que chegou até si lhe causou cócegas sobre a pele — Não seja bobo pequeno Bii, você ainda tem muitos anos a serem vividos, mas não se continuar desistindo assim – os olhos da mulher ainda eram doces, mas agora claramente preocupados. Kanawut por algum motivo se sente envergonhado e desvia o olhar encarando o lago que parecia oscilar em suas cores, como um enfeite daqueles furta-cor, o jovem modelo começa a sentir um aperto no peito, mas no mesmo instante em que a mão da senhora toca a sua, um ar que Gulf nem sabia que precisava invade seus pulmões — Ohh criança isso é muita dor pra se carregar sozinho – o sorriso tão distinto foi ao mesmo tempo familiar, aquele sorriso largo de olhos que se fechavam invadiu as memórias de Kana, que sem controle apenas se banhou em lágrimas enquanto era acolhido pelo abraço quente da mais velha.

— Felicidade foi se embora e a saudade no meu peito, ainda mora e é por isso que eu gosto lá de fora por que sei que a falsidade não vigora – a música que Gulf não conhecia tinha uma melodia calma, o carinho recebido da senhora em suas costas lhe enchia de uma saudosa sensação de infância, o choro começa a cessar e Gulf limpa as lágrimas ainda sobre o olhar doce e preocupado da senhora — Se sente melhor Bii ? – ele não sabia o por que do apelido, mas de alguma forma a pequena palavra lhe confortava, o menor acena com a cabeça confirmando sua melhora — Que bom – a mais velha ainda segura sua mão, mas agora se vira pra frente encarando o lago é fazendo com que Kana fizesse o mesmo

— Vê a cor cristalina da água meu pequeno ?

— Sim senhora

— O que aconteceria se uma pequena folha caísse no lago !? Você ainda poderia veria a água? – Kana não entendeu o questionamento da senhora, mas respondeu com sinceridade — Sim, um pequena folha não faria diferença na vista do lago – a senhorinha deu uma batidinha na sua  palma, se levantando ela convida Gulf a segui-la, se aproximando ainda mais do pequeno espelho de água, uma grama fofa mais que Gulf nem havia percebido acariciava seus pés durante o caminho. Assim que chegaram a beira do lago, a senhora se baixa ficando bem próximo a água, e com um sinal de dedo chama Kana até lá também — Vê aquela pequena e brava formiguinha lutando por sua vida ali dentro ? – ao ser instruído Gulf foca sua atenção em busca do pequeno animal, ao encontra-lo, o menor percebe que a senhora tinha razão, o minúsculo animal se debatia lutando com todas forças pra se manter viva, a senhora ainda seu lado sorri antes de delicadamente a sobrar um pequena e única folha sobre a superfície do lago. Calmamente a folha chega até o inseto que já quase sem forças se joga sobre a pequena planta e tem sua batalha vencida com sucesso contra um trágico fim. Por algum motivo Kanawut se sentiu feliz pelo bichinho, e encarou a mais velha ao seu lado que também sorria — Sabe pequeno, as vezes somos uma formiga na imensidão que é este lago chamado vida, por muitas vezes lutamos sozinhos contra a correnteza, gastamos cada gota de energia em busca de um lugar sólido e firme aonde possamos criar uma morada indestrutível. Mas muitas vezes durante essa jornada ignoramos as pequenas folhas que são postas em nosso caminho, o medo de afundar novamente nos faz ignorar as viagem maravilhosas que poderíamos ter a bordo de uma delicada folha sobre o rio de aprendizados que é a vida. Há também o outro lado desta água cristalina, para muitos... nós somos a folha, nós somos o caminho seguro e protegido daquelas formigas que buscam chegar em segurança ao destino final – a mais velha termina sua frase apontando pra baixo, onde impressionado Gulf avista a pequena formiga chegar em segurança a terra firme, mas mais surpreso ele fica quando o pequeno inseto trás consigo a fplha sobre as costas — E as vezes uma simples folha pode ser tornar o abrigo tão sonhado – a pequena formiga se esconde em meio a grama, sendo perdida de vista por Gulf.

A senhora se levanta, puxando Kana consigo, a mão enrugada e delicada passa por suas maçãs do rosto, enxugando o pranto que a pouco rolará por ali — Meu doce menino, leva daqui só coisas boas, leva contigo meu amor e essa paz. Deixa aqui todo medo, toda magoa... toda culpa que não pertence a tua alma, deixa pra trás tudo que te prende, que te impede de respirar. Lá fora há muitas formiguinhas te esperando – o beijo dado em sua testa aqueceu por inteiro seu corpo, uma leveza provavelmente sentida apenas nos primeiros anos de vida tomou conta de Kanawut. Um suspiro profundo fugiu de seus lábios, o garoto acordou com o barulho da notificação na tela do aparelho, o rosto ainda molhado de lágrimas torna a ficar úmido, sem pensar em mais nada, apenas aproveitando aquela calma antes que perdesse a coragem ele desbloqueia o aparelho e inicia a chamada, que mesmo em surpresa é atendida por Mild

— Kana o que...

— Não me importo se sou uma folha ou uma formiga mas – a garganta apertava pelo choro, que já compartilhado do outro lado da linha — Eu quero te ver Mild, eu sinto sua falta...

Claro que o papo da formiga foi reportado a Saint, que por sorte ou não, estava de plantão aquele dia. Gulf não tinha motivos pra ficar chateado afinal por mais louco que fossem seus sonhos ou fantasias o médico sempre os comprava com normalidade e humor. Após a história contada, o mais velho lhe sorriu, lhe abraçou e disse ter muito orgulho de sua coragem e decisão de tentar mais uma vez, claro que ter intimidade com o médico causava algumas conversas aleatórias e volte e meia aquele nome voltava em alguma dessas histórias — Não se preocupe, nunca mais vou achar nada estranho depois que Mew me confidenciou que sonhou com o pé grande vestido de carteiro, sério ele disse que ele tinha ate uma bicicleta com cestinha. Mas claro que ele jurava que isso nunca conheceu – se fora um sonho ou algo mais sobrenatural, Kanawut nunca saberia, mas a verdade inegável era que aquilo havia ligado uma chavinha em seu interior, uma que ele torcia pra que jamais fosse desligada, voltando a participar da conversa o garoto expressa a frase que praticamente tinha virando um mantra em seus últimos meses, mas pela primeira vez ela vinha com uma risada ao invés de lágrimas — Que Suppasit mentiroso... 

Proteja-me Enquanto PuderOnde histórias criam vida. Descubra agora