Senhorita Lecter

Capítulo 5

Na cozinha, Hannibal se encontrava de costas para sua filha. A menina cortava algumas cenouras em silêncio enquanto seu pai temperava a carne para o jantar e bebericava uma taça de vinho.

— Aqui, estão cortadas. — disse a filha afim de entregar as cenouras para seu pai.

Um pequeno toca discos na extremidade da cozinha fazia uma ópera suave ecoar pelo ambiente. Ao ver de Alice, seu pai parecia bem animado. 

Tudo bem, que demonstrar emoções não era o forte de seu pai, mas apenas o fato de o mesmo estar bebendo vinho e ouvindo música ao invés de ficar lhe fazendo milhões de perguntas sobre o seu dia na escola, já era um sinal.

 Em um milésimo de segundo Alice teve a brilhante ideia de perguntar:

— Será que eu posso ir ao aniversário de uma amiga da escola? É agora a noite, depois as meninas vão dormir lá e eu também poderia dormir. Posso?

O pai se virou para sua filha e indagou:

— Não gosto da ideia de ter você dormindo na casa de outras pessoas, sua casa é aqui.

A menina logo revirou os olhos irritada e ficou em silêncio. Hannibal cruzou os braços e respondeu calmamente:

— A minha resposta é " não". Tome um banho e depois volte ... É o tempo do jantar ficar pronto.

Alice então rosnou enquanto saia da cozinha:

— Estou sem fome.

...

Dr. Lecter havia jantado sozinho. O homem se encontrava pensativo a respeito do comportamento de sua filha. Por isso, antes de sair para uma " missão", o pai resolveu ir até o quarto de sua filha no intuito de conversar com a mesma.

Ao adentrar o quarto da menina, Hannibal ouviu pequenos soluços de choro vindos da menina que estava deitada sobre a cama e de costas para si.

— Alice, eu quero conversar.

A menina prontamente se sentou e olhou para seu pai com o rosto inchado de tanto chorar.

— Sim, papai? O que o senhor quer?.— perguntou a mais nova com um tom embargado.

O homem se sentou na cama e olhou nos olhos de sua filha enquanto dizia:

— Me conta o que está sentindo. Com detalhes! Quero compreender o motivo de estar nesse estado deprimente por um simples " não " que eu lhe dei ... E esse não foi e nem será o único "não" que recebeu e receberá de mim. Enfim, diga!

A menina logo começou a desabafar:

— Eu queria tanto ir na festa, papai ... Tanto, tanto. Quando eu era criança o senhor disse que apesar de tudo, gostaria de me ver crescendo como uma menina normal. Me proibir de ir a festas de amigas não é ser uma menina normal.

O Dr. Lecter respirou devagar e tentou tocar os cabelos da filha, mas a mesma desviou de forma raivosa.

— Fazer uma festa com essas mocinhas aqui, faria a senhorita ficar carinhosa com o seu pai de novo?. — questionou o homem irritado com a rejeição.

A menina logo pulou no colo de seu pai lhe abraçando fortemente.

— O senhor faria isso por mim? — perguntou a menina enquanto abraçava seu pai de forma eufórica.

Hannibal devolveu o abraço e murmurou:

— Já fiz muitas coisas por você, coisas que eu em sã falta de paternidade com certeza não faria. Mas como me tornei seu pai, aprendi a ceder.

A filha sabia que aquele era o máximo de seu pai, ele jamais le diria " Eu te amo". Por esse motivo a menina se deitou na cama e se aconchegou próxima ao seu pai aproveitando o raro carinho.

Hannibal entendeu que a sua filha queria um pouco de toque físico, por esse motivo o mesmo retirou os seus sapatos e se deitou junto a filha.

— Então? Como foi o seu dia na escola, uhm? — perguntou o homem enquanto mexia nos cabelos da menina.

— Foi bem legal, estamos ensaiando a peça " Romeu e Julieta". — murmurou a filha.

— Você pegou qual papel? — perguntou o pai interessado.

— Julieta — murmurou a menina já sonolenta por conta do carinho.

— Uhmm ... E você quer ser atriz? Notei que adora as aulas de teatro — perguntou o pai.

— Não, quero ser médica ... Como o senhor — sussurrou a menina com os olhos quase se fechando.

— Quer ser médica como o papai? Uhm, vai precisar estudar muito. — sussurrou o homem enquanto analisava o belo rosto de sua filha.

— Eu sei, eu te amo, papai — sussurrou a menina caindo no sono em seguida.

Depois de um tempo parado ali, o Lecter se levantou e se direcionou a mochila escolar de sua filha. 

Com cuidado para não fazer barulho, Hannibal pegou os cadernos da menina e logo  seguida saiu do quarto da mesma.

O Doutor então desceu as escadas rapidamente, saiu da casa indo até o seu carro e deu a partida em direção a uma casa bem distante da cidade.