Aos olhos do mundo ele era o renomado Doutor Hannibal Lecter.
Aos olhos de sua vítima ele era o pior homem do mundo.
Aos olhos de Alice ele era apenas o papai.
Os três chegaram em casa em silêncio. Hannibal olhou para algumas marcas no corpo da pele marrom de sua filha, uma bem vermelha feita na camisa de força lhe chamou a atenção.
— Volto em instantes — declarou o psiquiatra.
O homem se afastou por alguns momentos, mas logo saiu da cozinha com um kit de primeiros socorros.
Elizabeth era uma mulher extremamente linda e cheia de classe, seus gestos eram graciosos e lentos. Então Alice quase não se deu conta de que em questão de segundos já estava sentada no colo da mulher sobre o sofá enquanto seu pai lhe fazia um curativo nos braço esquerdo.
— Imaginei que estaria doendo — observou o pai após terminar de cuidar do ferimento da menina.
— Sim, está — declarou a mais nova.
Constrangida, a menina se levantou do colo de Elizabeth lhe agradecendo com um aceno de cabeça e indo em direção ao seu quarto.
— Posso falar com ela? — questionou Elizabeth tentando disfarçar a sua agonia.
— Ela é sua filha, não precisa me pedir para fazer o que você quer fazer — respondeu Hannibal com os olhos vidrados em Elizabeth.
Ela despejou um rápido selinho nos lábios de Lecter e subiu as escadas em seguida. O patriarca se dirigiu a cozinha e ali começou a preparar o jantar de sua família.
No andar de cima, Elizabeth observava Alice desarrumando a sua mala enquanto lhe contava alguns coisas sobre o seu passado com Hannibal.
— Seu pai sempre foi todo engomado, como é até hoje. Isso atraia muitas mulheres nos nossos tempos de faculdade — revelou a mulher.
— Não consigo imaginar o meu pai rodeado de mulheres ... Ele é tão fechado e sério — rebateu a filha.
— Pois é, ele era a mesma coisa que é hoje. Mas as meninas ficavam em volta dele. Eu odiava o seu pai, não tinha nenhum interesse nele. Eu o achava arrogante demais
Alice riu da fala da mulher, mas logo ficou séria e questionou de uma vez:
— Por que me abandonou?
Elizabeth respirou fundo e se levantou indo na direção da menina. Após se encostar na parede ao lado da filha de braços cruzados, a mais velha revelou olhando no fundo dos olhos de Alice.
— Ainda no começo da minha gestação eu fui abusada. Alguns homens bêbados invadiram a minha casa e tentaram me estuprar. Eu os matei em legítima defesa, eu os matei porque tive medo de machucarem você dentro de mim ... O que eu não sabia era o que vinha depois, eu não sei o que aconteceu comigo. Eu te amava tanto, e de uma dia para o outro comecei a me rejeitar, assim que você nasceu o seu pai ficou decepcionado comigo, ele nunca disse, mas eu sei que ficou. Eu não tinha leite nos meus seios, eu não conseguia te amamentar.
A voz da mulher era rouca e fraca, seus olhos estavam marejados. Por alguns minutos a elegância da mulher negra se transformou em outra fragilidade.
— Sinto muito — respondeu Alice mexida com a situação.
— Mas eu estou aqui agora, eu estive junto a seu pai durante todo esse tempo. Eu não me sentia confortável para me reaproximação de você, mas ele sempre levava os seus boletins lá em casa ... Seus cadernos escolares, ele me mostrava vídeos de você fazendo coisas de criança ... Como a primeira vez que você andou. Mesmo longe, eu me senti perto de você. Eu te amei durante todo esse tempo, hoje não é diferente.
Alice franziu o cenho e murmurou:
— Só vê se não some de novo e está tudo certo.
A mulher sorriu e puxou Alice para um abraço. Nesse exato no momento Hannibal abriu a porta.
— Senhora e senhorita Lecter, mil desculpas por atrapalhar o momento íntimo de vocês. Mas o jantar está servido — Declarou Hannibal com um olhar penetrante.
Alice então saiu do abraço de sua mãe e seguiu em direção a saída do quarto onde sem querer pisou nos sapatos caros de seu pai.
— Perdão, papai — murmurou a menina alarmada já se abaixando para limpar os sapatos do homem.
Hannibal então notou algo diferente no comportamento da menina, em tempos antigos, Alice apenas se desculparia, sairia do local e não se abaixaria para limpar nada.
Hannibal ficou parado imóvel enquanto olhava sua filha limpando os seus sapatos com um lenço que antes estava dentro do seu jeans.
— Desculpa, papai ... Não vou fazer de novo — disse a menina após se levantar e encarar o seu pai com os ombros levantados.
— Espero — murmurou o homem de forma séria. — Vamos? — concluiu.
A menina foi andando na frente enquanto Elizabeth deitava o seu pescoço de lado observando Alice com os seus olhos escuros penetrantes.
— Eu conheço esse olhar — murmurou o psiquiatra enquanto passava uma mecha de cabelo da mulher para trás da orelha.
— Eu fiz pós graduação em psicologia infantil, caso não se lembre — indagou a mulher.
Hannibal ficou em silêncio esperando a mulher dizer mais alguma coisa, mas a mesma ficou em silêncio. O doutor reconhecia bem aquele olhar, era um olhar de quem tinha cede de sangue. A posição extremamente alinhada, as palavras doces e mansas e a beleza de Elizabeth escondiam certas verdades.
Os olhos da advogada eram castanhos escuros, e quando a mesma estava planejando algo, parecia que uma sombra discreta, porém visível surgia em volta dos seus olhos como uma caçadora.
— Ela tem namorado? — questionou a mulher.
— Nunca me apresentou ninguém — respondeu o homem curioso pelo o que viria.
A mulher olhou para Hannibal de avental de cozinha e abriu um sorriso mínimo.
— Eu adoraria vê-lo apenas de avental, se me permite, é claro — provocou a mulher.
— Eu tenho vários, podemos ficar apenas de avental hoje depois que a Alice dormir — respondeu Hannibal provocando a mulher de volta.
A mulher então se virou para sair e viu Hannibal fazendo uma coisa nada convencional. Simplesmente o doutor deu um tapa no traseiro da mulher e a ouviu dando uma pequena risada o deixando satisfeito.
— Eu te amo, Doutor Hannibal Lecter — declarou a mulher enquanto andava.
— Eu te amo, Doutora Elizabeth Lecter — respondeu Lecter.
ELIZABETH CARTER LECTER
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ALICE LECTER
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