"Os crentes do efêmero dizem que tudo muda, que nada é para sempre. Mas se a mudança é algo constante então o efêmero é uma contradição por si só? "
Esse é um dos milhões dos questionamentos de Harry. Um garoto que provou desde cedo a instabilidade...
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Harry
O clima tempestuoso não dá trégua, se não pela chuva, pelo frio de bater os dentes. Os olhos verdes assistem sua respiração juntar-se à condensação acumulada na janela do ônibus barulhento, evitando se mexer para qualquer centímetro de espaço que seu corpo não mantém quente.
As olheiras profundas por ter passado a noite em claro são escondidas pelo grande óculos escuro emprestado pelo amigo, o rosto só não parece um completo caos pelo banho longo e uma boa dose de cafeína. Ainda nos primeiros raios de sol, Niall conseguiu transferir as fotos do seu celular a fim do cacheado ter o aparelho utilizável ao longo do dia e as dezesseis chamadas perdidas do namorado na noite anterior o relembra amargamente que, por mais que tente, não dá para acordar de um pesadelo se ele é real.
E, apesar da relativa proximidade, a estrada até Homes dá a sensação de não ter fim. A paisagem do lado de fora não tem muito o que oferecer além dos intermináveis campos de grama curta, restando assim os próprios pensamentos e o cansaço para o fazer companhia.
Ao colocar junto tudo que pesquisaram durante a noite, a ideia que parecia um tanto longe de fazer sentido se tornou mais sólida, nem mesmo um ponto abre espaço para outro caminho. Obviamente, há peças no quebra cabeça que só os envolvidos podem trazer à tona e provas concretas só com alguns documentos, mas ir atrás disso é uma decisão que não cabe a si. Não daria nem mais um passo na investigação sem que a parte mais interessada nisso tenha conhecimento.
Seu coração se aperta dolorosamente.
Pensar no Louis contratando advogados e liderando uma investigação não o incomoda, no entanto, associar toda a comoção a Ashley e, sobretudo, passar a pensar nela como irmã dele, é algo que o atinge como um tapa na cara. É um passo maior do que pode dar, essa é sua maior certeza. E o bolo no seu peito só se torna mais denso ao cogitar que Ashley faça mal à algum deles, afinal, ela foi tão superficial com relação ao que planeja ao encontrar a própria família que não sabe se as motivações por trás são por vingança ou para construir laços. Contudo, mais uma vez, são escolhas que não estão nas suas mãos para decidir, podendo somente alertar.
A cada nova respiração fica mais difícil puxar o fôlego, a bochecha contra o vidro frio é o único indício que atesta que a sensação de estar encolhendo dentro de si mesmo não é só em um nível mental. Cogitar perder Louis é algo que o estilhaça, ainda mais quando tem ciência que a decisão de se afastar partiria do próprio Harry.
Uma lágrima lava o seu rosto amargamente. Na última vez que esteve com o namorado, o disse que não teria nada que não faria por ele e, aparentemente, esse é o modo cruel do universo de o fazer provar. Algo no fundo do seu peito só espera que Louis, ao saber da verdade e ter espaço para ir em busca de respostas, mesmo que para isso vá atrás de uma das pessoas que mais o machucou na vida, conte como prova o suficiente. Porque o cacheado não sabe o que fará caso o namorado o peça para ficar... No entanto, a sensação dilacerante que o toma apenas ao considerar a hipótese é como se estivesse prestes a cometer o mais alto nível de traição contra si mesmo.
