Valor

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Abine Akello Jackson
Rancho Neverland, Los Olivos
31 de julho de 1996, 19:51

 Abro meus olhos lentamente. O barulho do pingar da torneira da banheira me desperta completamente. Me sento. A água já está gelada. Por quanto tempo dormi?

 Olho para a minha barriga de quem parece que comeu muito no almoço e respiro profundamente. Ele tem razão. Não posso continuar assim, tão distante dela. Ela tem que sentir desde meu ventre que é amada. O mundo já vai ser um fardo para ela.

 Claro que farei o impossível para que a vida dela seja delicada e sem nenhuma coisa ruim, mas, não se pode proteger os filhos para sempre. Eles precisam errar. Precisam aprender com seus erros. É assim que se cresce. Errando. Aprendendo e assumindo.

 Até hoje não discutimos sobre o nome dela. Claro que Michael já chegou a falar alguns, porém, não. Não gostei de nenhum. Eu vou escolher o nome da minha pequena... na verdade, acho que já tenho um!

— Meu amor, acho que já decidi seu nome. Seu pai terá que aceitar, ele não tem escolha. Não existe ninguém pior que ele nessa terra para escolher nomes! — digo entre risos — Está pronta para escutar o seu nome? — sussurro enquanto passo a mão por minha barriga. Vejo o que parece ser sua mãozinha passar por minha barriga fazendo uma pequena ondulação. Ela está se mexendo. Deus. Ela se mexeu! — MICHAEL! — grito desesperada por ele. Não a sinto mexer há meses.

 Isso é maravilhoso. Quando fui a obstetra na semana passada, ela me disse estar tudo normal, mas, eu estava estranhando. Sempre senti a minha filha dentro de mim, mas, passei por algum tempo sem a sentir direito e agora eu a sinto!

 Ou ela já estava se mexendo e eu não percebi? Estava tão focada em Michael que não percebi os movimentos da vida que carrego em meu ventre?

— ABY! — Michael grita assim que entra no quarto. Escuto seus passos que geralmente são leves, bater com força no chão enquanto corre. Ele correndo para na porta do banheiro e me encara assim que se posiciona na porta — Deus, aconteceu algo? — entra correndo sem fôlego. Sem dúvida estava no jardim.

— ELA ESTÁ MEXENDO! ELA ESTÁ SE MEXENDO! — falo entre lágrimas para ele que faz um bico. Se ajoelha ao lado da banheira e começa a chorar — Ela está bem — digo entre choro. Sinto a mão de Michael em cima da minha barriga. Ele arregala os olhos ao sentir nossa pequena se mexendo. Michael começa a rir escandalosamente em comemoração.

6 de setembro de 1996, 20:13

 — Eu nem te disse seu nome, não é? — digo à minha bebê enquanto caminho pelo jardim com as duas mãos posicionadas em cima da minha barriga. Ela está bastante agitada hoje. Ao chegar nos oito meses ela ficou bem mais agitada. Falar assim com ela é um hábito novo que eu estou amando e ela parece estar gostando também.

 Tanto que eu acho que ela quer nascer logo. Ontem senti algumas cólicas mas, acho que pode ser apenas a bonita apoiando o pé onde não deve. Ela adora se sentar na minha bexiga também e está tudo ótimo. 

 Eu estou descalça. Deixei meus sapatos na frente de casa e comecei a andar pelo jardim. Esse lugar é tão magistral. Ficar assim, em puro silêncio contemplando a minha existência é algo que reaprendi. Quem me lembrou que eu poderia fazer isso, em vez de ficar pensando no meu marido o tempo todo, foi Anely.

 Faz uns dois meses que essa garota está na minha casa e desde então, tudo está uma paz. Não me incomodo com mais nada. Não penso em mais nada. Parece que um novo mundo se abriu para mim. Consigo enxergar que nem tudo se resume apenas a Michael e eu, meu casamento e as mulheres que podem estar pensando em dar pra ele. A vida vai além e agora eu vejo.

 Sinto também que Michael tem se aproximado mais. Ele assim como eu também está mudado. Ou ele pode ter recebido um puxão de orelha que eu recebi de um sonho ou, pode ter recebido de Anely. Ouvi ela gritando com ele duas horas depois que ela chegou. Parece que gritar com ele é algo que ela goste. Abro um sorriso só de me lembrar. Se eu não estivesse nesse processo de descobertas eu teria sentido ciúmes até disso.

 Me curvo para frente de uma vez. Sinto uma dor forte e em seguida algo desce por minhas pernas. Chegou a hora.

Hospital Maternidade Michael Jackson, Los Angeles
7 de setembro de 1996, 03:52

— Ainda vai demorar muito, mas, você pode caminhar pela sala ou podem, vocês sabem, estimular para não doer tanto e abrir mais a passagem! — Paola fala enquanto sai da sala — Volto em vinte minutos para ver como está! — fala cruzando a porta e a fechando assim que saí.

— E Anely? — pergunto a Michael que está com uma cara tão feliz — Onde você deixou ela? — ele faz uma careta e começa a rir.

— Anely não é uma criança, não foi isso que você me disse! — ri escandalosamente — Sou pai! — fala e começa a pular — Juro que vou ser o homem mais carinhoso e dedicado do mudo! Aby, eu juro, eu serei alguém melhor! — ele se aproxima da cama e senta pertinho.

— Acredito — abro um sorriso para ele. A cólica volta. Fecho meus olhos com força. Após um tempo ela some — Também prometo ser melhor e te peço perdão pelas inúmeras vezes que fui cruel com seus sentimentos — Michael acena positivamente. Seus olhos se enchem como se não fosse esperado que eu pedisse desculpas dessa maneira.

— Eu sempre vou te desculpar, é a mulher da minha vida. Também peço desculpas por tudo, não fui o que você realmente merecia por muitos anos! — sussurra. Aceno positivamente para ele que faz um biquinho — Eu te amo tanto — sussurra — Amo vocês duas! — respira fundo — Terei uma filha! — ele volta a rir — Eu sempre quis ter uma menina!

— Eu sei! — falo entre risos. Menina sempre foi o meu sonho também, mas, é claro que se fosse menino para nós seria a mesma alegria.

— Te amo! TE AMO! — Michael berra e me abraça. Nunca em tantos anos de casamento vi esse homem tão feliz. E eu também estou tão feliz. Deus, nem sei como agradecer por esse momento tão incrível. Agora foco no que realmente importa. Nos sentimentos que importam.

Inimigos DeclaradosOnde histórias criam vida. Descubra agora