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Jungkook

Toda vez que tenta parecer autoritário, meu pai ficancom a mesma cara de idiota, exatamente a que está fazendo agora, com os braços cruzados e bloqueando a minha entrada na porta de casa.

— Jimin não vai aparecer aqui, Jungkook … Ele sabe que aqui você o encontraria.

Reprimo um impulso de esmurrar os dentes dele goela abaixo. Em vez disso, passo as mãos no cabelo, estremecendo ao sentir a pontada de dor em meus
dedos. Os cortes estão mais profundos do que o habitual. Socar a parede foi pior do que eu imaginava.
Mas não é nada comparado ao que sinto por dentro.

Nunca soube que este tipo de dor existia; é muito pior do que qualquer dor física que eu poderia infligir a mim
mesmo.

— Filho, acho que você precisa dar um pouco de espaço para ela.

Quem diabos ele pensa que é?

— Espaço? Ela não precisa de espaço! Ela precisa voltar para casa! —, grito.

A velha da casa ao lado nos olha, e eu olho de volta, erguendo os braços.

— Por favor, não seja mal-educado com meus vizinhos —, meu pai me avisa.

— Então fala para os seus vizinhos cuidarem da própria vida! — Isso eu tenho certeza de que a velhota da
cabeça branca ouviu.

— Tchau, Jungkook —, diz meu pai, com um suspiro, e fecha a porta.

— Caralho! —, grito e ando de um lado para o outro na varanda algumas vezes antes de voltar para o carro.

Onde diabos ele se meteu? Mesmo em meio à raiva, estou louco de preocupação. Será que está sozinho ou
com medo? Conhecendo Jimin, é claro que não está com medo; provavelmente está pensando nos motivos por que me odeia.

Ou melhor, deve estar fazendo uma
lista. Aquela necessidade constante de estar no controle de tudo e as listas idiotas me deixavam maluco, mas
agora tudo que quero é vê-lo anotando as coisas mais irrelevantes. Daria qualquer coisa para vê-lo mordendo o lábio inferior, absolutamente concentrado, ou ver seu rosto bonito se franzindo uma vez mais. Agora que ele
está com Jongin e com a mãe, a pequena chance que achei que ainda tinha se foi.

Assim que se lembrar dos motivos por que Jongin é melhor para ele do que eu, vai voltar para ele.
Ligo de novo mesmo assim, pela vigésima vez, e a chamada cai direto na caixa postal. Que merda, sou um idiota mesmo. Depois de passar uma hora dirigindo de uma biblioteca a outra e passar por todas as livrarias da cidade, decido voltar para o apartamento. Talvez ele apareça, quem sabe… Mas sei que não vai.

Mas e se aparecer? Preciso arrumar a bagunça e comprar uns pratos novos para substituir os que quebrei atirando nas paredes, só para o caso de ele voltar para casa.



A voz de um homem reverbera pelo ar, e faz meus ossos vibrarem:

“Cadê você, Jeon?”.
“Eu vi quando ele saiu do bar. Tenho certeza de que está aqui”, diz outro homem.
Saio da cama e sinto o piso frio sob meus pés. No começo achei que fosse meu pai e seus amigos, mas agora acho que não.

“Saia, saia de onde você está!”, a voz mais grave grita, e ouço um estrondo enorme.

“Ele não está aqui”, diz minha mãe assim que termino de descer a escada e vejo quem são. Minha mãe e quatro homens.

“Ei, olha só o que temos aqui”, diz o homem mais alto.

“Quem diria que a mulher do Jeon era tão
gostosa?”
Ele segura minha mãe pelo braço e a puxa para fora do sofá. Ela agarra sua camisa desesperadamente.

“Por favor… ele não está em casa. Se é dinheiro que está devendo, dou tudo o que tenho. Pode levar qualquer
coisa da casa, até a televisão…”
Mas o homem ri da cara dela.

“Televisão? Não quero televisão nenhuma, porra.”
Vejo minha mãe lutar para se livrar dele, quase como um peixe que pesquei uma vez.

“Tenho algumas joias, não muitas… mas por favor…”

“Cala a boca!”, diz outro homem, dando-lhe um tapa.
“Mãe!”, exclamo e corro até a sala de estar.

“Jungkook … volta lá para cima!”, ela grita, mas não vou deixar minha mãe com esses homens maus.

“Sai daqui, seu merdinha”, diz um deles, me empurrando de bunda no chão.

“Olha aqui, sua vadia, o problema é que seu marido fez isso aqui”, ele rosna,
apontando para um corte enorme na própria careca.

“E, como ele não está aqui, a única coisa que a gente quer é você.” Ele sorri, e ela esperneia para se soltar.

“Jungkook, meu amor, vai lá pra cima… Agora!”, grita ela.

Espera aí, por que ela está com raiva de mim?

“Acho que ele quer ver”, diz o homem machucado, jogando-a no sofá.


Acordo num sobressalto e sento na cama.

Caralho.

Toda noite agora é isso, e está ficando cada vez pior.
Estava tão acostumado a não ter mais pesadelos que até conseguia dormir. Por causa dele, tudo por causa dele.

Mas aqui estou eu, às quatro da manhã, num lençol. todo sujo de sangue por causa dos dedos machucados e uma dor de cabeça de matar por causa dos pesadelos.

Fecho os olhos e tento fingir que ele está aqui, torcendo para que o sono volte.


😍

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AFTER - Depois da verdade  -  JIKOOKOnde histórias criam vida. Descubra agora