Felipe Narrando
Quando deu cinco horas da tarde, segui de volta para o terceiro, pois estava na hora de concluir mais uma tarefa da lista rotineira da paciente Gertrudes. A mulher estava olhando para a televisão, que passava o jornal das quatro da tarde.
- está pronta para voltarmos para a sua rotina senhora Gertrudes ?- perguntei sabendo que não iria obter respostas
Olhei na prancheta e a próxima tarefa era levar a mulher para o médico que resolvia todos os problemas psíquicos do paciente. Empurrei a cadeira da mulher até o elevador, apertei o botão do sétimo andar, e logo começamos a nos movimentar. As portas se abre e mais uma vez naquele dia eu tenho a magnifica visão do sétimo andar.
Eu não sabia onde ficava a sala do médico, pois nunca precisei trazer ninguém até aqui
- ei enfermeira, onde fica a sala do médico que cuida dos problemas dos pacientes ?- perguntei para uma mulher que passava com uma prancheta
- siga aquele corredor e vire a esquerda, terceira porta a direita
Segui pela direção indicada pela mulher, e dei algumas batidas na porta, logo escuto uma voz dizendo para entrar.
- boa tarde doutor, eu vim trazer a paciente Gertrudes para a sua consulta diária - falei empurrando a cadeira de rodas para dentro da sala
Bom, eu esqueci de mencionar, aqui no hospital todos andam para cima e para baixo de cadeira de rodas, por que os efeitos dos sedativos são muito fortes, e muitas pessoas acabam perdendo temporariamente o movimento das pernas.
- pode se sentar ali doutor. Prometo que não vou demorar - falou ele pegando alguns equipamentos em sua mesa
O médico examinou algumas coisas da paciente, e constatou que nada estava fora do comum
- eu já falei com o diretor, esses sedativos são muito fortes. Você acredita que eu já tive paciente aqui que estava vomitando sangue - falou ele me encarando
- eu não posso falar nada, posso correr o risco de perder meu emprego, mas realmente eles são muito fortes mesmo
- bom doutor, ela já está livre para ir - falou o doutor dando um meio sorriso
- doutor eu posso te perguntar uma coisa que estou encucado ?- perguntei encarando ele que me encarou também
- pergunte
- é normal um paciente sorrir, e receber comandos de apenas uma pessoa, com as outras tem que ser a força ?- perguntei me revirando as atitudes de Colin
- bom, não é normal, por que como você vê todos os dias os pacientes ficam catatônicos depois da primeira dose dos sedativos, eles ficam moles - falou ele pegando na mão da paciente Gertrudes e soltando, fazendo ela cair molengamente - não sei o que acontece na cabeça desse paciente ao qual você menciona, mas ele reagi de um jeito totalmente diferente ao sedativos, tipo ele tem vontade própria, ele meio que controla os movimentos dele até, digamos drogado - falou ele rindo
- obrigado pela resposta doutor
- não tem de que- falou ele sorrindo
Abri a porta e retirei a paciente Gertrudes de dentro da sala e logo em seguida sai também, acenando com a mão para o doutor. Entrei no elevador novamente e apertei o botão do terceiro andar. Já eram seis e meia da noite, olhei na prancheta e estava na hora da paciente dormir. As portas se abriram revelando um andar cheio de gritos e mais correrias, mais uma vez algum paciente se recusava a tomar a medicação.
Levei a paciente para o quarto, e calmamente a deitei na cama, como fiz da última vez li seu livro que ficava no criado mudo, e após alguns minutos ela já havia adormecido, coloquei o livro no lugar e desliguei o abajur, arrumei a coberta na mulher e sai do quarto. Voltei para a minha sala, e fiquei jogando paciência no computador. Mais tarde deu a minha hora de saída.
Arrumei tudo, desliguei o computador e sai da sala com a minha pasta de arquivos embaixo do braço. Antes de sair subi no segundo andar e verifiquei Colin, ele estava dormindo lindamente e calmamente.
Desci para o estacionamento, entrei no meu carro e dei partida saindo daquele hospital. Ao chegar em casa, coloquei a chave do carro espendurada no chaveiro, tirei meus sapatos e o jaleco e me sentei no sofá, ligando a TV logo em seguida.
Escuto minha campainha tocar, segui até a porta e abri dando de cara com uma senhora. A mulher que estava em minha porta era mãe de Colin
- podemos conversar ?- perguntou ele me encarando
- como sabe onde moro ?- perguntei abismado
- eu estava do lado de fora do hospital esperando você sair, eu preciso mesmo conversar com você
- entre então- falei fechando a porta assim que ela entrou
A mulher se sentou no sofá e ficou me encarando, me sentei ao lado dela e esperei ela começar com o que veio me falar que era tão importante.
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Manicômio Do Amor
RomansaFelipe, um homem de vinte e cinco anos, trabalha quase o dia inteiro em um hospital psiquiátrico, e as vezes faz plantões na madrugada, ou noturnos. O homem nunca duvidou da sua sexualidade, pois em sua cabeça ele gostava de mulheres desde quando na...