17. A ficha

139 15 0
                                    

Acordo me sentando na cama, esfregando a mão no meu peito para tentar regular a respiração, não precisei nem analisar o local para saber que era um quarto de descanso, e o mais afastado que eles tinham, pois não havia janela e sim uma clarabóia, e pela luz fraca que entrava por ela constatei que o sol já estava se pondo.

“Esquerda.”

Sussurra Less e eu imediatamente olho na direção indicada. Um soldado estava sentado em uma cadeira ao lado da minha cama, me observando, e eu não sou de ficar distribuindo elogios nem nada, mas em minha humilde opinião, ele era extremamente bonito. Tinha a pele bronzeada, cabelo loiro claro encaracolado e olhos verde oliva.

— Boa noite — saúda, um sorrisinho zombeteiro nos lábios.

— Oi — comprimento um pouco atordoada, me endireitando na cama.

— Pelo visto a ficha que recebi estava errada — comenta, me analisando. 

— Como é–

— Posso fazer uma pergunta? — interrompe.

— Já não está fazendo? — retruco ácida. 

Como não tinha conseguido ter sentimentos negativos na conversa com Less, a raiva estava sendo desencadeada com certa facilidade.

— Qual a cor dos seus olhos e cabelo? — inquiriu.

“Merda...”

— A cor dos meus olhos e cabelo?  

— Aham.

Mesmo sendo no subsolo, a iluminação do lugar era ótima, ele só podia estar querendo tirar uma com a minha cara e eu já estava sem um pingo de paciência.

— Por acaso o senhor é  cego? 

— Sou, tem algum problema com isso? — alicerçou seco.

Merda. Penso.

— Perdão — me apresso em dizer, envergonhada de mim mesma.

— Sem problemas — caucionou, para logo em seguida sorrir com escárnio — Eu não sou cego, tolinha. Que pessoa cega poderia ser soldado?

— Uma pessoa com maiores capacidades que você — disparo, me sentindo uma idiota por ter sentido culpa. 

— Você tinha que ver a cara que fez — zomba, balançando a cabeça, se divertindo com a situação constrangedora de segundos atrás.

Viro o rosto para a clarabóia, a fim de evitá-lo. Ele quase superou Levi no quesito má impressão. 

— Idiota.

— A cor de seus olhos e cabelo — insiste.

— Castanho claro e preto — murmuro impaciente.

— Não — discorda. — Teu olho direito é violeta e você tem uma mecha branca atrás.

— Certamente — ironizei.

— Estou falando sério — replicou.

— Claro que está.

De esguelha vejo ele abrir a primeira gaveta da cabeceira.

— Olhe por si só então — sugere, e joga um espelho de mão no meu colo. 

— Isso vai fazer você calar a boca?

— Talvez.

A contragosto pego o objeto e vejo o meu reflexo e... puta merda! Que porra é essa?! Aproximo o espelho do meu olho direito e uso os dedos para arregalar as pálpebras. 

ExtâseOnde histórias criam vida. Descubra agora