Nunca

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Arthur


Eu não consegui reagir de imediato.

Era como se o mundo e tudo a minha volta tivesse paralisado.

Não consegui sorrir, nem ficar surpreso, até porque eu já esperava por isso. Não consegui fazer absolutamente nada, só fiquei parado, estático, como se estivesse esperando a minha ficha realmente cair de que aquilo era o passaporte de saída do Daniel.

Ele ia embora. Era a única frase que a minha cabeça conseguia formar no momento.

— Meu Deus, eu não tô nem acreditando nisso! — eufórico, me abraçou forte.

Fiquei tão sem reação, que nem mesmo pude tomar a iniciativa de abraçá-lo primeiro. Eu não conseguia raciocinar nada, a não ser a ideia de que, daqui a duas semanas, ele não estaria mais ali. Eu mal conseguia me movimentar, naquele primeiro instante, tanto que o abracei todo sem jeito, sem nem saber onde pegar.

— Art, eu passei pra melhor escola preparatória de olimpíadas da Europa! — Ainda abraçado a mim, me segurou pelos ombros e me chacoalhou, afastando-se somente o suficiente para olhar nos meus olhos. Seu sorriso ia de orelha a orelha, em uma felicidade genuína. Porém, segundos após me encarar, seu semblante se desfez um pouco. — Você tá bem, Art?

"Você tá bem, Art?"

A frase reverberou na minha cabeça, fazendo-me cair na real e piscar os olhos repetidas vezes, como se estivesse acordando de um sono profundo. Que merda eu estava fazendo? Era pra eu ficar feliz! Sim, meu irmão passou para a melhor escola preparatória de olimpíadas da Europa. Uma oportunidade única. Uma oportunidade que milhares de pessoas se matariam para ter, mas eu estava sendo egoísta o suficiente de pensar apenas no meu lado e na falta que eu sentiria.

Era para eu ficar feliz.

Sim, eu tinha que ficar feliz, quase como uma obrigação.

— Po-poxa, Dan, é claro... — gaguejei, me sentindo ainda um pouco desorientado. — É claro que eu estou bem — pigarreei a garganta, tentando retomar a compostura. — Na verdade, eu estou feliz! Eu estou muito feliz — coloquei um sorriso no rosto. — Parabéns por ter conseguido! Eu estou muito feliz por você — e o abracei. Dessa vez, com mais determinação.

O sorriso dele logo voltou ao seu rosto, depois do que falei. Por mais que ele ficasse feliz com a conquista, ele ainda se preocupava, e muito, com o que eu sentia. Mas, o meu papel era não deixar nenhum sentimento ruim transparecer. Daniel não merecia. Aquele era o seu momento e eu não podia estragá-lo com minha carência idiota.

Aguentar a saudade era o meu papel. E ele não tinha nada a ver com isso.

A única coisa que Daniel precisava fazer era aproveitar seu momento.

— Ora ora... — Enquanto estávamos abraçados, ouvi papai Eric se aproximando com Liam. — O que aconteceu? — perguntou, fazendo com que nós nos separássemos, para olhá-los. — Podemos saber o motivo dessa alegria toda?

— Pai! — Daniel, sem conseguir conter o entusiasmo, logo respondeu. — Eu passei! Acabaram de me ligar para dar a notícia! Eu vou para Londres! — exclamou como se estivesse explodindo de felicidade. E realmente estava.

— O que?! — papai Liam praticamente pulou. — Você passou, moleque?! Meu filho se garante demais!

— Filhote, meus parabéns! — papai Eric, com um sorriso de orelha a orelha, também falou.

E, quando eu menos esperei, nossos pais nos puxaram para um abraço família, fazendo com que todos nós nos sentíssemos esmagados ao mesmo tempo, tamanha alegria deles. Sempre torceram para que esse sonho do Daniel pudesse ser realizado, então a reação deles não poderia ser diferente, por mais que a saudade fosse apertar em algum momento.

Doce RendiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora