A primeira vez

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Arthur


Naquele domingo, Ariella não foi embora muito tarde da minha casa. Depois do que viu na televisão, logo correu para casa. Tinham anunciado no noticiário que, à noite, uma chuva torrencial cairia e que todos deveriam ir para suas casas, se abrigar, pois o risco de queda raios era muito alto.

Raios...

Eu odiava raios e trovões. Na verdade, eu tinha um pouco de medo. Quer dizer, um pouco não. Muito medo. Achava um saco, um medo bobo, mas tinha. E era por isso que me sentia um pouco nervoso. A qualquer momento poderia começar.

Já era por volta das onze horas da noite e eu estava me preparando para dormir. Tinha tomado banho, escovado os dentes, vestido meu pijama e, agora, ajeitava o quarto. Me escorei na janela e respirei fundo. Após sentir o cheiro da chuva que se aproximava e ver o céu carregado de nuvens, a fechei.

Estava perto.

Apaguei as luzes do quarto e me deitei na cama. Tentei me concentrar para dormir, mas eu não estava com sono. Rolei de um lado para o outro e continuava sem conseguir. Talvez fosse o meu subconsciente em alerta, porque a qualquer momento eu poderia ouvir um trovão soar.

Suspirei.

Lembrei da playlist que a Ariella tinha compartilhado comigo no Spotify. Eu não curtia rock e, olha, eu podia afirmar isso com toda propriedade, porque já tinha ouvido aquele típico toque de guitarra e bateria várias vezes. Preferia piano, violão... Qualquer coisa que me remetesse à calmaria.

"Você precisa de um som que te tire do chão!"

Foi o que ela disse.

Será que eu precisava mesmo disso?

Ok, eu realmente vinha me sentindo pra baixo. Mas, ouvir rock ajudaria? Eu não acreditava muito nisso. Já tinha tentado ouvir esse estilo musical outras vezes, mas nunca consegui. Não, não era preconceito. Eu só... Não conseguia.

Agindo, porém, quase que por impulso, alcancei meu celular e meus fones de ouvido que estavam no criado-mudo ao lado da cama. Sem pensar muito, abri na lista playlist e clique aleatoriamente em uma música qualquer.

Era Sweet Child O' Mine do Guns N' Roses.

O som da guitarra inicial preencheu completamente meus ouvidos. Escutei atentamente e era... Eu não sabia explicar minha própria sensação. Não era como quando eu ouvia música clássica, por exemplo. Era diferente. Era como se, dentro de segundos, eu me sentisse diferente, somente por ouvir uma música como aquela.

Não, não era como quando eu ouvia piano.

Era muito diferente.

Não somente pela música em si, mas por alguma outra coisa que não sabia explicar. Música clássica me trazia calmaria, já rock... Me fazia sentir formigamento no peito.

E, meu Deus, que coisa estranha. O formigamento parecia aumentar. Assustado com a sensação, rapidamente tirei os fones do ouvido e me sentei na cama. Meio ofegante, soltei meu celular, sentindo o coração acelerado. E acelerou muito mais, quando um clarão repentino iluminou todo o meu quarto escuro.

Puta merda.

Era um relâmpago.

O pesadelo ia começar!

Com o coração saltando muito mais pela boca, deitei novamente na cama e me cobri completamente com o edredom, da cabeça aos pés. Um estrondo bradou no céu, indicando um forte e intenso trovão. Travei a respiração. Droga, esse medo idiota!

Doce RendiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora