Se não foi feito pra mim, por que eu tinha que me apaixonar?

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Arthur


— Um... — Os alunos da turma, em uníssono, começaram a contar baixinho, segundos antes do sinal do colégio tocar. — Dois... — aumentaram o tom. — Três... — aumentaram ainda mais. — FÉRIAS! — Por fim, gritaram todos juntos e jogaram os livros e os cadernos para o alto, quando o toque soou indicando o fim do horário de aulas. E, não somente o fim do horário daquela aula, mas, sim, o fim das aulas daquele ano.

O professor de biologia, simpático como sempre, riu para nós, quando viu a cena.

— Aproveitem as férias, meus caros! — sorriu. — Mas, juízo heim? Não façam muitas besteiras. Só um pouquinho — deu mais uma risadinha. — Até o ano que vem, no ensino médio — Com um aceno, se despediu de nós, saindo da sala.

Para alguns, como meus colegas de turma e eu, era o fim do ensino fundamental e um "olá" para o ensino médio. Para outros, era o fim do ensino médio e um "até nunca mais" para o colégio. O clima era de festa. E a festa era por tudo, pelo fim das aulas, pelas férias, pelo baile. Em todos os corredores de St. Peter's tinham cartazes espalhados indicando que faltava apenas um dia para o tal baile, e o assunto de todo mundo era só esse.

Confesso que estava animado com as férias, mas não tanto quanto nos anos anteriores. Dessa vez, eu não teria a companhia do Daniel para sair, assistir filmes até tarde, andar de patins, jogar videogame, brincar na piscina. Por outro lado, não sabia se isso era um castigo ou uma bênção, já que, mesmo se ele ficasse, as coisas entre nós estavam ficando bem estranhas. Tão estranhas que eu preferia nem lembrar.

Me levantei da carteira para recolher meu material e, quando ia colocar a mochila nas minhas costas para sair, Ariella surgiu.

— AAA! — gritou para mim, fazendo com que eu tomasse um leve susto, mesmo estando de cara com ela. — Você ouviu?! Você ouviu?! Férias! Puta merda, caralho, porra! — segurou nos meus ombros e me sacudiu. — Eu não aguentava mais olhar pras paredes desse colégio! A gente tem que curtir muito essas férias! — deu ênfase no "muito". — Até porque ano que vem é ensino médio e eu não quero nem pensar em como vai ser.

— Calminha aí, Ariella — respondi com os olhos um tanto arregalados, encarando-a como se ela fosse uma louca. E, na verdade, ela era mesmo. — Pega leve. Desse jeito você vai ter um ataque cardíaco e morrer antes curtir essas benditas férias.

A cacheada revirou os olhos pra mim.

— Você é patético, Arthur. Não me deixa nem ser feliz — resmungou. — Mas, enfim, como eu ia dizendo, a gente tem que curtir muito essas férias! Nossa, tem tanta coisa pra fazer! — olhou para cima e suspirou como uma sonhadora. — Tem festas, shows! Tem seu aniversário de 16 anos que está bem pertinho! — disse, entusiasmada. — A gente pode começar a programação naquela festinha de rock que eu te falei que vai ter domingo no Hangar 189! Vamos, vamos! Por favorzinho... — deu pulinhos agoniados.

Encarei-a com obviedade, estreitando os olhos em sua direção.

— Ariella... Rock? — enruguei a testa. — Tudo bem que você seja super fã desse estilo. Eu realmente não tenho nada contra. É só que... Você sabe que não faz o meu tipo... — encarei-a com obviedade de novo. — Vou me sentir deslocado nessa festa.

— Você já escutou aquela playlist que eu te passei, por acaso? — rebateu no mesmo instante. — Aposto que não, né?! Você é tão previsível, Arthur — revirou os olhos. — A minha dica é: pegue aquela playlist, ouça todas as músicas e voilá! Você vai estar apto a curtir uma baladinha de rock.

Sério, a Ariella viajava demais.

— Primeiro, eu realmente não escutei — respondi meio desconsertado. — Segundo, esse lugar é para maiores de dezoito anos, e agora que eu vou fazer dezesseis. Não é lugar pra mim. E muito menos pra você que tem a minha idade, né? — ergui uma das sobrancelhas. A cacheada, no entanto, estreitou os olhos em minha direção.

Doce RendiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora