Recado dado

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Daniel


Eu não conseguia parar de pensar no Arthur.

Era isso.

Eu não conseguia parar.

Se, antes daquela noite na piscina, eu tinha começado a vê-lo com outros olhos, agora, então, essa nova perspectiva tinha ficado muito mais forte. Eu quis beijá-lo, de um jeito como nunca quis antes na vida com qualquer outra pessoa. Foi uma sensação tão intensa e, ao mesmo tempo, tão boa... Tão... Agradável.

Era estranho me sentir bem em querer beijá-lo, não era?

Será que eu estava ficando doido?

Talvez uma terapia pudesse ajudar...

Mas, nossa, eu não teria coragem de falar isso nem para um psicólogo. Ele, provavelmente, me mandaria para um psiquiatra, que, logo depois, me internaria. Ou seja, não era uma boa opção.

O fato era que Arthur parecia cada vez mais interessante para mim. Ele estava em fase de transição, certamente. Não era mais a criança que eu conhecia, mas também ainda não era um adulto. Seu jeito de agir, sua postura corporal, seu olhar... Tudo estava se transformando. E tudo parecia me atrair de uma maneira sem igual.

Eu bem que estava tentando agir naturalmente, desde aquela noite na piscina, como se nada tivesse acontecido. Conversava e interagia com ele normalmente, ria e sorria como antes, mas... No fundo, meu coração queria mais. Muito mais. E, por mais que isso me assustasse bastante, parecia uma vontade tão boa ao mesmo tempo.

Me fazia bem. Pensar em mim e no Arthur me fazia muito bem.

E eu não estava pensando nele como irmão...

É, eu sei, isso podia ser bem assustador. E realmente era. Mas, eu sentia, lá no finalzinho da minha alma, que me fazia um bem danado. Era como se a vida estivesse me dizendo que ela não nos escolheu para sermos irmãos. Não, não. Esse não era o nosso destino. Meu subconsciente parecia sussurrar que a vida só tinha nos unidos daquele jeito, para que, no fim das contas, nós nos tornássemos outra coisa um para o outro.

Loucura né?

Sorri de um jeito meio desorientado para mim mesmo, com esses pensamentos.

Passei as mãos no rosto, tentando recobrar minha consciência. Afinal, naquele momento, eu estava no banheiro do colégio, me trocando para treinar natação. Eu tinha que tentar me concentrar em outra coisa que não fosse o Arthur. Ele já estava tomando a minha mente muito mais do que eu poderia imaginar.

Depois que terminei de tirar a roupa e vestir a sunga e a touca, coloquei o roupão por cima e saí do banheiro, que ficava exatamente na quadra olímpica para treinos de natação de St. Peters. Logo, não demorei a me aproximar da piscina, onde já tinha uma galera se aquecendo e esperando o treino começar.

Eu era amigo de todos. Por isso, assim que eu chegava, eles sempre me cumprimentavam, tocavam no meu ombro, jogavam uma conversa fora, ou mesmo esperavam por alguma piadinha minha. Porém, enquanto eu estava trocando uma ideia com uns caras da equipe, senti um toque diferente no meu braço.

— Ora ora, se não é a mais nova estrela da equipe de natação de St. Peters... — Uma voz feminina e muito, muito, faceira falou.

Me virei na direção que vinha e dei de cara com Gabriela. Usava apenas um largo sorriso e um biquíni bem pequeno. Com certeza estava esperando seu treino começar também, já que a equipe de natação masculina e feminina sempre treinavam no mesmo dia.

Doce RendiçãoOnde histórias criam vida. Descubra agora