01 - Prazer, em caos!

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São 23:59, é o último dia do ano, estou sentada no escuro, olhando pela janela perdida. Não foi bem o que eu planejei.
O próximo minuto parece me sufocar, e assim que o relógio muda pra 00:00, viro um copo de vinho e brindo em voz alta.

- Parabéns pra mim, que sobrevivi a mais um ano nesse mundo louco! — sem querer, uma lágrima escorre pelo meu rosto.

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1 ano antes

Vou começar logo me apresentando. Prazer, me chamo Luisa.
Estou com 28 anos, sou casada e bancária. Moro no litoral do Rio de Janeiro com Vicente, meu companheiro. <Sim sim, a vida dos sonhos./>
Bom, a vida que eu imaginei ser dos sonhos pelo menos. Lutei muito pra conquistar minha segurança financeira e encontrei alguém pra dividir as conquistas comigo.
Sempre fui segura do que eu queria e fui logo atrás de tudo, pra conquistar bem cedo e poder desfrutar.
E aqui estou! - riso irônico
Casa, carro, marido, carreira... e um vazio que não sei de onde vem.
Não é como se eu tivesse depressiva nem nada, mas fico me perguntando, qual o próximo passo?
Já estão me cobrando pelos filhos, mas será esse o próximo degrau?

Todos estão felizes com a chegada do ano novo, enquanto eu observo e faço minhas rápidas <e talvez, equivocadas/> conclusões. Amigos, algumas pessoas da família, Vicente, seus pais, minha mãe. A cada ano percebo que diminui a quantidade de pessoas.
A contagem regressiva começa e lembro logo de fazer um pedido! Neste ano decido não incluir Vicente no meu desejo, penso somente em mim.

<Que meu coração volte a vibrar./>

E foi como se um anjinho passasse bem na hora e dissesse "Amém", por que eu não fui mais a mesma.

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O primeiro mês do ano passa voando, pois estávamos de férias, mas é como se alguém tivesse esquecido de avisar a Vicente. <Que trabalhou todos os dias/>
Em fevereiro a rotina volta ao normal <trabalho/ casa/ festas de família/> e volto a ocupar minha mente. Algumas semanas passam e eu fico cada dia mais inquieta. Eu e Vicente estamos nos falando cada vez menos, e parece que isso está incomodando apenas a mim. Hoje é um dia DAQUELES, tenho mil coisas pra fazer e estou com uma sensação horrível de ansiedade. Hoje pela manhã fiz yoga para tentar diminuir o barulho da minha mente, mas são tantas vozes ao mesmo tempo, que nenhuma acaba dizendo nada relevante. Ainda bem que é Sexta-feira!
Estou sentada no escritório da agência em que trabalho há muitos anos, e não sei se suporto mais um dia trancada dentro dessa sala. Ainda mais com pessoas que definitivamente não são boas companhias pra mim. Veja bem! Eu não sou nenhum girassol do campo, mas você precisa concordar comigo que somos esponjinhas doidas para absorver tudo que vemos pela frente, e nesse ambiente só consigo sentir frustração.
A sala é grande e branca, não toca músicas pois precisamos de foco total.
<Foco total nas paranóias que circulam na minha mente./>
A dor de cabeça parece apertar em um ponto próximo aos olhos, e logo lembro da cartelinha de comprimidos que carrego comigo, desde que essa dor começou a me perseguir. Quando me viro para procurar um remédio na bolsa, a luz do celular acende mostrando uma mensagem recente.
Meu marido.
Pela animação você deve estar pensando <Vish/>
Eu o amo, entenda,
mas ultimamente
nada mais me anima.

Na mensagem:
- Hey amor, hoje não precisa me esperar para o jantar. Eu tenho reunião com os sócios da empresa, chego cedo. Prometo!

Pensei em mil coisas pra responder...
Escrevi...
Apaguei.
Escrevi e apaguei...
Mais uma reunião, ta certo.
*Não ta!*
Mas respiro fundo e perco a vontade de responder.
Mando um "Ta bem, se cuide" e guardo o celular.
Ultimamente ligo pouco pras coisas, é como se não sentisse nada afinal.

Depois de tomar o comprimido e de inibir a dor que me atormenta, o dia passa voando e quando percebo ja são 19h45. Mais um dia que fico até tarde, mas o que eu faria chegando cedo? A lembrança de que o Vicente não estará em casa me atinge e a raiva quase aparece.
Eu entendo que é trabalho e tento respeitar isso, mas eu preciso de mais, mas não sei mais que sinal preciso dar. A meses que sinto que não fazemos mais preferência da companhia um do outro, estamos fazendo coisas diferentes e quase nunca incluímos um ao outro. Acredito ser aquela fase, que vem logo depois da fase das brigas.
Tantas coisas ditas. E agora um silêncio.
No caminho pra casa, enquanto olho a paisagem, penso se escolhi realmente o melhor caminho pra mim. Eu planejei tanto, me cobrei tanto. Lembro dos conselhos que meus pais me deram e me pergunto aonde eu errei. Chego no prédio, estaciono o carro na vaga reservada e caminho até o elevador. Enquanto o elevador vai subindo, me encaro no espelho com os pensamentos perdidos. Chego no 8º andar, entro no apartamento e finalmente a solidão me atinge. Ligo a tv e me perco assistindo algo aleatório que passa. Ja são quase 22h e nem sinal de Vicente, então decido ir dormir.
Evito mandar mensagem por não querer parecer uma perseguidora na frente dos sócios dele, não quero que eles tenham essa imagem de nós. Vicente é sócio administrativo em uma construtora, então sou sempre muito preocupada com os detalhes, até os nossos amigos sempre me dizem achar nossa vida perfeita. Eu realmente me esforço pra isso, aprendi a gostar do controle da situação. Mas era muito cansativo.
Começo a ler um livro para passar o tempo, mas logo me canso de esperar por ele e adormeço.

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