12 - Reviver ou renascer?

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Abri os olhos, mas mal vejo. Meus olhos estão cheios de lágrimas e eu ainda estou gritando. Parece que estive presa em um sonho, mas eu não queria acordar. Estava tão em paz, que senti que estava sendo arrancada de dentro do útero da minha mãe novamente. Em cima de mim um homem com luvas e máscara, segurando o que parece um desfibrilador. Então era isso a dor forte que senti no peito. Mas por que estão em cima de mim?

- Por favor, para! Me deixa em paz! Socorro!

Gritava, mas ninguém ouvia. Ele continuava verificando meus pulsos, e quando ele ia colocar de novo aquele aparelho agressivo em mim, a máquina que media meu pulso voltou a apitar para pulsação normal. O que está havendo comigo? Como vim para aqui? Ouço vozes conversando, mas não as reconheço.

- A pulsação voltou ao normal, vamos deixar ela descansar. Ela ja passou por uma cirurgia muito delicada, não vamos cobrar muito da paciente por hoje.

Paciente?

- Sim, Dr. Antes que eu me esqueça, a família está ainda la fora pedindo por noticias, querem ver a paciente a qualquer custo.
- Eu entendo a apreensão da família, mas ela ainda está muito instável. Libere apenas 3 pessoas próximas, e individualmente. Se caso os batimentos voltarem a ficar irregulares, encerre a visita e deixe a paciente descansar.

Cirurgia? O que aconteceu? Por que ninguém me ouve?

- É normal que a paciente esteja inconsciente ainda?
- Sim, o trauma foi grande. É normal que ela perca a memória temporária também. Mas não vamos nos precipitar, cada dia será uma nova vitória. Tudo vai depender de como o corpo irá reagir a tudo isso. Bom, preciso visitar outros pacientes agora, volto ao fim da ronda para checar como ela está. Cuide bem dela!
- Sim, pode deixar Dr.

Aquela conversa me deixou mais confusa ainda, eu não lembro do que estava fazendo antes de vir para aqui. Não consigo me lembrar de nada exatamente, apenas vagas certezas de quem eu sou. A conversa foi ficando mais baixa, até que eu ouvi abrir e fechar a porta. E agora um silêncio. Estou sozinha de novo. Começo a imaginar que possa ter sofrido um acidente, mas como? E onde? Tento refazer os passos, como quando esqueço onde guardei algo, mas o problema é que não consigo definir uma última memória. Tudo é tão vago. Mas provavelmente eu sofri sim um acidente. E deve ter sido grave, pois estou deitada em uma sala de UTI.

O que parece uma eternidade depois, voltam a entrar na sala, mas agora é uma senhora. Ela parece tão familiar, que me traz segurança. Ela começa a mexer em algo em mim, e começo a ficar confusa de novo.

- Oi menina, como você está? Soube que cirurgia foi um sucesso! Agora vamos trabalhar juntas na sua recuperação, ta bem?

Ela sabia que eu não iria responder, então continuou.

- Agora vou levar você para o seu quarto novamente, e lá você vai se sentir melhor. Tenho certeza, pois tem uma vista maravilhosa da cidade. Aqui é tudo branco, não é minha menina?

Ela foi narrando cada detalhe que fazia, e como mágica, meus batimentos foram normalizando. Acredito que algumas pessoas possuem o dom do cuidado, pois ela me trazia uma paz imensa. Senti ela me empurrando pelos corredores, até chegar em um quarto cor de pêssego muito bem decorado. Ela chamou outro colega, e assim me transportaram para a nova cama. Ah... que maravilha. Muito mais confortável agora. Ela organizou tudo a minha volta, e continuou narrando tudo. Ao fim, ela segurou forte na minha mão.

- Eu sei que você deve estar entediada, mas fique tranquila que logo você estará solta por ai. Até logo, meu bem.

Eu senti uma lágrima escorrer quando ela deixou o quarto e fechou a porta. Não sei explicar, mas ser tratada com ternura sempre mexia muito comigo.

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