Conforme a adrenalina vai passando, vou me sentindo uma idiota. Ah não, melhor! Uma adolescente idiota. É isso. Como que eu passei de uma senhora respeitada, pra uma adolescente brigando com o seu namoradinho de semanas? É o meu fim, só pode.
No caminho para o Hotel, penso em ir direto ao quarto da Sheila e ver se o Pedro está lá, ou colocá-la contra a parede e resolver isso. Mas do que iria adiantar? O que eu to querendo provar, afinal? E se eu tiver certa, sobre qualquer um dos dois, o que realmente eu vou ganhar com isso? Começo a imaginar eu de frente com os dois, e em todas as possibilidades, eu continuo parecendo uma adolescente <idiota/> e deslocada. Eles que tem uma história mais antiga que se entendam. E se for pra ser, com quer que seja, será sem eu ter que me humilhar pra isso. Então quando chego, saio do carro, vou direto ao meu quarto no piloto automático, entro e tranco a porta. Tiro toda a minha roupa no caminho até o banheiro, ligo a banheira e entro mesmo ainda estando quase vazia. Sento em um canto e começo a chorar. Um choro pesado, arrancado. Onde está a felicidade que eu procuro? — fico pensando. Achei que tivesse ganho uma segunda chance, mas a verdade é que pela segunda vez eu me anulei pelos outros. A dor vai apertando meu estômago, e sinto tudo revirar dentro de mim. Um enjôo forte, mas tento controlar. Penso ser a água da banheira, que ja havia enchido 3/4 enquanto eu chorava. Desligo o registro, respiro fundo e controlo a ânsia. Os olhos ainda vêem tudo girando. Então os fecho, e decido que vou sair desse resort ainda nessa madrugada, sem avisar pra ninguém. Pego todas as minhas coisas espalhadas pelo quarto e vou rezando pra não esquecer nada pra trás. Ainda tenho acessos de choro, mas sinceramente já não sei mais por qual dos motivos.
Provavelmente por todos.
No caminho pra casa preciso parar o carro algumas vezes pra vomitar. Acho que estou tão triste que meu corpo está reagindo a tudo isso. Quando chego em casa vou direto pra cama, tomo um remédio e choro até apagar.
Acordo com muita dor de cabeça, do choro e de ter dormido tanto. Já é de noite outra vez e percebo que eu dormi o dia inteiro. Vou para o banheiro e me assusto com o que vejo no espelho: Olhos inchados, pálida, cansada, sem graça.
Como vou esconder essas olheiras e esse inchaço — penso e quase rio. Percebo que o que me fez desabar na noite passada não foi o Pedro, ou a história de amor e traumas que eu já estava criando na minha mente. Percebo que foi sobre a última gota que faltava cair pra eu transbordar. A verdade é que eu chorei pelo Vicente, e por nosso casamento falido. Chorei por ele não ter lutado mais pra me ter de volta, vindo pessoalmente, e não se esconder atrás de ligações e mensagens. Também chorei por não fazer o que amo e me por me contentar com um emprego seguro. Chorei por que não me permito, e por que não vivo sem me preocupar com o depois. Tudo eu preciso ter certeza, tudo a minha mente precisa controlar os danos e planejar um futuro. Eu já tenho 28 anos e mesmo tendo seguido tudo o que é "seguro", ainda não encontrei o meu caminho. Quando será que eu vou encontrar? Será que valeu ser uma "boa menina"? Se agora, tudo o que eu construí já não faz mais sentido pra mim.
Por um lado, até achei excitante tentar resolver esse nó que virou a minha vida. Qual é, estava à anos em uma relação falida, parada, fenos rolando pelo deserto. E agora, bum! Uma novela mexicana. E pelo outro lado, claro, estou revoltada com a situação toda, e me sentindo enganada por todos.
Eu sei que minha cabeça está confusa, e sinto que depois que me separei de Vicente tudo ficou estranho. Desde quando sai de casa que eu tento não pensar muito sobre o divórcio. Segui minha vida e me mantive socialmente ativa também, tudo em prol da superação. Mas confesso que me sinto carente, mas pensar no que era nossa rotina, sinto um arrepio gelado nas costas. <Solidão a dois./> Mas existia amor, vivemos tantas coisas juntos. Agora estamos tanto tempo afastados, e ele continua se recusando a assinar o divórcio, mas também não me procura. Realmente não sei o que ele quer de mim. O que eu sou pra ele.Um fantoche pelo visto.
E agora tinha Pedro. Que fazia eu me sentir... diferente. Que me pegava com firmeza e fazia eu me sentir desejada de novo. Mas parece tão errado. Com ele, vieram tantos problemas. Eu tenho evitado contato desde a festa, e ainda não sei se quero vê-lo outra vez. Ele também não ligou e nem deu notícias. Mesmo estando envolvido com a Sheila ou não, essa história ja me trouxe muito mais sofrimento do que eu estou precisando agora e preciso cuidar da minha saúde mental.
Estava me sentindo sufocada por tudo, uma dor no peito me fazia carregar uma melancolia comigo por onde eu fosse. Eu preciso me curar, antes de me envolver com qualquer pessoa.~~~~~~~~ 🦋
Os dias vão passando e quando percebo, a semana já se foi e o dia do meu aniversário me alcança. Parabéns pra mim! :@ os 29 anos chegaram.
Olho o celular, e já tem algumas notificações de parabéns, mamãe e Helô com certeza mandaram textão, como de costume. Resolvo que hoje é meu dia e nada vai me deixar triste. Então crio coragem e vou para a minha cafeteria favorita.
Durante o caminho vou pedindo pra Deus proteção e muita resiliência nesse novo ciclo. Gosto de conversar com ele e me abrir de verdade, é como uma terapia pra mim. E ultimamente ando conversando tanto, pedindo tantos conselhos. É como se nesse tempo de fundo do poço, eu tenha me aproximado ainda mais de Deus, e encontrado muito conforto nele.
Aproveitei essa viagem cancelada pra curtir esses dias de férias sozinha, e esvaziar minha mente dos meus problemas. No fim, acabou trazendo uma experiência única pra mim, e me tornou um pouco mais grata também.
Chegando lá, escolho o menu de sempre <torradas/ café grande com leite/ suco de laranja/> e vou sentar na minha mesa favorita, bem ao fundo.
Eu fecho os olhos, assopro o café para fazer um pedido, como se fosse meu bolo de aniversário. E então sinto um arrepio, e depois escuto uma voz atrás de mim.- Se você não tivesse tão chateada comigo, qual seria a chance de eu ser parte desse desejo?
Um frio percorre o meu corpo enquanto me viro rapidamente, e meus olhos fixam nos olhos dele. Meu coração acelera, e as mãos ficam soadas.
- Vicente? — digo assustada, mas um sorriso escapa.
- Feliz aniversário, Lu! Não tinha certeza que te encontraria aqui hoje, mas quis arriscar. — e me olha com um olhar que eu não via à anos. Era sedutor.
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ChickLitLuisa, recém-divorciada e em busca de um recomeço, vê seu coração balançar entre Pedro, um homem misterioso com segredos obscuros, e Vicente, seu ex-marido que reaparece após um acidente trágico. Enquanto tenta desvendar os mistérios do passado e li...