13 - Recomeços

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O dia ja começou cedo, pois eu mal dormi. Estou tão ansiosa para sair do hospital. Fico imaginando quem irá me ver, ou se preocupar. Estou todo esse tempo longe do trabalho, deve ter uma pilha enorme de documentos para analisar. Perdi quase metade das minhas férias aqui trancada me recuperando.

Eu ganhei uma nova vida, o que vou fazer dela agora? Definitivamente preciso tomar as rédeas e assumir o leme desse barco. E pensar que ele quase afundou... sinto até um arrepio de imaginar.

Estou indo para o meu lar, nem acredito! Nos primeiros dias vou precisar de cuidados intensivos, mas o médico disse que conforme eu for me adaptando a nova vida, vou ficar mais independente. Sou extremamente grata por ter a minha mãe, pois ela foi essencial tanto para o meu corpo quanto para a minha mente. Essa experiência nos uniu de uma forma que jamais imaginei. Nos tornamos novamente amigas, depois de nos afastarmos tanto.

É isso, que comece os recomeços!

Chegar em casa depois de tanto tempo, é estranho e ao mesmo tempo reconfortante. Mamãe foi pra casa pegar algumas roupas limpas e prometeu passar no mercado antes de voltar. Então cá estou, sozinha, e sentada na minha sala. A mente vai para o meu aniversário, e tudo começa a voltar fresquinho na minha mente. Logo ja afasto esses pensamentos, Vicente ainda é um problema do qual preciso resolver. Mas agora, ele ocupa quase o fim da lista.

A primeira coisa que faço é avisar Helô, que promete vir jantar connosco nesta noite. Deus sabe como preciso da minha amiga. Espero que tenhamos oportunidade de conversar mais sobre a vida, e menos sobre minha condição física. Estou cansada de falar sempre sobre a mesma coisa. Isso não vai fazer eu me recuperar mais rápido, e é chato demais.

Tento levantar sozinha para entrar na minha banheira, mas ainda sinto dores pelo corpo. A minha sorte foi as fraturas terem sido superficiais, apenas rachaduras. Se tivesse tive alguma fratura exposta, nem sei se estaria em casa agora. Bom, tudo foi do melhor jeito possível, para... estar viva. Que experiência. Me sinto outra Luisa.

Minha mãe chega cheia de sacolas, e com um buquê com algumas rosas vermelhas. Quero ajudar, mas nem consegui ainda levantar do sofá onde ela me deixou mais cedo.

- Nem tente levantar, Luisa. Você ainda está fraca, meu amor.
- Ta bem, ta bem! — digo levantando as mãos no ar. — Mas que rosas são essas? Hein?
- São para a senhorita — me olhou com olhos julgares — mas não abri a mensagem.
- Quem seria? Vicente?
- Vamos ver, deixa eu ver onde coloquei o envelope... humm aqui está. — disse me entregando.

Fiquei parada olhando aquele envelope pequeno, era um rose envelhecido e o selo dourado. Parecia uma carta daquelas de época, em que derretem a cera e carimbam. O selo tinha arestas com flores. Que delicado, não tem muito haver com as flores que Vicente costumava mandar em datas específicas. Normalmente era um envelope branco, e no bilhete sempre escrito "Com amor, Vicente " e a data. Sempre limpo e direto. Combinava mais com ele. Mas esse era diferente... não sei se deveria. Meu coração acelera, será dele? Pedro.

- Vai menina, abra logo! Estou mais curiosa que você minha filha. Isso não tem cara de Vicente não, ja digo logo.

Ela também ja tinha percebido isso, o que me deixou mais nervosa ainda.

- É por isso mesmo, mãe! Não tenho coragem.
- Você já imagina de quem é, certo? Seja sincera com sua mãe. Eu sou a pessoa que mais te ama e te conhece nesse mundo meu amor.

Ja sei que estou ficando toda corada, provavelmente agora será a hora.

- Senta aqui comigo, antes quero te contar algumas coisas que aconteceram comigo.
- Ai meus Deus, ta bem. Conta, minha menina.

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