03 - O amor que eu procurava.

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Estou quase chegando em casa quando o telefone toca... não vou olhar. Provavelmente Vicente não levou em consideração nada do que eu disse, e vai me tratar como louca. Não. Por hoje não.
Mais tarde quando já estou na cama pronta pra dormir, pego o celular e vejo a chamada perdida... caramba! Não era Vicente! Esqueci da Helô!
Ou ela que esqueceu de mim né.
Retorno a ligação pra avisar que estou bem e segura em casa.
O telefone toca... toca... e cai na caixa postal. Eita, o que está acontecendo?
Na quarta tentativa, começo a entrar em pânico.
Recebo uma mensagem no Whatsapp.

Helô: Amig cad vc n to bem
Luisa: Me espera na frente do bar, estou indo te buscar
Helô: Uhmmm - digitando tudo errado desse jeito, deve estar bem alterada.

Coloco o vestido de renda que estava por cima da mala e saio correndo. Sim, ainda não desfiz a mala. Não que eu esteja com dúvidas, só me faltou força pra isso, e a casa anda bagunçada. A casa e eu.
No caminho vou me culpando por ter deixado ela la, por não ter nem enviado uma mensagem. Estava tão nervosa em ver Vicente, depois aquele climão com o Pedro, e aí a namorada dele aparecendo logo em seguida. Jesus, quanta coisa anda acontecendo por aqui hein.
Chego no bar, e pra ajudar, a Helô não está na frente. Será que vou ter que entrar de novo? Pra minha sorte, a festa ja esta quase vazia, então não fica tão difícil. Procuro logo uma vaga pra deixar o carro, e vou atrás dela.

- Luuu!!! — uma voz feminina grita, e eu do a volta em mim mesma procurando de onde vem.

Em uma mesa bem no fundo do bar, está ela. Graças à Deus!

- Amiga, você está aí! Vem que eu vou te levar pra minha casa, vou cuidar de você. Desculpe ter ido sem você. — digo ja segurando ela, e colocando um braço em volta do meu pescoço pra ela se apoiar.
- Hmmm sim, te perdoou sim — ela para um pouco, e eu sigo no ritmo dela — não to bem Luisa.
- Eu estou vendo, parece que alguém se empolgou por aqui — do uma risada pra não parecer uma bronca, mas fiquei realmente preocupada em ver ela assim.
- Eu odeio minha vida, odeio todo mundo. — logo se arrepende — não odeio você amiga, eu te amo.
- Vamos rir juntas amanhã, tenho certeza disso.

Antes de sair, eu olho pra trás, talvez esperando ver Pedro de novo. Claro que não o vejo, e sinto um vazio, como se precisasse olhar só mais um pouquinho pra ele. Que estranho!
Chegamos em casa, ajudo Helô a tomar banho e empresto uma roupa minha pra ela ficar mais confortável. Ela deita do meu lado, e em instantes ja esta respirando fundo. Amanhã vamos ter muito o que conversar mesmo, ela não chegaria nesse estado se estivesse bem. Fico revirando na cama por algumas horas, e quando vejo um feixe de luz, decido levantar. Preparo um café passado, e vou logo pra varanda. Tanta coisa passa pela minha cabeça, e me sinto apenas existindo. É tão estranho estar sozinha, mesmo que ja me sentia assim naquele apartamento. Algumas lágrimas caem pelo meu rosto, mas não tem um motivo, é o acúmulo. E por ali eu fico.

- Bom dia flor do dia, ja acordada? — Helô me tira dos meus pensamentos.
- Acho que era umas 5h quando levantei, preparei um café, deve estar quente na térmica ainda. — olho no celular, e ja são 10:15h. O tempo tem passado tão depressa ultimamente.
- Quero sim, quer que eu encha sua xícara também?
- Quero amiga, obrigada.

Uns 5min depois ela volta com as duas xícaras de café. Senta no sofá, ao meu lado, e fica olhando pro nada junto comigo. Depois de alguns minutos, Helô quebra o silêncio.

- Ja que você ainda esta assimilando tudo, vou começar por mim, pra ver se te inspiro — fala sorrindo, mas logo muda a expressão quando volta a falar — Ando tão perdida ultimamente amiga, voltei pro Brasil pra juntar os pedaços, e... — fica um tempo elaborando como falar — tentando encontrar onde eu me perdi pelo caminho, sabe?
- Olha pra minha vida agora amiga, eu entendo perfeitamente. — um sorriso escapa, aos poucos estou me acostumando com minha nova realidade.
- Eu achei que sair pelo mundo, me aventurar, não sei, que eu iria fugir dos meus problemas. Mas eles me acompanharam, e eu percebi que eles estavam dentro de mim esse tempo todo. Eu estava tão focada na minha carreira, e não me arrependo disso, por que vivi tanta coisa boa. O problema é que eu nem me dei conta da vida vazia que levava. Festas e afters já não me completam mais, acho que quero sossegar. Encontrar alguém pra dividir a vida. — ela fica em silêncio mais um pouco — Acho que eu nem deveria estar falando disso pra você, que está no sentido completamente inverso, mas nós sempre tivemos uma sintonia tão grande, e eu sempre te admirei tanto... eu te liguei aquele dia pra pedir conselhos, e estamos aqui.
- Eu que te admiro, Helô! Você é basicamente a definição de liberdade pra mim, não se sinta culpada pelo que viveu pra trás. Não vai ser difícil pra você encontrar alguém que queira dividir a vida contigo!
- Você sabe que esse conselho serve pra você também, né?
- Eu espero que sim, Helô. Não quero desistir do amor.

Ela coloca a cabeça no meu ombro, e eu fico em silêncio pensando no que dizer.
Passamos o dia juntas, colocamos todo o papo em dia. Eu fiquei muito em dúvida se falava de Pedro... não aconteceu nada também, né? O que eu falaria? Tivemos uma troca de olhares profunda? Duas. E ai lembro da namorada, e pronto, a nuvenzinha dos pensamentos se dissipa de cima de mim. Deus me livre de mais um problema.

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Passo o domingo desfazendo as malas. Ter conversado e colocado tudo pra fora, me fez entender melhor o que eu estava sentido. Me sinto até mais leve. Hoje quando acordei, senti logo um incomodo com essa bagunça e sai arrumando tudo. Não sei se associo toda essa energia com tirar todos aqueles pesos que eu estava guardando, mas funcionou. Nem durmo pela tarde, como costumo fazer nos fins de semana. Logo escurece e eu vou dormir.
As 7h eu ja estava vestida tomando café na cozinha, matando tempo por que acordei cedo demais. Estou ansiosa de uma forma positiva, acordei disposta e não quero perder isso.
A segunda semana como divorciada já não foi tão difícil, hoje eu conversei com algumas meninas da agência e até me colocaram em um grupo que eles tem de solteiras que saem juntas. Quem diria eu socializando, com o pessoal da agência. Eles não eram tão insuportáveis afinal. - risos internos, paguei a língua.
Elas tem um ritual de sair na última quinta do mês pra algum restaurante ou barzinho juntas, e me chamaram pra ir também. Estou na vibe de dizer sim, então aceito o convite. O que eu faria em casa também, né? Quintou.

Saio de casa decidida a beijar na boca. Fodase o que vão pensar, julgar, tanto faz. Ja estou separada, vivendo sozinha, e preciso de uma distração pra minha mente. Não aguento mais pensar em Vicente, e ficar me questionando se estou no caminho certo. Coloco um salto vermelho, meu melhor vestido preto e meu conjunto de lingerie vermelho favorito. Estou oficialmente aberta a novidades nessa noite.
Primeira parada foi em um restaurante japonês no centro do Rio, elas querem fazer um esquenta antes e de lá escolhemos pra onde vamos ir. Todo dia é dia no Rio de Janeiro. Fomos super bem atendidas e a comida veio rápido. Em um momento o garçom se aproximou de nós, e perguntou se poderia servir um frisante a nós, como cortesia do chefe. Hmmm, claro que aceitamos! Que chefe cavalheiro, todas comentaram.

- O Chefe me pediu pra entregar esse bilhete pra você — disse o garçom colocando discretamente um papel ao lado do meu prato.

Hmm suspeito. Sabia que não seria de graça. Abro bem discreta, com um pouco de vergonha por ter sido notada.

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Quanto mais pra longe você foge,
mais pra perto o destino te trás.
Tenho um par de brincos de pérolas, gostaria
de uma oportunidade pra devolver a dona.

Com carinho, seu admirador secreto.
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Instintivamente eu olho em direção à cozinha pra ver se vejo quem é, mas não tem ninguém além dos garçons. Mas o que ele quis dizer com fugir? Quem é ele?
Guardo o papel rápido pra não ter que dar muitas explicações, nem eu entendi ainda. Peço licença, e vou ao banheiro.
Um brinco? O que eu fiz que não lembro... eu hein.
Provavelmente é alguma cantada que usam hoje em dia, preciso me atualizar.
<Será uma brincadeira do Vicente? Ele anda me seguindo?/>
Ou será um homem que ficou interessado em mim? Aí ai Luisa, diga sim pro universo!
Provavelmente não é Vicente, e fiquei bem curiosa pra descobrir quem é. Tenho uma ideia do que fazer pra descobrir, e volto rapidinho pra mesa.

- E então meninas, pra onde vamos depois? — chego perguntando, e elas começam a falar alguns lugares. Quase desisto do meu plano, de tão confusa que elas estão.

Por fim, escolhemos uma balada perto da praia e eu vou colocar meu plano em prática. Chamo o garçom que me trouxe o bilhete e peço uma caneta emprestada. Escrevo uma resposta atrás do bilhete e entrego pra ser devolvido assim que estamos saindo do restaurante.

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Não me recordo de ter perdido eles, mas você pode me devolver hoje!
Estarei na balada Morningstar, serei a mulher de vestido preto.
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Agora não tem mais volta, já estou a caminho da festa. Chegamos e eu já fui logo pegar um drink, quero relaxar. Uma... duas... três margueritas... e eu já estava ficando soltinha. Dançando... conversando... rindo.
Me afasto pela primeira vez das meninas pra ir ao banheiro, uma fila imensa claro... ainda bem que todas são rápidas e a minha vez não demora tanto como imaginei.
Saio do banheiro, e estava passando pelo corredor com a cabeça baixa, desviando das pessoas, até que...

- Achei você! Vai fugir de novo? — diz rindo. Que sorriso!
- Então... então era você? — mãos suadas, coração acelerado, e a boca seca. Socorro! É o Pedro!

PROCURANDOOnde histórias criam vida. Descubra agora